De Olho na Mídia

 
10.02.2004  
   

UFRJ deve ter cota de 20% no próximo vestibular
Proposta da reitoria é reservar vagas para estudantes das escolas públicas, mas não inclui afrodescendentes

Seis meses depois de Aloísio Teixeira ter anunciado a intenção de mudar o vestibular da UFRJU, a reitoria já tem pronta sua proposta para o próximo concurso: reservar 20% das vagas para alunos que cursaram pelo menos o ensino médio em escolas públicas. O projeto, que será apreciado a partir de março nas unidades, nos centros e nos colegiados, não inclui a cota para negros e foi baseado num estudo do professor Maurício Luz, do Colégio de Aplicação, e de Aníbal Teles, do Núcleo de Computação Eletrônica da instituição.
- Não entramos na questão racial. É uma proposta com base científica. Verificamos que, se implantarmos a reserva nesses moldes, vamos conseguir diminuir o nível de renda dos aprovados, sem risco de perder a qualidade acadêmica. Estamos otimistas de que o projeto pode estar aprovado até junho, antes de sair o edital para o vestibular – afirma o pró-reitor de graduação da UFRJ, José Roberto Meyer.

Critério de renda está fora da proposta
Pela proposta, só não entrarão no sistema de reserva os cursos que já tiverem pelo menos 50% dos estudantes vindos de escolas públicas. O critério de renda familiar, que foi implantado na atual lei de cotas da Uerj, também foi descartado pela reitoria com a alegação de que a instituição teria dificuldades para comprovar os dados dos vestibulandos. O projeto já causa reações:
- Defendemos as cotas raciais, mas estamos apoiando a reserva para alunos de escola pública na UFRJ para que haja comparação com o sistema da Uerj. Só somos contra uma proposta que não inclui um filtro de renda. Sem isso, o perfil da universidade não vai mudar – comenta frei David dos Santos, coordenador da ONG Educafro.
Os detalhes do estudo da UFRJ só serão apresentados em março, mas o professor Maurício Luz explica que, durante o ano de 2003, verificou-se que o rendimento dos estudantes que passaram nos primeiros lugares no vestibular foi muito semelhante aos dos que passaram nas últimas colocações. E as notas dos alunos da rede pública que ficaram perto de uma vaga eram, em média, bem parecidas com as dos últimos classificados vindos das escolas particulares.
- Em algumas áreas, como medicina, por exemplo, chegamos a casos de alunos de escolas públicas que tiraram notas maiores do que os de particulares nas disciplinas específicas, mas acabaram eliminados na média final. – conta Luz.
Outro ponto que gera polêmica na proposta da reitoria da UFRJ é que alunos de escolas de excelência da rede pública como os colégios de aplicação e Pedro II não foram excluídos da reserva.
- Apesar de estarem mudando seus critérios de solução para sorteios, esses colégios não excluem os alunos vindos de escolas particulares e ainda tem um perfil elitizado - critica o coordenador do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm) e professor da UFF, Jaílson de Souza e Silva.
Motivo de preocupação na Uerj, a manutenção dos alunos que chegarem pela reserva é, de acordo com o pró-reitor José Roberto Meyer, ponto-chave para o projeto ser bem-sucedido. Segundo ele, este ano já foram aprovadas mais de 500 bolsas-auxílio para alunos carentes do alojamento da Ilha do Fundão:
- Sabemos que sem esse apoio não adianta criar um sistema de reserva de vagas.
Representante do MEC no Rio, William Campos, diz que a proposta pode até servir de modelo para as universidades federais do estado, mas teme que a UFRJ aja isoladamente:
- Já temos uma comissão de cotas envolvendo várias instituições e esperamos que a UFRJ esteja presente nas discussões.

Publicado em O Globo, editoria Rio, página 37
Rio de Janeiro, 08 de fevereiro, domingo.

 

 

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