UFRJ deve ter cota de 20% no próximo vestibular
Proposta da reitoria é reservar vagas para estudantes
das escolas públicas, mas não inclui afrodescendentes
Seis meses depois de Aloísio Teixeira ter anunciado a intenção
de mudar o vestibular da UFRJU, a reitoria já tem pronta
sua proposta para o próximo concurso: reservar 20% das vagas
para alunos que cursaram pelo menos o ensino médio em escolas
públicas. O projeto, que será apreciado a partir de
março nas unidades, nos centros e nos colegiados, não
inclui a cota para negros e foi baseado num estudo do professor
Maurício Luz, do Colégio de Aplicação,
e de Aníbal Teles, do Núcleo de Computação
Eletrônica da instituição.
- Não entramos na questão racial. É uma proposta
com base científica. Verificamos que, se implantarmos a reserva
nesses moldes, vamos conseguir diminuir o nível de renda
dos aprovados, sem risco de perder a qualidade acadêmica.
Estamos otimistas de que o projeto pode estar aprovado até
junho, antes de sair o edital para o vestibular – afirma o
pró-reitor de graduação da UFRJ, José
Roberto Meyer.
Critério
de renda está fora da proposta
Pela proposta,
só não entrarão no sistema de reserva os cursos
que já tiverem pelo menos 50% dos estudantes vindos de escolas
públicas. O critério de renda familiar, que foi implantado
na atual lei de cotas da Uerj, também foi descartado pela
reitoria com a alegação de que a instituição
teria dificuldades para comprovar os dados dos vestibulandos. O
projeto já causa reações:
- Defendemos as cotas raciais, mas estamos apoiando a reserva para
alunos de escola pública na UFRJ para que haja comparação
com o sistema da Uerj. Só somos contra uma proposta que não
inclui um filtro de renda. Sem isso, o perfil da universidade não
vai mudar – comenta frei David dos Santos, coordenador da
ONG Educafro.
Os detalhes do estudo da UFRJ só serão apresentados
em março, mas o professor Maurício Luz explica que,
durante o ano de 2003, verificou-se que o rendimento dos estudantes
que passaram nos primeiros lugares no vestibular foi muito semelhante
aos dos que passaram nas últimas colocações.
E as notas dos alunos da rede pública que ficaram perto de
uma vaga eram, em média, bem parecidas com as dos últimos
classificados vindos das escolas particulares.
- Em algumas áreas, como medicina, por exemplo, chegamos
a casos de alunos de escolas públicas que tiraram notas maiores
do que os de particulares nas disciplinas específicas, mas
acabaram eliminados na média final. – conta Luz.
Outro ponto que gera polêmica na proposta da reitoria da UFRJ
é que alunos de escolas de excelência da rede pública
como os colégios de aplicação e Pedro II não
foram excluídos da reserva.
- Apesar de estarem mudando seus critérios
de solução para sorteios, esses colégios não
excluem os alunos vindos de escolas particulares e ainda tem um
perfil elitizado - critica o coordenador do Centro de Estudos e
Ações Solidárias da Maré (Ceasm) e professor
da UFF, Jaílson de Souza e Silva.
Motivo de preocupação na Uerj, a manutenção
dos alunos que chegarem pela reserva é, de acordo com o pró-reitor
José Roberto Meyer, ponto-chave para o projeto ser bem-sucedido.
Segundo ele, este ano já foram aprovadas mais de 500 bolsas-auxílio
para alunos carentes do alojamento da Ilha do Fundão:
- Sabemos que sem esse apoio não adianta criar um sistema
de reserva de vagas.
Representante do MEC no Rio, William Campos, diz que a proposta
pode até servir de modelo para as universidades federais
do estado, mas teme que a UFRJ aja isoladamente:
- Já temos uma comissão de cotas envolvendo várias
instituições e esperamos que a UFRJ esteja presente
nas discussões.
Publicado
em O Globo, editoria Rio, página 37
Rio de Janeiro, 08 de fevereiro, domingo.
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