Dinossauro
do MA coroa 50 anos de pesquisa
Rio
de Janeiro - Treze anos depois de ter tropeçado num osso
fossilizado, às margens do Rio Itapecuru, em uma escavação
ao norte do Maranhão, o paleontólogo aposentado Cândido
Simões Ferreira, de 84 anos, acompanhou ontem, emocionado,
a apresentação do resultado final da descoberta: a
réplica do Amazonsaurus maranhensis, mais antigo saurópode
achado no Brasil e prova de que a região amazônica
foi habitada por dinossauros. Foi em uma das vértebras do
réptil que Ferreira topou, em novembro de 1990, quando chefiava
uma expedição de pesquisadores da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Nacional de Comahue,
na Argentina.
"Na
hora, quando tropecei, disse uma palavra muito feia", lembrou
o professor aposentado do Departamento de Vertebrados do Museu Nacional
da UFRJ, comovido, durante a divulgação da descoberta,
no Departamento de Geologia da universidade. Ferreira já
fazia explorações na Região Norte havia quase
50 anos quando achou o primeiro dos cem fragmentos recolhidos, que
têm cerca de 110 milhões de anos.
Concluído
o trabalho de campo, em 1996, os pesquisadores brasileiros Ismar
de Souza Carvalho e Leonardo dos Santos Avilla e o argentino Leonardo
Salgado descobriram que os fósseis eram de um novo gênero
da família dos saurópodes. Os ossos encontrados em
Itapecuru são de um réptil vegetariano, com cerca
de 10 metros de comprimento e 10 toneladas - um dos menores da espécie.
Características
"Ele era muito leve para o tamanho. Há informações,
ainda não comprovadas, de que ficava apoiado nas patas traseiras
para alcançar a copa das árvores. Os ossos são
grandes, mas cheios de cavidades. Pode ser uma estrutura adaptativa
para flutuar na água, mas isso precisa ser pesquisado",
disse Avilla.
Na escavação,
foram encontrados ainda escamas e dentes de peixes e um dente de
dinossauro carnívoro. Para Carvalho, isso indica que a região
deve ter sido habitada por outras espécies de répteis
gigantes. "Com certeza, nos próximos anos vão
surgir muitos outros relatos de fósseis de dinossauros na
área."
A expedição,
que a partir de 1991 passou a receber verba da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj),
também ajudou a quebrar o mito de que na região amazônica
não seria possível fazer grandes descobertas paleontológicas,
em decorrência da erosão causada pelas chuvas.
Karine Rodrigues
O Estado de São Paulo - Geral
Publicado em 16 de janeiro de 2003
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