Rastros
de Sangue
Genérico de produto americano, o luminol brasileiro ajuda
a elucidar crimes no Rio
Um
dos vários mistérios do assassinato dos americanos
Zera Todd, presidente da Shell no Brasil, e sua mulher, Michelle
Staheli, ocorrido duas semanas atrás no Rio de Janeiro, foi
resolvido com um produto digno de série de ficção
científica na TV. Um reagente químico comprovou que
o machado de decoração da família não
foi usado no crime. Mesmo se o assassino tivesse lavado a arma,
não haveria como esconder o vestígio de sangue. A
certeza dos peritos criminais se deve ao luminol, um líquido
desenvolvido no Instituto de Química da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ) a partir do original americano, criado
nos anos 60. O genérico brasileiro custa R$300 o litro, contra
R$3 mil do importado.
O luminol já havia sido decisivo na elucidação
do assassinato do comerciante chinês Chan Kim Chang, espancado
até a morte no presídio Ary Franco, em agosto. Até
ser realizado o teste com o luminol, acreditava-se na versão
dos carcereiros - de que o comerciante não havia sido levado
sangrando para a cela. O produto é um líquido feito
a partir de cinco componentes que reagem ao ferro presente na hemoglobina
do sangue. Borrifado na cena do crime, produz uma luz fluorescente,
que só pode ser notada na escuridão, quando em contato
com vestígios de sangue. O brilho da luz lembra o dos bastões
fluorescentes usados pela polícia ou encontrados em festas
de música eletrônica. "Menos de 1 grama de um
dos reagentes, o neóbio, pode iluminar o mundo, e ele é
facilmente encontrável por aqui", diz o químico
Claudio Lopes, coordenador da equipe da UFRJ que fabrica o luminol
brasileiro.
Além do preço, a grande diferença entre a substância
original e o genérico nacional é que o produto brasileiro
é visível a olho nu, desde que o local borrifado seja
escuro e as janelas tenham sido vedadas. Já o importado precisa
de potentes aparelhos eletrônicos para aumentar o poder de
fluorescência. "No Brasil isso não dá certo
porque muitos crimes acontecem em favelas, onde a iluminação
é precária", explica Lopes.
O genérico começou a ser usado em 2001 e já
ajudou a solucionar cerca de 50 casos, todos no Rio. Atualmente,
o laboratório da UFRJ produz 30 litros por mês para
a polícia carioca. Brevemente, o luminol brasileiro será
fabricado em larga escala para outros Estados. Empresas de países
do Mercosul e dos Estados Unidos também demonstraram interesse
na importação. "Uma das inúmeras vantagens
do luminol é que a reação do produto não
altera o DNA, que pode ser analisado posteriormente", aponta
a química Letícia Gomes Ferreira, da equipe de Lopes.
Daniela
Barbi
Revista Época - Pg. 113
Publicado em 14 de dezembro, domingo
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