Poluição
ameaça bacias
98% do esgoto são despejados sem tratamento
As chuvas dos últimos dois meses afastaram o risco de racionamento
de água para o carioca, pelo menos até maio do próximo
ano. Mas vem da terra mesmo a maior ameaça de colapso nas
bacias do rios Paraíba do Sul e Guandu, que abastecem toda
a população da Região Metropolitana do Rio
e quase 90% do Estado. Apenas 2% de todo o esgoto produzido pelos
65 municípios fluminenses que margeiam as duas bacias são
tratados de forma adequada. A região conta com cerca de 5
milhões de habitantes.
Segundo dados dos comitês para integração das
duas bacias, mais de 400 milhões de litros de dejetos in
natura são despejados na região.
- A situação, hoje, ainda é de alerta. Mas
sinais de risco de colapso já vêm aparecendo - alerta
o engenheiro Cláudio Serrichio, diretor-executivo do Comitê
para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio
Paraíba do Sul (Ceivap).
Um dos sinais, como lembrou Cláudio, foi a interrupção
do fornecimento de água em Campos por mais de 20 dias, há
cerca de dois anos. A água, com cheiro forte e gosto ruim,
foi considerada imprópria pela companhia de abastecimento
da cidade por causa do acúmulo de algas tóxicas.
As plantas, de acordo com o engenheiro, se proliferam quando os
rios e lagoas apresentam altos índices de matéria
orgânica.
- Estas algas, por exemplo, dificultam a reação química
no tratamento da água e, em grandes quantidades, liberam
toxina - explicou o engenheiro.
O problema se agrava ainda mais quando estudos de órgãos
como a Coppe (Coordenação de Programas de Pós-Graduação
em Engenharia) da Universidade Federal do Rio de Janeiro apontam
que a recuperação ambiental da região vai levar
20 anos ao custo de investimentos de R$ 4 bilhões - uma média
de R$ 200 milhões por ano.
- O risco hoje é menos da quantidade de água e mais
da qualidade. Há trechos dos rios das duas bacias que são
intratáveis - afirmou o coordenador do laboratório
de Hidrologia da Coppe, Paulo Canedo.
Hoje, segundo Paulo, cada vez mais se gasta com o tratamento da
água e menos com saneamento. Sintoma claro da falta de políticas
públicas ambientais, principalmente na área de recursos
hídricos.
O diretor-executivo da Ceivap lembrou da medida polêmica da
governadora Rosinha Matheus, que reduziu, em agosto, o repasse de
20% para 5% dos royalties do petróleo do Estado para o Fecam
(Fundo Estadual de Conservação Ambiental), uma perda
calculada em aproximadamente R$ 200 milhões anuais.
Marcello
Gazzaneo
Jornal do Brasil - Cidade
Publicado em 01 de dezembro, segunda-feira
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