De Olho na Mídia

 
02.12.2003  
   

Poluição ameaça bacias
98% do esgoto são despejados sem tratamento

As chuvas dos últimos dois meses afastaram o risco de racionamento de água para o carioca, pelo menos até maio do próximo ano. Mas vem da terra mesmo a maior ameaça de colapso nas bacias do rios Paraíba do Sul e Guandu, que abastecem toda a população da Região Metropolitana do Rio e quase 90% do Estado. Apenas 2% de todo o esgoto produzido pelos 65 municípios fluminenses que margeiam as duas bacias são tratados de forma adequada. A região conta com cerca de 5 milhões de habitantes.
Segundo dados dos comitês para integração das duas bacias, mais de 400 milhões de litros de dejetos in natura são despejados na região.
- A situação, hoje, ainda é de alerta. Mas sinais de risco de colapso já vêm aparecendo - alerta o engenheiro Cláudio Serrichio, diretor-executivo do Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap).
Um dos sinais, como lembrou Cláudio, foi a interrupção do fornecimento de água em Campos por mais de 20 dias, há cerca de dois anos. A água, com cheiro forte e gosto ruim, foi considerada imprópria pela companhia de abastecimento da cidade por causa do acúmulo de algas tóxicas.
As plantas, de acordo com o engenheiro, se proliferam quando os rios e lagoas apresentam altos índices de matéria orgânica.
- Estas algas, por exemplo, dificultam a reação química no tratamento da água e, em grandes quantidades, liberam toxina - explicou o engenheiro.
O problema se agrava ainda mais quando estudos de órgãos como a Coppe (Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia) da Universidade Federal do Rio de Janeiro apontam que a recuperação ambiental da região vai levar 20 anos ao custo de investimentos de R$ 4 bilhões - uma média de R$ 200 milhões por ano.
- O risco hoje é menos da quantidade de água e mais da qualidade. Há trechos dos rios das duas bacias que são intratáveis - afirmou o coordenador do laboratório de Hidrologia da Coppe, Paulo Canedo.
Hoje, segundo Paulo, cada vez mais se gasta com o tratamento da água e menos com saneamento. Sintoma claro da falta de políticas públicas ambientais, principalmente na área de recursos hídricos.
O diretor-executivo da Ceivap lembrou da medida polêmica da governadora Rosinha Matheus, que reduziu, em agosto, o repasse de 20% para 5% dos royalties do petróleo do Estado para o Fecam (Fundo Estadual de Conservação Ambiental), uma perda calculada em aproximadamente R$ 200 milhões anuais.

Marcello Gazzaneo
Jornal do Brasil - Cidade
Publicado em 01 de dezembro, segunda-feira

 

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