Olho no Olho

 
28.10.2003  
   

Motivos para comemorar?

Dia 28 de outubro os funcionários públicos celebram o seu dia. Apesar da desejada estabilidade no emprego, os trabalhadores da rede pública têm muito a reclamar, desde os salários “congelados” até as condições de trabalho. Por isso, o “Olhar Virtual” lança a questão: Há motivos para os servidores comemorarem a data de hoje?

 
       

Roberto Gambine
Superintendente Geral de
Pró Reitoria Pessoal da UFRJ


"No dia 24 de outubro, realiza-mos uma reunião com 200 dos nossos servidores aposentados. Pu-de observar o a-mor com que aquelas pessoas se dirigiam ao salão, uns pe-lo prazer de rever antigos amigos, outros recordando seus tempos de labor na Reitoria, tantos demonstrando a satisfação de voltar à instituição, todos expres-sando o sentimento de companhei-rismo e solidariedade que só algumas categorias profissionais têm o orgulho e o prazer de sentir. Assim, vale a pena, e muito, ingressar na carreira pública. Mas não é uma tarefa fácil.
Nos últimos tempos, nós fomos e somos vítimas dos ataques oficiais, que quase sempre nos colocam em choque com a população e acabam por justificar atos governamentais injustos. Sofremos também com a falta de recursos mínimos para realizar nossas atividades; da tinta da impressora à bobina da máquina de calcular, conseqüência do enxu-gamento do financiamento público. Além disso, os salários e benefícios estão ‘congelados’ e as decisões judiciais não são cumpridas, nos levando a buscar o "auxílio" dos empréstimos oficiais e oficiosos, na luta de manter minimamente os padrões de vida que construímos.
Esse quadro forja em cada um de nós uma capacidade de enfrentar dificuldades, construir resistências e a certeza de que vamos superar cada um dos obstáculos. Ser servi-dor é uma lição de viver, é a pre-servação da memória de um povo, é o compromisso com o passado, pa-ra exercer o presente e construir o futuro."

 

Sara Granemann
Diretora da Adufrj – Associação
dos Docentes da UFRJ


"O funciona-lismo continua importante pela natureza do tra-balho que presta ou que deveria prestar: servir ao público. Porém, considerando os ganhos salariais, as carreiras do serviço público, em geral, não são tão atraentes. Esse achatamento salarial de-corre de quase uma década de políticas que, ao reduzirem a atuação e o tamanho do Estado brasileiro - com as privatizações - também impuseram a degradação das condições de trabalho dos servidores.
Considero ‘vantajoso’ em uma carreira as possibilidades de realização pessoal na profissão e o nível de sossego do trabalhador para o cumprimento de suas necessidades materiais. Em sín-tese, uma carreira vantajosa deve possibilitar aos que a escolheram a satisfação das necessidades do ‘estômago e da fan-tasia’: além do provimento das condições de vida do trabalhador, a escolha profissional deve lhe propiciar realização.
Assim, a carreira docente, com toda a degradação das condições de trabalho, as faltas de verbas para pesquisa e o achatamento salarial imposto às universidades públicas, continua a ser uma vantajem pela oportunidade que nos traz de autonomia intelectual e do livre exercício do pensar. Uma universidade pública nos permite realizar um trabalho sério, além da possibilidade de elaborar pesquisas e dar aulas, sem estar sub-metido aos interesses ime-diatos da mercantilização da vida social."

 
 

 

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