O analfabetismo funcional é a alfabetização
sem letramento
A
definição de alfabetização que a UNESCO
propôs em 1958 fazia referência à capacidade
de ler compreensivamente ou escrever um enunciado curto e simples
relacionado a sua vida diária. Tempos depois, a mesma UNESCO
adotou outra definição, qualificando a alfabetização
de funcional quando suficiente para que os indivíduos possam
inserir-se adequadamente em seu meio, sendo capazes de desempenhar
tarefas em que a leitura, a escrita e o cálculo são
demandados para o seu próprio desenvolvimento e para o desenvolvimento
de sua comunidade. O analfabetismo funcional, portanto, designa
a incapacidade de utilizar, de forma a interpretar correta e completamente,
a leitura e escrita para fins práticos, em contextos cotidianos,
domésticos ou de trabalho.
Pesquisas do IBGE – que medem esse índice levando em
consideração pessoas de 15 anos de idade ou mais,
com o máximo de 3 anos de estudo – mostraram que o
analfabetismo funcional no Brasil permanece com taxas muito altas,
atingindo cerca de 30% da população brasileira.
Para a pesquisadora do Programa de Pós-Graduação
do NUTES/UFRJ, a professora Nilma Lacerda, o analfabetismo funcional
decorre da alfabetização sem letramento, em que as
pessoas aprendem a técnica da escrita e da leitura, e não
desenvolvem uma relação pródiga, produtiva,
com cultura escrita. “Sem serem alimentadas por material impresso,
sem incorporarem às suas vidas a necessidade e o prazer de
escrever – o bilhete para um amigo, uma informação
importante, uma receita que ouviu no rádio ou na televisão
–, elas acabam desaprendendo, empurrando para um canto do
cérebro essa nova competência que não encontrou
lugar na sua vida pessoal e social”, enfatizou Nilma.
A professora credita ser hoje o letramento um conceito primordial
no ensino da leitura e da escrita. E que a solução
para o problema do analfabetismo funcional poderia ser encontrada
no caminho da biblioteca: “É preciso ir além
de alfabetizar, é preciso letrar, atividade muito difícil
de se realizar longe da biblioteca. Biblioteca escolar, biblioteca
municipal, biblioteca da igreja, da casa de um líder comunitário,
da casa do professor – a biblioteca que nasce do desejo da
leitura de um livro, que a professora pode ler em sala, com freqüência”.
Na visão da especialista em literatura, professor que lê
dentro de sala de aula em voz alta, – seja textos literários,
textos jornalísticos ou quaisquer outros – vai estar
fazendo os alunos investigarem sentidos, o que cria a possibilidade
de cada pessoa dar sua opinião e ressignificar o que ouve,
o que lê; atribuindo os sentidos conforme sua vivência.
“Esse professor, essa professora estará criando o conceito
de biblioteca, inserindo seu aluno nas práticas sociais de
leitura e escrita, varrendo das estatísticas brasileiras
o analfabetismo funcional”, ressaltou Lacerda.
[
Leia na íntegra o texto de Nilma Lacerda “Um Saber
Muito Novo”, transmitido pela TVE na Série Brasil Alfabetizado,
no PAINEL DE ARGUMENTOS]
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