Ponto de Vista

 
07.10.2003  
   

O analfabetismo funcional é a alfabetização sem letramento

A definição de alfabetização que a UNESCO propôs em 1958 fazia referência à capacidade de ler compreensivamente ou escrever um enunciado curto e simples relacionado a sua vida diária. Tempos depois, a mesma UNESCO adotou outra definição, qualificando a alfabetização de funcional quando suficiente para que os indivíduos possam inserir-se adequadamente em seu meio, sendo capazes de desempenhar tarefas em que a leitura, a escrita e o cálculo são demandados para o seu próprio desenvolvimento e para o desenvolvimento de sua comunidade. O analfabetismo funcional, portanto, designa a incapacidade de utilizar, de forma a interpretar correta e completamente, a leitura e escrita para fins práticos, em contextos cotidianos, domésticos ou de trabalho.
Pesquisas do IBGE – que medem esse índice levando em consideração pessoas de 15 anos de idade ou mais, com o máximo de 3 anos de estudo – mostraram que o analfabetismo funcional no Brasil permanece com taxas muito altas, atingindo cerca de 30% da população brasileira.
Para a pesquisadora do Programa de Pós-Graduação do NUTES/UFRJ, a professora Nilma Lacerda, o analfabetismo funcional decorre da alfabetização sem letramento, em que as pessoas aprendem a técnica da escrita e da leitura, e não desenvolvem uma relação pródiga, produtiva, com cultura escrita. “Sem serem alimentadas por material impresso, sem incorporarem às suas vidas a necessidade e o prazer de escrever – o bilhete para um amigo, uma informação importante, uma receita que ouviu no rádio ou na televisão –, elas acabam desaprendendo, empurrando para um canto do cérebro essa nova competência que não encontrou lugar na sua vida pessoal e social”, enfatizou Nilma.
A professora credita ser hoje o letramento um conceito primordial no ensino da leitura e da escrita. E que a solução para o problema do analfabetismo funcional poderia ser encontrada no caminho da biblioteca: “É preciso ir além de alfabetizar, é preciso letrar, atividade muito difícil de se realizar longe da biblioteca. Biblioteca escolar, biblioteca municipal, biblioteca da igreja, da casa de um líder comunitário, da casa do professor – a biblioteca que nasce do desejo da leitura de um livro, que a professora pode ler em sala, com freqüência”. Na visão da especialista em literatura, professor que lê dentro de sala de aula em voz alta, – seja textos literários, textos jornalísticos ou quaisquer outros – vai estar fazendo os alunos investigarem sentidos, o que cria a possibilidade de cada pessoa dar sua opinião e ressignificar o que ouve, o que lê; atribuindo os sentidos conforme sua vivência. “Esse professor, essa professora estará criando o conceito de biblioteca, inserindo seu aluno nas práticas sociais de leitura e escrita, varrendo das estatísticas brasileiras o analfabetismo funcional”, ressaltou Lacerda.

[ Leia na íntegra o texto de Nilma Lacerda “Um Saber Muito Novo”, transmitido pela TVE na Série Brasil Alfabetizado, no PAINEL DE ARGUMENTOS]

 

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