Preconceito
racial?
O
feriado de Zumbi está aí e a polêmica sobre
preconceito racial volta à discussão. O Olhar Virtual
foi colher depoimentos sobre o tema. Estima-se que 45% da população
brasileira seja composta por negros. Setenta por cento dos brasileiros
têm alguma presença africana em suas raízes.
Uma questão relevante para toda a sociedade e que vai ser
discutida, nesta edição, por um professor da UFRJ
e uma aluna integrante do movimento negro. |
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Marcelo
Paixão
O professor Marcelo Paixão, do Instituto de Economia
da UFRJ e especialista em estudos sobre negros no Brasil,
avalia que o país se organizou ao longo do século
XX excluindo os negros da possibilidade de inserção
econômica e social igualitária na sociedade.
Paixão apresenta uma projeção do índice
de desenvolvimento humano (IDH): se o Brasil fosse composto
apenas por brancos, o índice estaria no patamar alto,
e a posição em relação aos outros
países seria 46. Já se fosse composto apenas
por negros, o índice seria médio para baixo,
e a posição seria 108. Esses números
revelam a desigualdade existente no país. O professor
acredita que o negro foi naturalizado como pessoa pertencente
a um baixo perfil: tem menores salários, não
entra nas universidades e isso é visto como natural.
“É uma profecia que se cumpre por si mesma”,
diz. Quando perguntado sobre a questão das cotas,
Paixão diz que é uma medida extremada e que
a sociedade deve aceitar a inserção do negro
de uma maneira voluntária. Na avaliação
do professor, é preciso que se coloquem em prática
políticas públicas voltadas para essa parcela
da população e que se incentive que empresas
tenham mais negros no seus quadros de funcionários,
que se valorize a multiculturalismo, que se combata o preconceito
na escola e que o poder judiciário e a polícia
tratam os cidadãos da mesma maneira. O professor
acredita que o governo Lula acertou ao criar a Secretaria
de Promoção da Igualdade Racial (SEPIR), mas
que é necessário mais recursos para área.
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Verônica
Aragão
Verônica
Aragão, aluna da UFRJ, idealizadora do grupo Consciência
Negra, que é formado por moradores do alojamento da
Universidade, acredita que o preconceito racial no Brasil
existe e é velado. “Há uma ideologia de
democracia social, que todos são iguais, mas muitos
colegas sofrem os mais variados tipos de preconceito”,
desabafa. O grupo Consciência Negra foi criado há
dois anos e já promoveu três semanas da consciência
negra. A última delas acontece até esta sexta-feira,
no alojamento, e reúne várias atividades que
promovem a cultura afro. O grupo pretende promover a discussão
das cotas. Verônica é favorável. Para
ela, seria uma maneira de repara uma dívida social
e promover uma melhoria na assistência estudantil, pois
o negro tem menos condições econômicas.
Quando pergun-tamos se é justo promover o feriado de
Zumbi, Verônica diz que sim e justifica ponderando que
existem inúmeros feriados de santos. Na edição
deste ano da semana da consciência negra, o principal
tema discutido é a favela, hip-hop e rappers, que,
segundo as organizadoras, são instrumen-tos de força
política. Outro objetivo da semana é acabar
com o academicismo quando se trata a questão: “Só
livros não bastam. É preciso promover outros
tipos de linguagem, filmes, música, teatro e poesia”.
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