Olho no Olho

 
18.11.2003  
   

Preconceito racial?

O feriado de Zumbi está aí e a polêmica sobre preconceito racial volta à discussão. O Olhar Virtual foi colher depoimentos sobre o tema. Estima-se que 45% da população brasileira seja composta por negros. Setenta por cento dos brasileiros têm alguma presença africana em suas raízes. Uma questão relevante para toda a sociedade e que vai ser discutida, nesta edição, por um professor da UFRJ e uma aluna integrante do movimento negro.

 
   

Marcelo Paixão

O professor Marcelo Paixão, do Instituto de Economia da UFRJ e especialista em estudos sobre negros no Brasil, avalia que o país se organizou ao longo do século XX excluindo os negros da possibilidade de inserção econômica e social igualitária na sociedade. Paixão apresenta uma projeção do índice de desenvolvimento humano (IDH): se o Brasil fosse composto apenas por brancos, o índice estaria no patamar alto, e a posição em relação aos outros países seria 46. Já se fosse composto apenas por negros, o índice seria médio para baixo, e a posição seria 108. Esses números revelam a desigualdade existente no país. O professor acredita que o negro foi naturalizado como pessoa pertencente a um baixo perfil: tem menores salários, não entra nas universidades e isso é visto como natural. “É uma profecia que se cumpre por si mesma”, diz. Quando perguntado sobre a questão das cotas, Paixão diz que é uma medida extremada e que a sociedade deve aceitar a inserção do negro de uma maneira voluntária. Na avaliação do professor, é preciso que se coloquem em prática políticas públicas voltadas para essa parcela da população e que se incentive que empresas tenham mais negros no seus quadros de funcionários, que se valorize a multiculturalismo, que se combata o preconceito na escola e que o poder judiciário e a polícia tratam os cidadãos da mesma maneira. O professor acredita que o governo Lula acertou ao criar a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (SEPIR), mas que é necessário mais recursos para área.

 
Verônica Aragão

Verônica Aragão, aluna da UFRJ, idealizadora do grupo Consciência Negra, que é formado por moradores do alojamento da Universidade, acredita que o preconceito racial no Brasil existe e é velado. “Há uma ideologia de democracia social, que todos são iguais, mas muitos colegas sofrem os mais variados tipos de preconceito”, desabafa. O grupo Consciência Negra foi criado há dois anos e já promoveu três semanas da consciência negra. A última delas acontece até esta sexta-feira, no alojamento, e reúne várias atividades que promovem a cultura afro. O grupo pretende promover a discussão das cotas. Verônica é favorável. Para ela, seria uma maneira de repara uma dívida social e promover uma melhoria na assistência estudantil, pois o negro tem menos condições econômicas. Quando pergun-tamos se é justo promover o feriado de Zumbi, Verônica diz que sim e justifica ponderando que existem inúmeros feriados de santos. Na edição deste ano da semana da consciência negra, o principal tema discutido é a favela, hip-hop e rappers, que, segundo as organizadoras, são instrumen-tos de força política. Outro objetivo da semana é acabar com o academicismo quando se trata a questão: “Só livros não bastam. É preciso promover outros tipos de linguagem, filmes, música, teatro e poesia”.
 

 

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