Política
Antitabagista
O Ministério da Saúde tomou uma atitude considerada
radical por fumantes e não fumantes ao inserir fotos de doentes
e vítimas do tabaco em maços de cigarro. A política
antitabagista brasileira faz parte de um Programa Nacional de Combate
ao fumo, que agora tem espaço para discussão em nosso
Olhar, através das opiniões do Diretor do Núcleo
de Estudos da Saúde Coletiva (NESC), Roberto Medronho e do
médico Alberto José de Araújo que é
diretor do Núcleo de Estudo e Tratamento do Tabagismo, NETT
da UFRJ. |
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Roberto
Medronho
“O Programa antitabagista do Ministério da
Saúde é uma medida que procura orientar os
usuários sobre os malefícios que o uso do
tabaco causa na saúde humana. O ta-baco é
um dos principais agentes cance-rígenos do mundo.
O número de mortes atribuídas pelo tabaco
é assustador. As inserções de fotos
de doentes nos maços de cigarro e as propagandas
são atitudes de impacto que têm como objetivo
uma mu-dança no comportamento dos seus usuá-rios.
Quanto à eficácia, é muito controversa
porque nós não temos uma forma de avaliação
dos programas no sentido de medir quantos fumavam e quantos
deixaram de fumar após a veiculação
da campanha. Não é uma coisa fácil
de ser feita. Nós temos tecnologia, temos procedimentos
estatísticos e qualitativos para buscar saber se
a campanha educativa foi suficiente para mudar o hábito
do usuário, mas ela não é feita na
prática. É uma lástima, porque se gasta
muito dinheiro em publicidade e ela é pouco eficaz.
O hábito de parar de fumar envolve uma série
de questões e não apenas o conhecimento de
que fumar causa câncer, de que fumar faz mal à
saúde. E não se trata apenas de uma questão
individual, mas política. Os grandes centros, onde
estão as indústrias do tabaco, têm diversas
leis restritivas ao fumo, o que não impede de lançarem
sua produção em países periféricos
como o Brasil, que representam um mercado livre e sem fiscalização.
Algumas leis nós já conseguimos aprovar como
é o caso da proibição do fumo em vôos
domésticos, em restaurantes, dentro de hospitais,
mas infelizmente nós temos uma cultura meio subversiva.
Nós subvertemos frequentemente as leis, mesmo as
leis boas.
O governo também não tem tanto interesse em
adotar leis restritivas porque um dos maiores pagadores
de impostos do Brasil é a indústria do fumo.
O que não garante lucro ao governo, pois a renda
conseguida através dos impostos não paga a
assistência dada aos pacientes com os problemas derivados
do tabaco. Criar leis restritivas ao tabaco é um
grande negócio, pois teremos famílias, sadias
mais produtivas e gastos reduzidos com a saúde decorrente
de doenças que tem como substrato o fumo.”
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Alberto
José de Araújo
“A
poderosa indústria do tabaco decerto tem um círculo
de influência na mídia e recursos incalculáveis
para financiar qualquer campanha, artigo ou peça que
iniba o grande cerco pelo qual passa esta indústria
da doença e da morte. Curioso, é que em nenhum
momento o missivista aponta para os custos sociais decorrentes
do consumo do tabaco e tampouco aponta a questão da
dependência e, que 80% dos fumantes tentam uma, duas,
três vezes parar de fumar por receio dos riscos que
o hábito lhes impõe e que apenas uma minoria
dos fumantes jamais pensou em deixar de fumar. Entretanto,
à parte do poder das campanhas, o governo conseguiu
algumas vitórias: a legislação restritiva
da propaganda e do consumo em recintos coletivos, a proibição
da venda para menores de 18 anos, bem como as reparações
pelos danos à saúde cobrados das companhias
de cigarro a várias vítimas do tabaco, bem como
o cerco à propaganda enganosa que induz os jovens a
se tornarem novos alvos da dependência à nicotina.
Nos últimos anos foi intensificada a luta contra o
tabaco, culminando com a obrigatoriedade das inserções
nos maços de cigarro de imagens de vítimas de
doenças relacionadas ao tabaco. Vários foram
os artifícios da indústria do tabaco para encobrir
as imagens que, de modo decisivo, passaram a gerar um impacto
não somente nos consumidores habituais do cigarro,
como também nos potenciais consumidores. O direito
de apresentar opiniões sobre temas polêmicos
como o tabagismo, não se contrapõe ao dever
do Estado de utilizar todos os meios para preservar a saúde
de seus cidadãos. Para se ter uma idéia do impacto
que as imagens de pessoas sofrendo com os males das doenças
relacionadas ao tabaco produzem na população,
recente reportagem feita no Hospital Universitário
Clementino Fraga Filho da UFRJ, levou a um expressivo número
de pessoas do Rio de Janeiro e de outros estados a buscarem
algum tipo de tratamento para pararem de fumar.”
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