Ponto de Vista

 
11.11.2003  
   

Rumos da literatura

Nas livrarias, enfileirados por ordem, editora, nome de autor ou título, lá estão eles, os livros, prontos a se abrirem e a revelar um outro mundo, onde a lógica não é uma necessidade, mas sim um esquema a ser remontado. É dessa atividade intensa de fantasiar, típica do ser humano, que emerge a literatura. Segundo o Professor da Faculdade de Letras da UFRJ, Godofredo de Oliveira Neto, a arte de escrever vai além: “Concretamente o que a literatura faz é dar voz a quem não tem, à pessoa por trás do indivíduo. E ao dar voz a quem não tem, ela cumpre um papel. Não estou nem falando das literaturas engajadas. Falo sim, da escrita sem fronteiras, livre da racionalidade mais imediata que lida com questões que a sociedade não consegue equacionar. Ela mesma também não equaciona, ela apresenta esses problemas, tenta dar uma explicação, sem o compromisso com a explicação concreta, real”.
Mas não só de sonhos vive a literatura. Atualmente, ela vem exercendo um papel de resistência ao imediatismo do cotidiano. A simplificação dos problemas sociais em fórmulas e esquemas desassocia causa e efeito, como exemplifica Godofredo: “É a violência de tudo, o império dos sentidos sem a peneira da razão. Aparecem nos jornais e na TVum povo assustado por um poder maior, que se diz paralelo e não nos damos conta de que isso é uma falha na estrutura social. Então, é o homem solto na sociedade sem uma moldura, sem uma organização de sociedadel. A grande venda de livros sobre violência urbana demonstra isso claramente”.
Godofredo aponta ainda que qualquer produção literária não está desvinculada de sua época e da sociedade que a permeia. Uma questão que sempre pairou sobre a literatura e que volta a ser retomada é a procura de identidade. Não são raros os livros que tratam da vida de expoentes da história brasileira. As biografias enchem as prateleiras de um país pouco acostumado com obras dessa temática. O sucesso dessas publicações evidencia a curiosidade do brasileiro, que se debruça sobre seu passado, em busca de uma identidade cultural, como avalia o professor: “Pode-se listar vários títulos que tentam resolver a questão da identidade. Não sei quem eu sou, quem são os meus... não conheço minha cidade. A busca do conhecimento é um papel que veio de um movimento social, da busca pela identificação com o próximo, com sua cultura. De qualquer modo isso representa uma valorização, que bem administrada, pode nos render bons frutos na formação crítica e intelectual do indivíduo”.

 

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