Rumos da literatura
Nas
livrarias, enfileirados por ordem, editora, nome de autor ou título,
lá estão eles, os livros, prontos a se abrirem e a
revelar um outro mundo, onde a lógica não é
uma necessidade, mas sim um esquema a ser remontado. É dessa
atividade intensa de fantasiar, típica do ser humano, que
emerge a literatura. Segundo o Professor da Faculdade de Letras
da UFRJ, Godofredo de Oliveira Neto, a arte de escrever vai além:
“Concretamente o que a literatura faz é dar voz a quem
não tem, à pessoa por trás do indivíduo.
E ao dar voz a quem não tem, ela cumpre um papel. Não
estou nem falando das literaturas engajadas. Falo sim, da escrita
sem fronteiras, livre da racionalidade mais imediata que lida com
questões que a sociedade não consegue equacionar.
Ela mesma também não equaciona, ela apresenta esses
problemas, tenta dar uma explicação, sem o compromisso
com a explicação concreta, real”.
Mas não só de sonhos vive a literatura. Atualmente,
ela vem exercendo um papel de resistência ao imediatismo do
cotidiano. A simplificação dos problemas sociais em
fórmulas e esquemas desassocia causa e efeito, como exemplifica
Godofredo: “É a violência de tudo, o império
dos sentidos sem a peneira da razão. Aparecem nos jornais
e na TVum povo assustado por um poder maior, que se diz paralelo
e não nos damos conta de que isso é uma falha na estrutura
social. Então, é o homem solto na sociedade sem uma
moldura, sem uma organização de sociedadel. A grande
venda de livros sobre violência urbana demonstra isso claramente”.
Godofredo aponta ainda que qualquer produção literária
não está desvinculada de sua época e da sociedade
que a permeia. Uma questão que sempre pairou sobre a literatura
e que volta a ser retomada é a procura de identidade. Não
são raros os livros que tratam da vida de expoentes da história
brasileira. As biografias enchem as prateleiras de um país
pouco acostumado com obras dessa temática. O sucesso dessas
publicações evidencia a curiosidade do brasileiro,
que se debruça sobre seu passado, em busca de uma identidade
cultural, como avalia o professor: “Pode-se listar vários
títulos que tentam resolver a questão da identidade.
Não sei quem eu sou, quem são os meus... não
conheço minha cidade. A busca do conhecimento é um
papel que veio de um movimento social, da busca pela identificação
com o próximo, com sua cultura. De qualquer modo isso representa
uma valorização, que bem administrada, pode nos render
bons frutos na formação crítica e intelectual
do indivíduo”.
Últimas
Matérias
04.11.2003
Lendo
o mundo pela fantasia
28.10.2003
A
Internet é um veículo excludente?
21.10.2003
Carência
de professores na UFRJ
|