Energia e balança comercial
Qual
o impacto da expansão do setor elétrico sobre as contas
correntes brasileiras? Esse aspecto importante, mas raramente lembrado
quando se discute a viabilização das bases de sustentação
do desenvolvimento, é tema de trabalho recente do Grupo de
Economia da Energia do Instituto de Economia da UFRJ, coordenado
pelo professor Ronaldo Bicalho.
- Numa época em que o Governo preocupa-se com a obtenção
de seguidos superávits na balança comercial e simultaneamente
expressa sua preocupação sobre os rumos dos setores
de infra-estrutura no País, cabe considerar como conciliar
ambos os objetivos - ressalta Bicalho. Ele lembra que a década
de 90 marcou mudança estrutural na natureza dos impactos
nas transações correntes das importações
e das remessas de divisas associadas a bens e serviços relacionados
às atividades de geração, transmissão
e distribuição de eletricidade no Brasil.
Essa mudança não se resumiu ao crescimento das remessas
de divisas correspondentes à importação de
equipamentos e serviços. Consolidou uma articulação
entre a expansão do setor, sobretudo na geração,
e o crescimento desses impactos. Dessa forma, a expansão
desse conjunto de atividades no Brasil passou a ser sinônimo
de importações crescentes.
''Em 90, quando do início do processo de abertura comercial
brasileira, as importações para a geração,
transmissão e distribuição de eletricidade
totalizavam US$ 215,3 milhões. Em 2002, esses valores saltaram
para US$ 1,673 bilhões. Ou seja, em doze anos, essas importações
aumentaram oito vezes, a uma taxa média de 18,6 % a.a.',
informa o estudo.
Em função desse crescimento, as importações
para essas atividades, que em 94 representavam menos de 1% do total
das importações brasileiras e cerca de 2,5 % das importações
de bens de capital, aumentaram, seu impacto na balança comercial,
alcançando 3,5 % da pauta de importações, e
14,4 % das importações de bens de capital, em 2002.
O estudo destaca ainda que a recente opção pela geração
térmica pode agravar esse quadro: segundo especialistas do
assunto, para cada 1.000 MW instalados de térmicas, há
um impacto na balança de serviços da ordem de US$
12 milhões. Considerando uma capacidade instalada de térmicas
de 6.000 MW, teríamos gasto anual de US$ 72 milhões
com assistência técnica, 5% das despesas com contratos
em serviços desse tipo para todos os setores no ano de 2002.
Caso a alternativa térmica se consolide na geração
nacional de eletricidade, a tendência é que esse valor
tenha cada vez mais importância no cenário da balança
de serviços brasileira.
Jornal do Commercio - Opinião
Publicado dia 12/10, domingo.
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