De Olho na Mídia

 
14.10.2003  
   

Energia e balança comercial

Qual o impacto da expansão do setor elétrico sobre as contas correntes brasileiras? Esse aspecto importante, mas raramente lembrado quando se discute a viabilização das bases de sustentação do desenvolvimento, é tema de trabalho recente do Grupo de Economia da Energia do Instituto de Economia da UFRJ, coordenado pelo professor Ronaldo Bicalho.
- Numa época em que o Governo preocupa-se com a obtenção de seguidos superávits na balança comercial e simultaneamente expressa sua preocupação sobre os rumos dos setores de infra-estrutura no País, cabe considerar como conciliar ambos os objetivos - ressalta Bicalho. Ele lembra que a década de 90 marcou mudança estrutural na natureza dos impactos nas transações correntes das importações e das remessas de divisas associadas a bens e serviços relacionados às atividades de geração, transmissão e distribuição de eletricidade no Brasil.
Essa mudança não se resumiu ao crescimento das remessas de divisas correspondentes à importação de equipamentos e serviços. Consolidou uma articulação entre a expansão do setor, sobretudo na geração, e o crescimento desses impactos. Dessa forma, a expansão desse conjunto de atividades no Brasil passou a ser sinônimo de importações crescentes.
''Em 90, quando do início do processo de abertura comercial brasileira, as importações para a geração, transmissão e distribuição de eletricidade totalizavam US$ 215,3 milhões. Em 2002, esses valores saltaram para US$ 1,673 bilhões. Ou seja, em doze anos, essas importações aumentaram oito vezes, a uma taxa média de 18,6 % a.a.', informa o estudo.
Em função desse crescimento, as importações para essas atividades, que em 94 representavam menos de 1% do total das importações brasileiras e cerca de 2,5 % das importações de bens de capital, aumentaram, seu impacto na balança comercial, alcançando 3,5 % da pauta de importações, e 14,4 % das importações de bens de capital, em 2002.
O estudo destaca ainda que a recente opção pela geração térmica pode agravar esse quadro: segundo especialistas do assunto, para cada 1.000 MW instalados de térmicas, há um impacto na balança de serviços da ordem de US$ 12 milhões. Considerando uma capacidade instalada de térmicas de 6.000 MW, teríamos gasto anual de US$ 72 milhões com assistência técnica, 5% das despesas com contratos em serviços desse tipo para todos os setores no ano de 2002. Caso a alternativa térmica se consolide na geração nacional de eletricidade, a tendência é que esse valor tenha cada vez mais importância no cenário da balança de serviços brasileira.

Jornal do Commercio - Opinião
Publicado dia 12/10, domingo.

 

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