Olho no Olho

 
12.08.2003  
   

Cenas de violência no Rio de Janeiro

Cenas de violência são freqüentemente exibidas em filmes, novelas e outras obras de ficção, cujo o pano de fundo é a cidade do Rio de Janeiro. Essa abordagem da violência pode ser vista em “Cidade de Deus” e, mais recentemente, em uma telenovela, que teve uma de suas personagens morta por uma “bala perdida”, fruto de confronto entre policiais e bandidos.
A superexposição da criminalidade do Rio tem gerado uma grande polêmica. Há quem defenda que ela contribui para denegrir a imagem da cidade e aumentar a sensação de insegurança dos moradores, outros acreditam que essa é uma forma de levar o tema para discussão, muitos afirmam que esse tipo de abordagem é feita apenas para entreter os espectadores. Veja o que pensam dois professores da UFRJ.

 
             
Michel Misse

Embora admita que a exposição da violência da cidade do Rio de Janeiro nos programas de ficção contribua para denunciar essa realidade vivida pelos cariocas, o professor Michel Misse, do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (IFCS), acredita que existe um exagero na freqüência em que essa exibição da criminalidade urbana é feita. Para ele, o efeito desse excesso da mídia é incontrolável, pois aumenta a sensação de insegurança, deixando a cidade do Rio com a imagem de muito violenta: “A violência urbana já está mais do que visível, não é necessário mais denunciá-la, ninguém mais agüenta tanta exposição da violência na mídia”.
Misse destaca que a intenção do autor de saborear o realismo da insegurança coletiva fazendo uso da “bala perdida” traz um resultado banal para quem já trata do assunto e aterrorizador para quem não conhece o Rio. “Eu não quero dizer que o Rio é uma cidade pacífica, mas também não é isso tudo que a imaginação solta de quem não conhece a cidade pode supor sob o impacto do que lhe apresentam na TV. Isso evidentemente faz mal à cidade”, destaca o especialista em violência e criminalidade.

 
 

Muniz Sodré

Para Muniz Sodré, professor da Escola de Comunicação, a superexposição da violência carioca em obras de ficção não serve como denúncia, já que todos sabem do agravamento da violência na cidade. “A televisão não denuncia, pois todos já sabem da existência desse problema”. E completa: “O que efetivamente prejudica o turismo é a violência real, e não simplesmente a imagem da violência”.
Segundo Sodré, é exagerado o uso do Rio de Janeiro como cenário de tramas em que a violência possui destaque, embora ressalte que as autoridades da cidade perderam o controle sobre a violência.
O Professor enfatiza que a superex-ploração da criminalidade nessas obras é realizada para efeito de entret-enimento. “Esse reaproveitamento de uma imagem que já existe traz a estetização da violência”. De acordo com Sodré, o uso de imagens que já existem na atualidade é uma característica das obras que possuem muita audiência. “As narrativas de grande consumo apropriam-se de fatos da realidade, do imaginário dos espectadores e apresentam um pedagogismo em seu discurso”.

 
 
 

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