Cenas
de violência no Rio de Janeiro
Cenas
de violência são freqüentemente exibidas em filmes,
novelas e outras obras de ficção, cujo o pano de fundo
é a cidade do Rio de Janeiro. Essa abordagem da violência
pode ser vista em “Cidade de Deus” e, mais recentemente,
em uma telenovela, que teve uma de suas personagens morta por uma
“bala perdida”, fruto de confronto entre policiais e
bandidos.
A superexposição da criminalidade do Rio tem gerado
uma grande polêmica. Há quem defenda que ela contribui
para denegrir a imagem da cidade e aumentar a sensação
de insegurança dos moradores, outros acreditam que essa é
uma forma de levar o tema para discussão, muitos afirmam
que esse tipo de abordagem é feita apenas para entreter os
espectadores. Veja o que pensam dois professores da UFRJ.
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Michel
Misse
Embora admita que a exposição da violência
da cidade do Rio de Janeiro nos programas de ficção
contribua para denunciar essa realidade vivida pelos cariocas,
o professor Michel Misse, do Núcleo de Estudos da Cidadania,
Conflito e Violência Urbana (IFCS), acredita que existe
um exagero na freqüência em que essa exibição
da criminalidade urbana é feita. Para ele, o efeito
desse excesso da mídia é incontrolável,
pois aumenta a sensação de insegurança,
deixando a cidade do Rio com a imagem de muito violenta: “A
violência urbana já está mais do que visível,
não é necessário mais denunciá-la,
ninguém mais agüenta tanta exposição
da violência na mídia”.
Misse destaca que a intenção do autor de saborear
o realismo da insegurança coletiva fazendo uso da “bala
perdida” traz um resultado banal para quem já
trata do assunto e aterrorizador para quem não conhece
o Rio. “Eu não quero dizer que o Rio é
uma cidade pacífica, mas também não é
isso tudo que a imaginação solta de quem não
conhece a cidade pode supor sob o impacto do que lhe apresentam
na TV. Isso evidentemente faz mal à cidade”,
destaca o especialista em violência e criminalidade.
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Muniz
Sodré
Para
Muniz Sodré, professor da Escola de Comunicação,
a superexposição da violência carioca
em obras de ficção não serve como denúncia,
já que todos sabem do agravamento da violência
na cidade. “A televisão não denuncia,
pois todos já sabem da existência desse problema”.
E completa: “O que efetivamente prejudica o turismo
é a violência real, e não simplesmente
a imagem da violência”.
Segundo Sodré, é exagerado o uso do Rio de Janeiro
como cenário de tramas em que a violência possui
destaque, embora ressalte que as autoridades da cidade perderam
o controle sobre a violência.
O Professor enfatiza que a superex-ploração
da criminalidade nessas obras é realizada para efeito
de entret-enimento. “Esse reaproveitamento de uma imagem
que já existe traz a estetização da violência”.
De acordo com Sodré, o uso de imagens que já
existem na atualidade é uma característica das
obras que possuem muita audiência. “As narrativas
de grande consumo apropriam-se de fatos da realidade, do imaginário
dos espectadores e apresentam um pedagogismo em seu discurso”. |
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