Olho no Olho

 
02.09.2003  
   

Poluição no Paraíba compromete abastecimento

Nesta semana o Olhar Virtual discute a poluição do rio Paraíba do Sul e o risco de a zona metropolitana do Rio ter seu abastecimento de água suspenso. Os professores Paulo Canedo, do Laboratório de Hidrologia da Coppe, e Erica Caramaschi, do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia, expõem os problemas que existem ao longo do curso do rio e importância dele e de sua fauna para a população. Nosso debate esquenta também uma pergunta: quem deve promover a educação ambiental? O governo, a universidade ou outros grupos?

 
           

Paulo Canedo

O professor Paulo Canedo explica que o rio Paraíba do Sul sofre atualmente com dois problemas que podem fazer com que a zona metropolitana do Rio tenha seu abastecimento de água cessado. De um lado está a poluição doméstica e industrial que vem há anos prejudicando o rio. Existem afluentes poluídos que desembocam no Paraíba. Do outro, uma seca iniciada em 1996 que impediu o enchimento dos reservatórios que controlam o nível de água do rio. Para piorar o problema, nos meses de agosto, setembro e outubro chove muito pouco na região. Com o nível baixo, o rio não consegue diluir o esgoto humano e industrial. Como o rio Guandu, que abastece o Grande Rio, é um dos braços do Paraíba do Sul, essa poluição pode chegar aos 8,5 milhões de habitantes da região. O professor estima que, se nada for feito, há uma probabilidade de 70% de o rio morrer. Canedo acrescentou que tem certeza que haverá graves problemas no Paraíba entre setembro e outubro. Para que isso não ocorra será preciso fazer obras emergenciais na bacia do Paraíba, que estão sendo desenvolvidas pela UFRJ. O professor também lembrou a importância de o governo incentivar as Organizações Não-Governamen-tais a fazerem campanhas de educação ambiental com a população, alertando sempre para que se evite o desperdício de água. “É preciso que as pessoas saibam que a água que gastam não é apenas a do banho. Por exemplo, cada frango que comemos neces-sitou de cerca de 1000 litros de água para ser produzido. Então, devem gastar apenas o que for para o prazer e o conforto, nunca para o desperdício”. Canedo acha que a universidade não deve fazer, ela própria, a educação ambiental. Segundo professor, ela deve dar ciência e tecnologia às ONGs, e são as organizações que devem absorver esse conhecimento e prestar serviços à sociedade.

 

Érica Caramaschi

Para a professora Érica Caramaschi, no que diz respeito à fauna, embora a poluição domés-tica no Paraíba do Sul seja preju-dicial, pois retira grande quantidade de oxigênio da água, esse não é o principal problema do rio. O maior deles é a poluição oriunda de indústrias e atividades agrícolas, que altera as características físicas e químicas da água, tornando-a inviável para permanência ou sobrevivência dos animais que vivem nas suas águas. Outro problema da poluição industrial é que pode ocorrer deposição de resíduos no sedimento. Estes, como os metais pesados, podem ser incorporados à base da cadeia alimentar e se acumular nos níveis mais altos desta cadeia, constituindo perigo inclusive para os humanos, que consomem peixes e camarões. Além do problema da po-luição, o rio Paraíba do Sul sofre forte de-gradação em função do desmata-mento nas suas margens. A vegetação de suas encostas garante alimento e proteção para a fauna aquática. Além disso, o desmata-mento provoca desbarrancamentos das margens e, conseqüentemente, assoreamento e alteração do subs-trato e da turbidez da água. Embora algumas espécies tenham se tornado raras ainda é possível recuperar a fauna do rio. Para isso é preciso que medidas de proteção sejam tomadas. Entre elas estão a fiscalização dos efluentes industriais e domésticos, a coibição do lançamento de lixo, o monitoramento contínuo da qualidade da água, a recuperação da mata das margens. A educação ambiental teria um papel fundamental nessa tarefa, seja no preparo de uma próxima geração mais consciente do valor da água como recurso natural, seja no papel de fiscalização local das condições de vida de cada trecho do rio. A educação ambiental é responsabilidade de todos os segmentos da comunidade, mas a universidade deve se envolver de forma integral, com projetos acadêmicos de ensino à distância, pesquisa e extensão.

 
 

[ Veja as entrevistas na íntegra no PAINEL DE ARGUMENTOS ]

 

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