Ponto de Vista

 
26.08.2003  
   

A ONU e a reconstrução do Iraque.
(Entrevista com o professor Luís Carlos Prado, especialista em economia política internacional.)

O professor Luís Carlos Prado, do Instituto de Economia da UFRJ, acredita que a guerra do Iraque abriu espaço para a atuação de forças terroristas no país e que o processo de reconstrução será longo e custoso, até mesmo em termos de vidas. “A guerra fez o mundo menos seguro”.
O professor argumenta que a guerra, inicialmente colocada como uma forma de livrar o mundo das armas de destruição em massa, teve efeito inverso: não ficou provado que o Iraque tinha as armas, ou, se tinha, elas eram não-operacionais. Segundo Prado, embora o Iraque vivesse uma ditadura sangrenta no regime de Saddam Hussein, o ditador não apoiava o terrorismo.
O professor explica que com a queda do regime de Saddam, houve um vácuo de poder que não conseguiu ser preenchido pela ONU, colocada em posição secundária pelas forças de ocupação desde o início do conflito. Abri-se espaço para que grupos terroristas se instalassem no país.
Para piorar o problema, nem todos os grupos que eram contra Saddam Hussein são a favor dos EUA e Grã-Bretanha. Está sendo muito difícil estabelecer um mecanismo de governo sem o apoio da população. Além disso, divergências entre os diversos grupos que vivem no país (curdos, xiitas, sunitas) dificultam ainda mais a formação desse novo governo.
No campo da diplomacia, a imagem da ONU está abalada dentro do país. A organização é vista como aliada das forças de ocupação, pois, antes do início do conflito, retirou os inspetores de armas do país. A presença deles era uma forma de proteção. O termômetro dessa instabilidade foi o atentado que matou o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello. A ação tinha como objetivo provocar uma repercussão internacional e realmente conseguiu.
No plano tático da guerra, ela é agora um conflito não-convencional. Se foi fácil para EUA e Grã Bretanha entrarem no território iraquiano, sair dele está complicado. A guerra tornou-se assimétrica, contra um exército que não existe e onde as ações são menos previstas.

 

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