A
ONU e a reconstrução do Iraque.
(Entrevista com o professor Luís Carlos Prado, especialista
em economia política internacional.)
O
professor Luís Carlos Prado, do Instituto de Economia da
UFRJ, acredita que a guerra do Iraque abriu espaço para a
atuação de forças terroristas no país
e que o processo de reconstrução será longo
e custoso, até mesmo em termos de vidas. “A guerra
fez o mundo menos seguro”.
O professor argumenta que a guerra, inicialmente colocada como uma
forma de livrar o mundo das armas de destruição em
massa, teve efeito inverso: não ficou provado que o Iraque
tinha as armas, ou, se tinha, elas eram não-operacionais.
Segundo Prado, embora o Iraque vivesse uma ditadura sangrenta no
regime de Saddam Hussein, o ditador não apoiava o terrorismo.
O professor explica que com a queda do regime de Saddam, houve um
vácuo de poder que não conseguiu ser preenchido pela
ONU, colocada em posição secundária pelas forças
de ocupação desde o início do conflito. Abri-se
espaço para que grupos terroristas se instalassem no país.
Para piorar o problema, nem todos os grupos que eram contra Saddam
Hussein são a favor dos EUA e Grã-Bretanha. Está
sendo muito difícil estabelecer um mecanismo de governo sem
o apoio da população. Além disso, divergências
entre os diversos grupos que vivem no país (curdos, xiitas,
sunitas) dificultam ainda mais a formação desse novo
governo.
No campo da diplomacia, a imagem da ONU está abalada dentro
do país. A organização é vista como
aliada das forças de ocupação, pois, antes
do início do conflito, retirou os inspetores de armas do
país. A presença deles era uma forma de proteção.
O termômetro dessa instabilidade foi o atentado que matou
o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello. A ação
tinha como objetivo provocar uma repercussão internacional
e realmente conseguiu.
No plano tático da guerra, ela é agora um conflito
não-convencional. Se foi fácil para EUA e Grã
Bretanha entrarem no território iraquiano, sair dele está
complicado. A guerra tornou-se assimétrica, contra um exército
que não existe e onde as ações são menos
previstas.
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