De Olho na Mídia

 
05.08.2003  
   

Cota para negros vem do Império
Dom João VI criou vaga para o escravo João Evangelista estudar Medicina

Da senzala à universidade, com aval de Sua Alteza Real. Quem poderia imaginar que a polêmica reserva de vagas para negros já reinava entre os feitos de Dom João VI? Foi dele, há quase dois séculos, a primeira autorização de matrícula por cotas na História do Brasil. O favorecido foi o escravo João Evangelista. Em 12 de março de 1815, ele entrou para o 3º ano dos Estudos Médicos Cirúrgicos da então Academia de Medicina e Cirurgia, hoje a Faculdade de Medicina da UFRJ. A prova histórica foi garimpada no acervo da Biblioteca do Centro de Ciências da Saúde pelo professor Sebastião Amoêdo de Barros, da Escola de Comunicação da UFRJ. O sistema de cotas foi implementado no último vestibular das Universidades do Estado do Rio (Uerj) e Norte-Fluminense (Uenf). Na UFRJ, o debate sobre o assunto está entre as prioridades do reitor Aloísio Teixeira. “Essa descoberta cai como uma luva nesse momento em que tanto se discute a reserva de vagas”, destaca Barros. A novidade foi apresentada pelo professor no encontro Resgate da Identidade Brasileira, quarta-feira, em Teresópolis. “Temos que atrair negros e todas as minorias desprovidas de recursos financeiros para as universidades”, observou o professor. O paradeiro de João Evangelista se perdeu nas páginas da História. A falta de sobrenome dificultou as buscas sobre o destino do escravo que virou médico. No livro de registros do Centro de Ciências da Saúde, há dois outros estudantes com o mesmo nome do escravo.

Fabrício Marta
O Dia - Geral
Publicado em 05 de agosto, terça-feira.

 

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