Ponto de Vista
24.05.2005
Política Monetária nacional
Kadu Cayres

Comprar em 12 prestações, sem entrada, aquela geladeira duplex está cada vez mais difícil. E o limite do cheque-especial, então? Nem sob tortura deve ser usado. Tudo isso graças à nossa sagaz Política Monetária e o seu sistema de juros altos. Visando discutir a questão, o Olhar Virtual convidou o professor João Sabóia para expressar sua opinião com relação ao assunto.


Professor João Sabóia

"A Política Monetária é utilizada, basicamente, para cumprir as metas de inflação. Essas metas dizem respeito a um sistema cujo país fixa, com uma certa antecedência, o que pretende que seja sua inflação no ano seguinte, ou dois anos depois.
O papel do Banco Central nesse sistema é desenvolver uma política monetária que convirja a inflação para meta estabelecida. Na verdade, a meta é uma faixa, fixada este ano, por exemplo, em 4,5% (mais ou menos 2,5 pontos percentuais). Isso significa que ela pode oscilar entre 2% e 7%, mas o problema é que nunca fica abaixo, está sempre entre o meio e a parte superior. Há algum tempo atrás, o governo percebeu a inviabilidade de manter o ponto central em 4,5 e resolveu passar para 5,1%.
Para a política do Banco Central o que importa mesmo é a Taxa Selic, taxa básica de juros da economia. Boa parte da dívida pública está atrelada a ela. O aspecto principal que venho criticando é o fato dela representar por cada ponto percentual a mais que o COPOM (Comitê de Política Monetária) fixa, um custo anual para o país da ordem de R$ 5 bilhões, em termos de juros. A dívida atrelada à Selic é da ordem de R$ 500 bilhões, logo, 1% disso dá R$ 5 bilhões. Caso lembremos que em agosto do ano passado a taxa era 16% e já está quase 20%, vamos perceber o custo adicional para o país, ao longo de 12 meses, de R$ 20 bilhões, valor muito alto. O COPOM mexe nessa taxa, porque é a básica e todas as outras estão associadas a ela.
O ponto inicial é que a Selic tem um custo muito alto para o governo e as conseqüências na economia, como um todo, são enormes por causa do reflexo nas outras. A idéia do Banco Central e do COPOM para desaquecer a economia, é encarecer o crédito em todo país através do aumento da taxa, para que as pessoas gastem menos dinheiro.
A minha crítica principal a política monetária é a seguinte: hoje em dia você tem dois tipos de preços na economia, os livres e os administrados. Os livres são aqueles instáveis no mercado; os administrados são os relacionados às tarifas públicas (energia elétrica, telefone, combustível, medicamentos...), que têm atuação do governo na sua fixação ou de alguma empresa prestadora de serviço que fica responsável pelo reajuste.
A fixação dos preços das tarifas públicas é baseada no IGP (Índice Geral de Preços). Esse índice está muito sujeito a choques de oferta, pois qualquer desvalorização cambial ou aumento do petróleo reflete nele e faz com que tenha um crescimento astronômico — hoje em dia está acima de 10% e já ultrapassa o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Se o aumento das tarifas públicas está atrelado ao IGP, elevar os juros não influencia nada."

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