Comprar
em 12 prestações, sem entrada, aquela geladeira duplex
está cada vez mais difícil. E o limite do cheque-especial,
então? Nem sob tortura deve ser usado. Tudo isso graças
à nossa sagaz Política Monetária e o seu sistema
de juros altos. Visando discutir a questão, o Olhar Virtual convidou
o professor João Sabóia para expressar sua opinião
com relação ao assunto.
Professor João Sabóia
"A Política
Monetária é utilizada, basicamente, para cumprir as metas
de inflação. Essas metas dizem respeito a um sistema cujo
país fixa, com uma certa antecedência, o que pretende que
seja sua inflação no ano seguinte, ou dois anos depois.
O papel do Banco Central nesse sistema é desenvolver uma política
monetária que convirja a inflação para meta estabelecida.
Na verdade, a meta é uma faixa, fixada este ano, por exemplo,
em 4,5% (mais ou menos 2,5 pontos percentuais). Isso significa que ela
pode oscilar entre 2% e 7%, mas o problema é que nunca fica abaixo,
está sempre entre o meio e a parte superior. Há algum
tempo atrás, o governo percebeu a inviabilidade de manter o ponto
central em 4,5 e resolveu passar para 5,1%.
Para a política do Banco Central o que importa mesmo é
a Taxa Selic, taxa básica de juros da economia. Boa parte da
dívida pública está atrelada a ela. O aspecto principal
que venho criticando é o fato dela representar por cada ponto
percentual a mais que o COPOM (Comitê de Política Monetária)
fixa, um custo anual para o país da ordem de R$ 5 bilhões,
em termos de juros. A dívida atrelada à Selic é
da ordem de R$ 500 bilhões, logo, 1% disso dá R$ 5 bilhões.
Caso lembremos que em agosto do ano passado a taxa era 16% e já
está quase 20%, vamos perceber o custo adicional para o país,
ao longo de 12 meses, de R$ 20 bilhões, valor muito alto. O COPOM
mexe nessa taxa, porque é a básica e todas as outras estão
associadas a ela.
O ponto inicial é que a Selic tem um custo muito alto para o
governo e as conseqüências na economia, como um todo, são
enormes por causa do reflexo nas outras. A idéia do Banco Central
e do COPOM para desaquecer a economia, é encarecer o crédito
em todo país através do aumento da taxa, para que as pessoas
gastem menos dinheiro.
A minha crítica principal a política monetária
é a seguinte: hoje em dia você tem dois tipos de preços
na economia, os livres e os administrados. Os livres são aqueles
instáveis no mercado; os administrados são os relacionados
às tarifas públicas (energia elétrica, telefone,
combustível, medicamentos...), que têm atuação
do governo na sua fixação ou de alguma empresa prestadora
de serviço que fica responsável pelo reajuste.
A fixação dos preços das tarifas públicas
é baseada no IGP (Índice Geral de Preços). Esse
índice está muito sujeito a choques de oferta, pois qualquer
desvalorização cambial ou aumento do petróleo reflete
nele e faz com que tenha um crescimento astronômico — hoje
em dia está acima de 10% e já ultrapassa o IPCA (Índice
de Preços ao Consumidor Amplo). Se o aumento das tarifas públicas
está atrelado ao IGP, elevar os juros não influencia nada."