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Eli
Diniz
Prof. titular do Instituto de Economia da UFRJ
"Antes
de qualquer coisa, cabe salientar que a garantia da governabilidade
passa pela necessidade de criar maiorias parlamentares.
No Brasil, temos um regime presidencialista bicameral,
que convive com um sistema multipartidário caracterizado
por um relativo grau de fragmentação. Isso se traduz
numa grande dificuldade, senão impossibilidade do presidente
eleito contar com maioria parlamentar. Daí resulta a necessidade
de negociar para formar uma coalizão partidária-parlamentar
para governar. Esta última não coincide necessariamente
com a coalizão eleitoral responsável pela vitória
nas urnas. O presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo,
foi eleito, em 1994, por uma coalizão eleitoral formada
por três partidos, o PSDB, o PFL e o PTB. Entretanto, governou
com base numa ampla coalizão parlamentar de centro-direita,
que já no segundo ano de seu primeiro mandato incorporava,
além dos partidos citados, o PMDB, o PPB e o PPS. A partir
de 1996, seu governo detinha cerca de 80% dos senadores, 62% dos
deputados e 80% dos governadores. Apesar da posição
amplamente majoritária desta coalizão, a aprovação
da agenda do Governo pelo Congresso exigia um processo de intensa
negociação, envolvendo com freqüência
a troca de postos no Executivo pelo apoio parlamentar.
Em outros termos, todos os presidentes enfrentam
o desafio de montar e de administrar suas respectivas bases de
apoio parlamentar. No caso do Presidente Lula, esta tarefa tornou-se
particularmente complexa, pois, além do apoio de sua coalizão
parlamentar (PT, PL, PTB, PPS, PC do B, PSB, PV), precisou, desde
o primeiro ano de seu governo, do apoio de outros partidos, como
o PP e mesmo de partidos da oposição para aprovar
os principais itens de sua agenda, entre os quais, as reformas
da previdência e tributária, em 2003. Um complicador
adicional foi e continua sendo a delicada questão de dirimir
os conflitos internos ao seu próprio partido, o PT, cujas
dissensões internas têm criado sérios problemas
para o Governo. O auge desse processo foi a recente disputa em
torno da eleição do novo presidente da Câmara
dos Deputados, quando o Governo teve seu candidato derrotado,
por uma parte do próprio PT, que lançou um outro
candidato, divisão que foi, por sua vez, aproveitada pelos
partidos de oposição. O resultado foi a vitória
do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), típico representante
do lado mais tradicional da política brasileira, com o
apoio do PFL, do PSDB e de parte do PMDB, empenhados antes de
tudo em politizar ao máximo os conflitos conjunturais,
acentuando o desgaste do governo, com o olhar nas eleições
presidenciais de 2006. A baixa capacidade de coordenação
política do Governo e a perspectiva imediatista da oposição
reforçam-se mutuamente, acarretando graves prejuízos,
não só para o Governo, mas também para a
credibilidade do Congresso e o futuro do país.
Não me parece pertinente a caracterização
da atual conjuntura em termos de crise de legitimidade. Cabe lembrar
que o Presidente Lula foi eleito, em 2002, no segundo turno, com
61,3% dos votos (cerca de 53 milhões de eleitores), contra
38, 7% de votos alcançados por José Serra (candidato
da situação e seu principal adversário),
de acordo com as regras do jogo democrático. Deve-se também
ter em conta que as crises institucionais não são
geradas por combustão espontânea, mas podem ser criadas
a partir das escolhas feitas pelos atores estratégicos
que disputam o poder."
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Hélio
de Mattos Alves
Professor Adjunto da Faculdade de Farmácia
"Lula elegeu-se com 53 milhões de
votos, trazendo uma grande esperança de mudanças
sem precedentes para a maioria da população brasileira.
Mas os partidos que lançaram a sua candidatura (PT-PL-PCdoB-PMN-PCB)
ocuparam apenas 130 das 513 cadeiras da Câmara e 16 das
81 do Senado. Os dois partidos derrotados nas eleições,
o PSDB e o PFL, contavam com essa sustentação parlamentar
precária para infernizar o presidente como tinham feito
em seu tempo as maiorias parlamentares retrógradas que
se opunham a Getúlio Vargas, em 1951/54 e a João
Goulart, em 1961/1964 (não por acaso dois presidentes que
não puderam concluir seus mandatos). Logo após a
vitória de Lula, ocorreu a formação de um
centro bem numeroso que serviu de sustentação parlamentar
para o governo no Congresso Nacional. Esse perfil de centro esquerda
do novo governo conseguiu eleger um petista para a Presidência
da Câmara e um peemedebista para o Senado Federal que era
partidário de Lula desde o primeiro turno. Essa frente
de centro esquerda funcionou bem para o Governo Lula nos dois
primeiros anos. Após 2004, surgiu a necessidade de um reajuste
nesse perfil de centro esquerda para dar um caráter mais
pluralista ao governo, para ajustar os resultado das urnas onde
a esquerda sofreu derrotas importantes. Esse reajuste não
foi feito, nem na reforma ministerial, nem na relação
com o Legislativo, com os partidos e as bancadas aliadas. Junta-se
a isso as tensões sobre a sucessão presidencial
de 2006 provenientes de um partido majoritário, o PT, com
pequena tradição e desigual propensão para
a política de frente. Essa pouca tradição
pode ser medida pelas palavras do Ministro da Coordenação
Política, Aldo Rebelo : “O PT não tem voto
para fazer maioria, nem na Câmara, nem no Senado, e não
há outro caminho dentro da democracia se não buscar
apoio dos partidos aliados, se não abrir espaço
para a participação de partidos aliados no governo".
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