De Olho na Mídia
24.05.2005

Economistas de esquerda acirram críticas contra a política monetária
Por Flávia Oliveira e Enio Vieira

 

RIO e BRASÍLIA. Com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestes a entrar no terço final de seu mandato, economistas de esquerda decidiram acirrar as críticas à política do governo. Começa hoje em Campinas o décimo Encontro Nacional de Economia Política, no qual os participantes pretendem tornar público um documento condenando, em particular, as ações de combate à inflação, e a política cambial da equipe do ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

A íntegra da “Carta de Campinas” será conhecida na quinta-feira, penúltimo dia do encontro, mas seu teor está praticamente decidido, adianta o economista Pedro Paulo Bastos, professor da Unicamp e um dos organizadores do evento. Diferentemente da “Carta de Uberlândia”, divulgada um ano atrás e na qual o grupo misturava descontentamento e esperança em relação ao governo, desta vez o tom será grave.

Para Bastos, o governo petista rompeu compromissos históricos e não está conseguindo aumentar a inclusão social, nem reduzir as desigualdades. Ao contrário, a economia vem sendo conduzida unicamente em benefício do “lado mais forte”, diz.

Carta vai defender controle de capital de curto prazo

Na versão da “Carta de Campinas” que será submetida aos participantes do encontro, os organizadores — além de Bastos, Leda Paulani (USP), Reinaldo Gonçalves (UFRJ) e Wilson Cano (Unicamp) — defendem o controle do fluxo de capital de curto prazo para reduzir a volatilidade do dólar; renegociação dos contratos e troca dos indexadores das tarifas administradas para ajudar no combate à inflação; e redução dos juros.

— O que o governo está fazendo é obrigar o setor de preços livres a absorver sozinho o custo de uma meta de inflação ambiciosa, que não tem como ser cumprida por causa da indexação das tarifas e da volatilidade do câmbio. Como podem fixar uma meta de 4,5%, quando sabemos que apenas os reajustes nos preços administrados ficarão perto do limite previsto — condena Bastos.

Ontem, pela primeira vez em 11 semanas, os analistas do mercado reduziram a estimativa do IPCA para este ano. A pesquisa semanal Focus do Banco Central, com cem economistas de bancos e consultorias, projeta variação de 6,38%, contra 6,39% na semana anterior — o teto da meta de 2005 é de 7%. A correção, embora modesta, aconteceu dias após o BC elevar os juros básicos para 19,75% ao ano.

A expectativa dos analistas é que a recente valorização do real frente ao dólar funcione como um freio aos reajustes de preços, já que os índices de atacado devem registrar deflação nos próximos meses. Para 2006, a previsão do IPCA ficou estável em 5% — a meta para o próximo ano é de até 6,5%.

Jornal O Globo - 24/05/2005 - Editoria: Economia

 

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