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Professor
Franklin Trein
Diretor do IFCS
“Há
vários trabalhos, bastante conceituados, que procuram nos
mostrar o quanto o conhecimento científico e tecnológico
se ampliou ao longo do século XX. Nós podemos dizer,
com relativa segurança, que as informações
se multiplicaram pelo menos por 10. Qualquer pessoa no final do
século XIX era bem mais informada, sabendo 10 vezes menos
do que alguém do final do século XX. Só que
estas 10 vezes mais, não foram conhecimentos mais simples,
mas cada vez mais complexos. Este é um problema sério,
e também difícil de ser administrado.
Tradicionalmente, o ensino que vem lá do pré-escolar
até o pós, na universidade, durante séculos
foi se estruturando nos sistemas de excelência onde se produzia
e transmitia conhecimento. Só que a partir da segunda metade
do século XX, o sistema começou a ser abalado tanto
na sua exclusividade quanto no seu conceito de eficiência
e eficácia. De tal forma que, outros mecanismos de produção
e transmissão do conhecimento foram sendo desenvolvidos
fora da universidade e do sistema educacional.
No mundo do trabalho, em primeiro lugar, o desenvolvimento industrial
criou na fábrica uma didática de formação
dos recursos humanos necessários à operação
daquele sistema de produção. Em segundo está
a mídia, que ocupa um lugar extraordinariamente importante
na sociedade. Basta analisarmos as estatísticas que nos
dizem quantas horas uma criança, um adolescente, e até
mesmo um jovem, já na universidade, passam em frente de
um aparelho de televisão. Assim como a Internet. E quantas
horas ele passa sentado em um banco escolar? O sistema de ensino
formal perdeu irrecuperavelmente para as outras formas, através
das quais hoje, uma pessoa, e principalmente jovem, podem buscar
informações. A conseqüência disso é
que o ensino que vêm através do sistema escolar é
estruturado, pensado pedagogicamente, organizado didaticamente
para permitir um conhecimento de base sólida. Enquanto
as informações que vêm através da mídia
não têm estrutura sistemática, são
desordenadas.
O conhecimento da mídia tem um objetivo, que este sim,
é muito bem elaborado pedagogicamente. Tende a deslocar
o conhecimento formulado pela escola, pela forma como a mídia
o apresenta: muito mais plástico, elaborado, apelativo,
com maior movimento e agilidade. E também, porque traz
um suposto conteúdo mais relevante para a vida do indivíduo,
para sua auto-estima, seu conforto, a sensação de
que aquele conhecimento está contribuindo para que ele
se posicione social, econômico e culturalmente. Então,
a questão de deslocar o anterior para ocupar este lugar
é relevante. Isto faz com que o conhecimento, trazido desta
forma, fique extremamente fragmentado. E ele não corresponde
a um saber estruturado, que é indispensável para
que uma pessoa possa manipular uma técnica, uma tecnologia,
que é estruturada. Para aprender a manipular uma tecnologia
precisamos nos apropriar de sua lógica, baseada no pensamento
organizado. Aí encontramos um dos elementos mais significativos
da fragmentação e por conseqüência disto
o analfabetismo científico e tecnológico.
Dentro da própria escola estamos observando o desestruturamento
dos saberes. Os conhecimentos essenciais das áreas que
dão base ao indivíduo, como a linguagem, a história,
a matemática e as disciplinas que nos dão noção
de espaço e tempo sempre estiveram muito presentes no ensino
escolar, mas não evoluíram estas 10 vezes mais do
conhecimento científico e tecnológico produzido
e acumulado pela humanidade. Continuamos ensinando matemática
para as crianças como se ensinava no século XIX,
assim como as outras disciplinas. O século XX passou e
ficou tudo igual. Com isso, os conhecimentos essenciais já
não sustentam a base do ensino de hoje, que se tornaram
muito mais complexos e sofisticados, e que precisam de novas ferramentas.
Outra questão é que os professores do passado, ao
dominarem a base , dominavam o que era necessário. Havia
uma sintonia entre os seus conhecimentos e os outros conhecimentos
instrumentais disponíveis. Hoje, esta sintonia desapareceu.
O atual professor sofre as conseqüências desta desestruturação,
que já vem acontecendo ao decorrer de 50 anos. Eles são
professores de conhecimentos desestruturados. Pode parecer paradoxal,
pois há uma revolução por um lado, e uma
“involução” pelo outro, perdeu-se a
capacidade de se ensinar. E isto é um fenômeno que
está dentro da própria Universidade. Muitos professores
universitários têm dificuldade de dar conta da estruturação
do seu próprio conhecimento para transmití-lo de
forma organizada em sala de aula. Esta fragmentação
é a marca dominante deste momento que estamos atravessando.
E eu, sinceramente, não estou vendo nenhuma solução,
embora eu saiba que tem muita gente preocupada com isso. E nenhum
lugar estão nascendo possíveis soluções
em processos aplicáveis, para pelo menos serem testados”.
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Marcos
Cavalcanti
Coordenador e professor do Crie (Centro
de Referência em Inteligência Empresarial), do Programa
de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ
“Eu
não concordo que as áreas estejam se fragmentando.
Acho que está
acontecendo exatamente o contrário! As áreas do
conhecimento estão se aproximando cada vez mais APESAR
da estrutura das Universidades não contribuírem
para isto. Coordeno um curso de pós-graduação
lato sensu, da UFRJ, em Gestão do Conhecimento, que já
teve 11 turmas no Rio de Janeiro, congregando profissionais de
diferentes áreas: engenharia, comunicação,
psicologia, arquitetura, design, biologia etc.
Se fizermos
uma pesquisa com profissionais que tenham 10 anos de experiência,
veremos que mais de 80% deles NÃO está trabalhando
na área em que se titulou. Fizemos esta pesquisa com nossos
alunos e o percentual em todas as turmas foi esse. Um dos motivos
é exatamente porque a fragmentação PREJUDICA
a produção de conhecimento. O homem não é
o resultado da colagem de milhares de fragmentos, mas um “ser
integral”, que consegue ter visão sistêmica
das coisas. Grandes cientistas, por exemplo, eram pessoas com
visões que ultrapassavam suas áreas específicas
de atuação. Não conheço nenhum estudioso
do tema que, atualmente, não defenda uma maior interação
das diferentes áreas do saber.
Ainda que não detenhamos total conhecimento das tecnologias
que envolvem os artefatos tecnológicos que utilizamos diariamente,
acredito que a população tenha, hoje, muito mais
intimidade com tais instrumentos do que há 10 ou 20 anos
atrás. Não acho que tenhamos que conhecer e aprender
o verdadeiro funcionamento destas tecnologias para usá-las.
Não tenho a menor idéia de como funciona um aparelho
de televisão e sempre o utilizei.
Uma outra questão é o domínio estratégico
de determinadas tecnologias pelo
Brasil. Em um mundo onde o conhecimento se transformou no principal
fator de produção, nos conformarmos com nossa atual
posição de consumidor de produtos de alta tecnologia
e produtor de bens agrícolas e industriais é um
suicídio, um crime contra as futuras gerações.
O Brasil
investe pouco em Ciência, Tecnologia e Inovação
- cerca de 1% do PIB - e investe mal. Não temos uma estratégia,
investimos estes (poucos) recursos de forma fragmentada, com baixíssimo
retorno para a sociedade. Segundo Paul Strasmann, a concentração
da riqueza se dá nos países que produzem produtos
e serviços intensivos em conhecimento: seis países
(EUA, Japão, Alemanha, Inglaterra, França e Itália),
com apenas 11% da população mundial, são
responsáveis por 62% do PIB do planeta. Na transição
da
sociedade agrícola para a sociedade industrial, no início
do século passado, o Brasil era o maior exportador de café
e importador de bens industrializados, de maior valor agregado.
Agora que estamos saindo da sociedade industrial e indo para a
sociedade do conhecimento, pretendemos ser o quê? Exportadores
de soja, ferro, automóveis e celulares? Produtos agrícolas
e industriais de baixo valor agregado?
Se não fizermos nada para mudar este rumo, continuaremos
a ser um país "em desenvolvimento". Acredito
que podemos virar este jogo se mudarmos nossa estratégia,
focando nosso desenvolvimento na produção de produtos
com maior valor agregado como software, biotecnologia, indústria
cultural e produtos mais tradicionais, como o petróleo
e o setor de agronegócios - agregando valor, no entanto.
A Universidade
tem que sair do gheto em que se instalou. Participar
ativamente da discussão dos rumos do país, propor
um modelo de desenvolvimento novo, alternativas e políticas
concretas. Parar com o lamento que caracteriza o movimento sindical
- que está representando cada vez menos o conjunto dos
professores e alunos, e propor alternativas concretas.
Posso
parecer provocativo, mas a UFRJ precisa acordar! Que instituição
possui um capital humano como o nosso na América Latina?
Não conheço nenhuma! Mas precisamos reconhecer que
estamos aproveitando muito pouco este enorme potencial. Seria
o primeiro passo para assumirmos um papel mais importante na construção
de um país mais justo e fraterno”..
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