|
|
Professor
Orlando Martins
Instituto de Ciências Biomédicas (ICB)
“A situação
atual das políticas de acesso às universidades públicas
é, infelizmente, muito pouco democrática. Primeiramente,
devido ao reduzido número de vagas existentes já
que o gargalo no acesso traz como conseqüência natural
a exclusão de grande parcela da sociedade. Além
do mais, a amostra que logra ingressar nas carreiras de maior
procura, possui um perfil étnico-sócio-econômico
que não corres-ponde ao da população brasileira
em geral. Portanto, sou favorável às políticas
de cotas como instrumento neutralizante da perversa e injusta
tendência da nossa estrutura sócio-cultural. Não
acho justo que pessoas tratadas com tamanha desigualdade ao longo
da vida tenham que competir em “igualdade de condições”
pelo acesso às universidades públicas. A experiência
recente do regime de cotas na Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ) nos mostra que a implementação de
bolsas de fixação dos cotistas é fundamental.
Como a nossa reitoria já previu no orçamento de
2005 um aumento significativo no número de bolsas de monitoria,
acho que a adequação destas bolsas aos cotistas
não seria uma tarefa muito difícil. A melhoria das
bibliotecas (com aquisição de acervo compatível
com o número de alunos) e a inauguração do
“bandejão” são também medidas
de ordem prática muito importantes. Acho importante citar
e sugerir a re-edição do POA (Programa de Orientação
Acadêmica) implementado no CCS na administração
da então decana Nilma Fontanive. Este programa, de inegável
sucesso na época, tem como ponto alto a forte participação
dos pós-graduandos na complementação tutorial
dos alunos, além de permitir a horizontalização
do aprendizado. A política de cotas, além de temporária
(já que estudos mostram
que ela se corrompe quando prolongada), deve levar em consideração
que, em curto prazo (um a dois anos), devemos modificar radicalmente
a forma de acesso à Universidade. As soluções
se dariam de diversas formas: desde a análise étnico-sócio-econômica
dos candidatos, em que se poderia atribuir pontos extras para
correção de distorções (medida esta
recém aprovada pela UNICAMP, por exemplo) até a
criação de uma nota mínima, a partir da qual
todos teriam direito ao ingresso na universidade e, desta forma,
as vagas poderiam ser preenchidas por sorteio. Considero vivermos
um momento histórico. O grande mérito do governo
estadual, e agora federal, foi trazer este assunto à tona
para discussão da sociedade. A constatação
do problema da falta de democracia no acesso às universidades
públicas deve vir acompanhada de soluções
de curto (cotas) e médio prazo (melhoria nas condições
de ensino fundamental e médio). No entanto, não
acredito que apenas a melhoria no ensino de primeiro e segundo
graus nas escolas públicas gere uma verdadeira inclusão
social. É incontestável que, nos anos 60 e 70, tínhamos
excelentes escolas publicas, no entanto, isto não era refletido
no acesso à universidade pública das classes menos
favorecidas. Esta inclusão, contudo, só será
efetiva com mudanças profundas nos critérios de
seleção para o ingresso nas universidades públicas”.
|
|
|
|
|
Professor
Rubem David Azulay
Faculdade de Medicina (FM)
Os movimentos sociais que clamam por ações
afirmativas, como a adoção de cotas sociais e/ou
raciais, alegam que elas aperfeiçoariam a democracia, na
medida em que corrigiriam injustiças históricas.
No entanto, a pedra fundamental da construção do
Estado democrático é a garantia de direitos iguais
para todos. Direitos universais, intrínsecos, irrevogáveis
e imprescritíveis. Estabelecer facilidades para grupos
sociais específicos, ou seja, não extensíveis
a todos, é, em essência, antidemocrático.
O indivíduo deve ingressar, no ensino superior federal,
por suas aptidões intelectuais, pelos méritos de
sua inteligência. Quem fizer por onde, tiver bom desempenho
no processo seletivo, entra. Caso contrário, não.
O processo seletivo pode não ser o ideal. Talvez não
retrate, de forma fidedigna, o histórico e a qualidade
dos alunos do Ensino Médio, mas o acesso é justo.
É meritocrático. As condições são
as mesmas para todos. É claro que as possibilidades são
diferentes para alunos de escolas particulares e públicas,
de baixo ou elevado poder de consumo, de diferentes padrões
culturais. Entretanto, essas distorções não
são engendradas pelo ensino superior, portanto, não
cabe à Universidade corrigi-las. Este é um problema
afeto à incipiente gestão de investimentos públicos
no Brasil, principalmente no que tange à Saúde e
à Educação. Este é o principal argumento
que desautoriza a adoção de cotas, como política
de acesso. Há outras questões, evidentemente. Os
alunos cotistas teriam necessidades extras, que não poderiam
deixar de ser atendidas, tais como bolsas e bandejão. Os
alunos, com reais dificuldades financeiras, precisam minimizar
seus gastos e conciliar trabalho com estudo. A abertura de cursos
noturnos atenderia a esta demanda com mais eficiência do
que a criação de uma rede de benefícios em
um curso de tempo integral. Haveria, também, um impacto
negativo na excelência acadêmica, ao admitirem-se
alunos de desempenho inferior, e isto foi abordado nos colegiados.
Esta abordagem de ação afirmativa beneficiaria alguns
afortunados em um universo amplo. Seria um paliativo, e não
uma solução estruturante. Mas, é cômodo
buscar corrigir, na Universidade, no topo, uma fratura no tecido
social, que demanda muitos esforços na base, nos ensinos
fundamental e médio. Ignoram-se as causas, em prol das
conseqüências, e, pior, desvirtua-se o sentido do que
é o direito democrático, e o respeito ao mérito.
|
|
|
|
|