O tratamento da dependência química

     

Opinião do psiquiatra Marcelo S. Cruz

“O atendimento do PROJAD procura fazer levantamentos retrospectivos da vida do paciente e, a partir daí, realizar tratamentos levando em consideração as questões familiares. Existem dados que sugerem que o componente hereditário é muito importante, mas não se pode nem prever quantos descendentes terão problemas com álcool, nem que obrigatoriamente uma determinada pessoa vá desenvolver um problema porque o tio, ou o pai, ou a mãe foram dependentes. Existe apenas uma chance maior. No entanto, a história familiar é ainda mais importante porque muitas vezes a família também precisa ser tratada.
“O PROJAD tem um trabalho de atendimento multidisciplinar para dependentes. A equipe é formada por médicos, psicólogos e assistentes sociais. O paciente recebe tanto a parte do atendimento médico, eventualmente diagnósticos e em alguns casos medicação, quanto o atendimento psicoterápico. Esse atendimento acontece individualmente, em grupo e também voltado para a família”.

Opinião da psicóloga Salete Ferreira

Sobre a questão de a dependência de drogas ter interferência genética ou social, é evidente que existe uma dimensão orgânica de um determinado corpo, de um indivíduo nascido em certo contexto social. Podemos pensar através de um ponto de vista muito mais orgânico do que essencialmente genético, principalmente porque em uma família que tem um usuário, não necessariamente todos se fazem usuários, e nem todos os sujeitos que experimentam drogas ao longo da vida se tornam dependentes. Essa é uma questão que deve ser analisada e que acaba com a possibilidade de a genética e do biológico serem preponderantes. Existe uma resposta de um corpo sim, mas existe também a resposta daquilo que é psíquico. Existe uma dimensão psíquica e uma social colocada num determinado tipo de droga, num certo tempo. Atualmente, a variedade de drogas é muito grande, por outro lado existe a preservação na cultura brasileira, do uso do álcool. Esta é uma droga historicamente usada em todas as civilizações e, no Brasil é usada de maneira muito específica, por determinadas classes sociais, e de forma muito banalizada. Então, não podemos necessariamente acreditar em uma genética do alcoolismo, mas em numa cultura de banalização do álcool e de seus efeitos maléficos. Afinal, o álcool, muitas vezes, está envolvido em situações de acidentes, agressividade etc. Então, há uma direção peculiar que se deve procurar dar em termos de políticas de saúde, especialmente a drogas lícitas, que são banalizadas por serem consideradas legais, o que não significa que a gravidade desses casos seja menor, pelo contrário, medicamentos e álcool continuam provocando casos graves e de tratamentos longos e difíceis. É preciso desconstruir o mito de que drogas pesadas se equiparam a tratamentos pesados e drogas leves, ou lícitas requerem tratamentos mais brandos, mais curtos.
Existe uma diversidade muito grande de drogas ilícitas e nós não podemos comparar os efeitos de uma dose de heroína injetável com um cigarro de maconha. Os prejuízos são variados e estão muito ligados ao tempo de uso, à forma e ao tipo de droga usada por cada paciente.