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Paulo
Bahia
Cientista político e professor do Instituto de Filosofia e Ciências
Sociais
“Nos últimos 15 anos, vêm surgindo no Brasil novas
modalidades de protesto que não são aquelas tradicionais
dos movimentos sociais, como o Movimento dos Sem- Terra (MST) e dos Sem-Teto.
São movimentos diários, motivadas por demandas de respeito,
em todas as grandes metrópoles brasileiras como São Paulo,
Rio de Janeiro e Belo Horizonte. As massas de miseráveis saem às
ruas, interditam vias públicas, quebram e queimam ônibus
para manifestar sua revolta e indignação contra insultos
morais, geralmente, cometidos pelo poder público e pela sociedade.
São revoltas e conflitos civis (chamo assim porque a sociedade
e o Estado criminalizam essas formas de protesto, reprimindo violentamente).
Estas formas de protestar geralmente são deflagradas porque as
pessoas querem ser respeitadas enquanto seres humanos, enquanto pessoas.
Entretanto, por serem reprimidas ativamente, a massa de miseráveis
não consegue o respeito pelo qual lutam e os conflitos não
têm eficácia.
No período da ditadura militar, as manifestações
eram fortemente reprimidas e as formas de protesto mais comuns eram as
greves e os movimentos associativos (década de 70 e 80), que lutavam
contra a ditadura e pela inserção de direitos civis, como,
por exemplo, direito à moradia, ao saneamento básico, à
luz elétrica e à água encanada.
Com o restabelecimento de um Estado democrático, esse movimento
acaba sendo canalizado para os partidos, porque o parlamento volta a ganhar
força e o movimento social começa perder força. Sendo
retomado, agora, por essas explosões de miseráveis.”
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Gustavo
Moreira Speridião
Aluno da Pós-graduação da Escola de Belas Artes
"Novas formas
de protesto têm surgido em diferentes partes do mundo. Um exemplo
recente do que tem acontecido de 1999 para cá, se deu em Seattle,
no Estados Unidos, onde a juventude junto com os trabalhadores entrou
em cena nas lutas antiglobalização. São milhões
nas ruas, fechando-as, fazendo barricadas contra a política norte-americana.
Isso, sem dúvida, é uma nova forma de protesto.
Além disso, após a deflagração da guerra do
Iraque, vários países de diferentes partes do mundo protestaram
no mesmo dia, 15 de fevereiro de 2003, e na mesma hora contra a guerra.
Foi um fato inédito na história mundial, pois quando poderia
se imaginar que o mundo inteiro iria se organizar para protestar contra
a ocupação de um país subdesenvolvido por um claramente
imperialista? Os protestos ganharam dimensões incalculáveis,
foram mais de 500 mil pessoas nas ruas alemães, 250 mil em Nova
York, outras 250 mil em Washington. No Brasil também protestaram.
Com as novas formas de comunicação, como a internet, os
acontecimentos atingem maior projeção. Resumindo, os países
dominantes globalizaram a guerra, a miséria, entretanto as massas
globalizaram e unificaram a luta.
Na América Latina, os efeitos das formas de protestar podem ser
identificados nas quedas de vários presidentes (Equador, Bolívia,
Argentina) de 2000 até os dias de hoje. Na Venezuela estão
acontecendo manifestações de massas e agora no Brasil elas
também passam a surgir, principalmente, depois da denúncia
do mensalão. É importante ressaltar que, a cada dia, surgem
mais ativistas no mundo inteiro para protestar contra o poder.”
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