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João
Abel da Costa
Graduado
em Letras pela UFRJ
Graduando de Comunicação, habilitação Rádio
e T.V - UFRJ
"É
indiscutível a proposta de transformação estrutural
e administrativa da Era Vargas para o estado brasileiro maquiada na década
de 60 pelo golpe militar. Este se deu no projeto desenvolvimentista calcado
no endividamento externo, em uma tecnoburocracia específica para
cada área do aparelho estatal e no clientelismo/fisiologismo das
relações sociais, alicerçado em parâmetros
excludentes para a população de baixo poder aquisitivo (consumo).
No início dos anos 90, para substituir o modelo vigente, foi elaborado
e executado o receituário do estado mínimo, fragilizando
assim as necessidades ditas básicas para o exercício da
cidadania pelas pessoas que se encontram na linha de marginalidade ou
pobreza da sociedade brasileira. Tais necessidades, como saúde,
educação, cultura, moradia, lazer, etc, tornaram-se, atualmente,
utopias a serem alcançadas.
A reforma universitária, e o item assistência estudantil,
se situam nesse contexto de embate ideológico. Como superar a contradição
entre o auxílio da distribuição de bolsas (científicas,
de moradia, de estudos, etc) com editais altamente excludentes elaborados
pela tecnoburocracia, e o clientelismo dos seguidores do receituário
do Estado Mínimo, onde os critérios de seleção
são altamente controvertidos? Isso levando-se em conta que os mesmos
têm pontos em comum, como a fragmentação da cidadania
plena.
Não tenho a resposta, mas aponto o caminho a ser percorrido, que
é o resgate do conceito da Coisa Pública
(Rex Pública) que em hipótese alguma pode ser confundido
com o Estado. Este é um corpo funcional, onde as pessoas são
selecionadas no seio da sociedade para preencherem os perfis específicos
das áreas do aparelho estatal. Já a coisa pública
é um ente material que está inserido no imaginário
popular como um bem a ser usado por todos de forma eqüitativa. Logo,
o modelo tecnoburocrata, cuja verticalização o afasta da
base da sociedade possibilitando favorecimentos e algumas relações
promíscuas, e a ausência de um corpo funcional nos serviços
básicos de atendimento à população cria um
vácuo que será preenchido por entidades privadas, cujos
interesses não têm nada haver com os anseios dessa base social.
Tanto um modelo quanto o outro não contemplam o cidadão
em seu significado primordial."
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Pedro
Martins
Representante do Diretório Central dos Estudantes da UFRJ
DCE Mário Prata
"Um dos principais
problemas que a universidade brasileira enfrenta hoje é a questão
da assistência estudantil. Essa questão faz parte da política
de permanência do estudante na universidade. Moradia, alimentação
e bolsa auxílio são questões fundamentais para que
os estudantes possam desenvolver suas atividades acadêmicas de forma
mais tranqüila. Entretanto, o que se vê nos últimos
tempos é uma total decadência dessa política na universidade.
Bandejões fechados; alojamentos caindo aos pedaços e bolsas
cada vez mais escassas. E qual a política do governo para a universidade
nesse momento? Depois de Prouni, lei de Inovação Tecnológica,
vem o ponto final da Reforma Universitária, com a votação
do ante-projeto e o aprofundamento da privatização do ensino
público.
As principais inovações agora são: Sistema Nacional
do Ensino Superior, que põe todas a universidades brasileiras,
públicas e privadas, em igualdade de condições para
concorrer às verbas estatais; e a autonomia financeira, que permite
que as públicas corram atrás de recursos junto ao mercado
para se sustentarem. Isso significa claramente um favorecimento ao setor
privado, que poderá ganhar verbas estatais, e um ataque ao setor
público que terá de se entregar à lógica do
mercado para sobreviver. Esses dois pontos são os principais norteadores
de toda a política do governo para o ensino superior, e os demais
pontos da reforma devem ser vistos à luz dessa discussão.
Dentro disso, o governo impõe que 9% do orçamento das universidades
públicas deverão ser destinados para assistência estudantil.
No enunciado parece algo maravilhoso, mas esses 9% são em cima
somente do orçamento vindo do MEC, que agora dá igualdade
de condições para UFRJ e a Estácio ganharem a verba
estatal. Com essa política de divisão do bolo, a verba que
cada universidade investirá em assistência fica ainda menor.
Assim, 9% parece ser um enunciado lindo, mas diante da política
global da reforma a realidade de miséria das condições
de permanência do estudante na universidade está cada vez
mais distante de ser resolvida." |
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