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olho no olho
Olho no Olho
16.08.2005
Espelho côncavo
Raphael Ferreira
 
As pesquisas estatísticas, utilizadas com freqüência em estudos científicos e reportagens, são encaradas pelo senso comum como reflexos indiscutíveis e fiéis da realidade. Muitas vezes provenientes de instituições especializadas, elas adquiriram a função de fundamentar e comprovar os fatos apurados, transmitindo maior confiabilidade aos estudiosos e leitores. Porém, o que geralmente não se coloca em questão é a confiabilidade da própria estatística que, como qualquer pesquisa, também é passível de erros e deturpações.

O Olhar Virtual convidou os professores Hélio dos Santos Migon, do Departamento de Métodos Estatísticos do Instituto de Matemática da UFRJ (IM/UFRJ), e Gabriela Scotto, doutora em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ, para discutir sobre indagações que vão além da simples margem de erro possível em estatísticas: E quando essas deturpações são intencionais? O que acontece quando os critérios de coleta de dados são imprecisos? Até que ponto a estatística é capaz de manipular a opinião pública?

 

Professor Hélio dos Santos Migon

"Podemos utilizar o termo Estatística para nos referir tanto a uma mera coleção de dados, dispostos em tabelas ou gráficos, como para denominar uma disciplina estruturada em bases matemáticas sólidas, incluindo tópicos como planejamento de experimentos, desenho de pesquisas, elaboração de modelos para descrever fenômenos aleatórios complexos, etc. Neste texto, estaremos considerando aspectos desta disciplina substantiva, tão necessária para a validação de hipóteses nos mais variados ramos da ciência.
Diversas áreas da atividade humana influem (manipulam) na opinião pública, às vezes de forma ardilosa, outras por casualidade. Com a Estatística isto não é diferente. Ao se planejar um levantamento por amostragem tem-se que cuidar de várias atividades para garantir a qualidade dos dados, além de lidar com uma equipe multidisciplinar. Discutem-se os alvos da pesquisa, elabora-se um questionário, treinam-se os entrevistadores, etc. As perguntas devem se reportar exatamente ao mesmo fato econômico, social, etc, e referir-se a um espaço-tempo muito bem definido. Realmente, é de uma grande complexidade. Assim, não é difícil admitir que possam ocorrer, algumas vezes, erros de implementação. Mesmo nesta hora, a Estatística está repleta de técnicas para imputar dados e corrigi-los.
Por exemplo, em pesquisas de intenção de voto argumenta-se que os Institutos manipulam resultados em favor de determinados candidatos. Dizem que assim influenciam na captação de recursos, etc. Isto pode até ser verdade, embora precise ser cientificamente comprovado. Parece-nos, entretanto, inusitado, pois não é assim que as coisas ocorrem na área de propaganda. Campanhas publicitárias são desenvolvidas com o objetivo de manter certa marca ou produto na memória do consumidor. A lógica é de que, se por alguma razão, ele desejar mudar de marca, é provável que o faça para aquela mais presente em sua memória. Pesquisas de memorização são realizadas para comprovar a eficiência de uma campanha. No caso eleitoral, tenta-se dizer o contrário: o resultado da pesquisa é mais relevante que o discurso do candidato, suas propostas, seu tempo de exposição na mídia, etc.
Nosso ponto é que a sociedade precisa deixar de ser ingênua. Deve ser melhor educada para interpretar fatos de sua realidade (sociais, políticos, econômicos), não os aceitando sem criticá-los. É preciso desconfiar sempre dos números. Analise-os com cautela, compare-os com outras fontes de dados. Um exemplo marcante de que não há almoço gratuito: você recebe uma propaganda de uma consultora dizendo-se especializada em orientação para investimentos no mercado financeiro. Manda-lhe, nesta primeira carta, uma previsão para o estado (alta/baixa) do mercado na próxima semana. Ao final da semana, você verifica que ela acertou o prognóstico. Na semana seguinte, você recebe outra carta e uma nova previsão. Ao fim de cinco semanas, você verifica que ela fez cinco previsões acertadas. Espantoso, não! Seja crítico. Parece bom demais para ser verdadeiro. De fato, ela de início escreveu 32 cartas: metade prevendo alta e metade baixa. Na semana seguinte, remete cartas somente para os 16 onde acertou a previsão anterior. Assim por diante, de forma que você é o único em que ela fez 5 acertos. Nada de especial, somente esperteza.
Pense, analise criticamente os fatos, contraste os números com outras fontes, não seja ingênuo. A esperteza só prospera no meio dos incautos."

 

Professora Gabriela Scotto

"As sondagens de "opinião pública", herdeiras técnicas e filosóficas da Estatística Social do século XIX, se desenvolvem e padronizam a partir de 1930. Em 1932, a revista The Literary Digest, nos EUA, enviou milhares de questionários a todas as pessoas que conseguiu listar, acertando com precisão o vencedor da eleição presidencial norte-americana. Apenas uns anos mais tarde, em 1935, George Gallup inaugura, em Princeton, o primeiro instituto dedicado a pesquisas sociais. O instituto ficou famoso por prever a vitória do Presidente Roosevelt nas eleições de 1936, utilizando alguns elementos da amostragem probabilística, quer dizer, elementos que, levando em conta uns poucos milhares de pessoas, permitiriam conhecer a “opinião” de milhões.
Neste contexto, são freqüentes os debates sobre se os números das sondagens de opinião refletem com exatidão a opinião dos cidadãos e até que ponto elas são “científicas”. No entanto, acredito que a questão mais interessante a ser discutida não seja a do princípio da representatividade da amostra (já que o problema que elas nos apresentam não é matemático ou estatístico), mas a questão sobre os postulados que estão por trás da idéia de que a “opinião pública” pode ser reduzida e expressa estatisticamente. As pesquisas de opinião, com seu aspecto de cientificidade, conseguem transformar aquilo que na origem é um simples artefato técnico em realidade social, isto é, em uma crença coletiva no valor da “razão estatística”.
Concordo com Pierre Bourdieu quando, no seu artigo “A opinião pública não existe” escreve que a função política mais importante das sondagens de opinião consiste, talvez, em “impor a ilusão de que existe uma opinião pública como pura adição de opiniões individuais”, em impor a idéia de que numa cidade como o Rio de Janeiro, por exemplo, existe uma opinião pública pensada como a média das opiniões ou das opiniões médias.
Há um outro autor, também francês, muito interessante, Patrick Champagne, que no seu livro Formar a opinião – o novo jogo político, demonstra (para o caso das pesquisas eleitorais) que não existe uma tal “opinião pública”, e que aquilo que se designa com este termo é, na realidade, um espaço social dominado por um conjunto de profissionais (comerciantes de pesquisas, politicólogos, assessores de comunicação e marketing político, jornalistas, etc), que utilizam as tecnologias modernas para dar uma existência autônoma à “opinião pública” por eles mesmos fabricada."

           

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