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Moreno, alto, 1,85m,
olhos verdes, corpo musculoso...Bom, acredite se quiser. O fato de estar
na internet, nos permite ser quem quisermos – homem ou mulher, feio
ou bonito. Permite ultrapassar os limites do tolerável, sem que
ninguém perceba nossa presença. No entanto, o lema “aqui
tudo é possível”, erguido por esse cyber espaço,
pode, por inúmeras vezes, criar sérios problemas como, por
exemplo, expor de maneira depreciativa a vida alheia.
Preocupada com a situação, a equipe do Olhar Virtual
convidou a antropóloga Mirian Goldenberg, e a diretora da Escola
de Belas Artes, Ângela Âncora, para discutirem o assunto.
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Mirian Goldenberg
Antropóloga
Professora do IFCS-UFRJ
"A internet tem sido um instrumento de enorme valor na democratização
das informações e do conhecimento científico em todo
mundo. Movimentos sociais, escritores, artistas, políticos, intelectuais,
cientistas divulgam, hoje, o seu trabalho muito mais facilmente e com
alcance bem maior em função desta rede mundial.
Pode-se dizer que a internet é um dos principais fatores de democratização
e luta pelos direitos humanos atualmente. No entanto, existe o lado perverso
da rede que tem sido denunciado recentemente: a exposição
de vídeos, fotos e textos extremamente pessoais para milhares ou
milhões de desconhecidos, sem o consentimento dos personagens envolvidos.
Este lado perverso, que começou com a divulgação
da vida privada das celebridades, hoje coloca na rede cenas sexuais de
jovens que têm suas vidas praticamente destruídas por alguns
minutos de exposição na rede. Como conseqüência,
existe atualmente uma nova preocupação, fruto do avanço
tecnológico: como minha imagem pode e deve ser difundida? O que
preciso fazer para preservá-la? Como posso ter certeza de que meus
momentos íntimos não estão sendo fotografados ou
filmados? Vale lembrar que até inocentes celulares podem ser uma
arma capaz de destruir a imagem de qualquer anônimo ou celebridade.
Não são apenas os exibicionistas que participam dos Big
Brothers da vida ou os freqüentadores da Ilha de Caras que estão
sendo vigiados. Neste sentido, acredito que todos nós seremos muito
mais vigilantes com relação ao nosso comportamento e palavras
em um futuro bem próximo."
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Ângela Âncora
Diretora da escola de Belas Artes – UFRJ
"A internet está entrando,
hoje, no local que no passado o comunicólogo Marshall MacLuhan
pensou que a televisão fosse ocupar. Macluhan falava em aldeia
global, ou seja, defendia a idéia de que a televisão iria
transformar o mundo numa aldeia. Na verdade, atualmente nós vemos
que tal veículo não transformou a terra em uma aldeia. A
internet, no entanto, está preenchendo esse papel uma vez que vem
destruindo territórios, derrubando fronteiras, corrompendo de certa
forma a nacionalidade – é perigoso falar nesse termo (nacionalismo),
até porque, em alguns lugares ele ainda nem foi bem construído.
Hoje em dia, através da rede mundial, é possível
que alguém conheça uma pessoa que esteja na Bélgica
ou Canadá, mas não conheça o seu vizinho. É
possível que alguém se torne o interlocutor e o confessor
de uma pessoa que está do outro lado do mundo, desconhecendo coisas
que estão mais próximas. A internet está contribuindo
para construção de uma nação, mas, ao meu
ver, muito perigosa.
O perigo está ocultação da responsabilidade sobre
aquilo que você pensa, fala ou escreve. Todos nós temos o
direito de expressar nosso pensamento, desde que nos responsabilizamos
por ele. E isso não acontece na internet. As pessoas expõem
suas idéias, umas as outras, mas não assumem autoria. A
rede permite que o autor se esconda. Ela joga o pensamento no anonimato
e, então, a coisa para mim fica muito complicada, ou melhor, covarde.
Desde o momento que você expõe suas idéias, fala o
que quiser de quem quiser, podendo resguardar sua identidade, considero
uma enorme covardia.
Finalizo dizendo que a internet participa ativamente para perda da responsabilidade
individual e, principalmente, da privacidade, uma vez que ninguém
precisa responder por aquilo que fala de si e do próximo."
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