Warning: include(): http:// wrapper is disabled in the server configuration by allow_url_include=0 in /mnt/unity/olharvirtual.ufrj.br/portal/ant/2005-08-02/05_08_02_ponto.php on line 16

Warning: include(http://www.olharvirtual.ufrj.br/contador/contador.php?cod=ponto&ip=18.223.21.5): failed to open stream: no suitable wrapper could be found in /mnt/unity/olharvirtual.ufrj.br/portal/ant/2005-08-02/05_08_02_ponto.php on line 16

Warning: include(): Failed opening 'http://www.olharvirtual.ufrj.br/contador/contador.php?cod=ponto&ip=18.223.21.5' for inclusion (include_path='.:/usr/share/pear:/usr/share/php') in /mnt/unity/olharvirtual.ufrj.br/portal/ant/2005-08-02/05_08_02_ponto.php on line 16
ponto de vista
Ponto de Vista
02.08.2005
O que é saber Português?
Luciana Campos
 


prof. Marcelo Corrêa e Castro

Na edição anterior, o Olhar Virtual levantou a discussão a respeito da relação entre os meios de comunicação e a sua interferência na forma como as pessoas se comunicam. Esta semana, o Olhar Virtual deu continuidade ao assunto. Só que agora, com um enfoque diferente.

É comum ouvirmos a pergunta ‘o que é saber Português?’, é feita quase que diariamente por estudantes e especialistas no assunto. O ensino do Português, considerado um dos idiomas mais difíceis, gera muitas divergências entre os estudiosos O diretor da Faculdade de Educação da UFRJ, Marcelo Corrêa e Castro, concedeu ao Olhar Virtual uma declaração na qual ele afirma que o ensino do Português se baseia em princípios já superados.

Marcelo Corrêa e Castro passou mais de 20 anos ensinando e formando professores de português. A dissertação de mestrado do professor aborda a questão do ensino de português e sua tese de doutorado, que no momento passa por um processo final de edição, faz alusão ao ensino de redação.

“Saber uma língua, qualquer falante nativo sabe. Eles têm o domínio das estruturas básicas. A questão é que a língua utilizada de diversas maneiras, em diversas situações, acaba gerando modalidades, usos, existindo assim, várias formas de se referir a ela. A escola optou por trabalhar em cima de um domínio, de um desses usos, no caso, o que chamamos de modalidade padrão, de norma culta.

Está em voga a discussão do que é a norma . A Faculdade de Letras tem um projeto sobre este tema. A norma culta, por definição, é um uso da língua, feito pelas classes mais prestigiosa do país. São termos exatos de Joaquim Matoso Câmara Junior. Na verdade, quem é a classe mais prestigiosa do país? Os deputados, por exemplo, cometem vários desvios da norma dita culta. Os jornais, cada vez menos cuidadosos com a forma como escrevem, são aqueles que seriam, digamos, os representantes, os guardiões da norma culta.A língua é dinâmica, também eles não têm um falar tão consistentemente culto.

Agora, o grande problema do ensino está nos deslocamentos que ele faz em função de princípios pedagógicos equivocados, baseando-se em alguns princípios já superados, dos quais não consegue se livrar . Por exemplo, a língua varia no tempo, no espaço e na classe social. A escola não consegue transformar esse conhecimento em alguma coisa prática . Ou ela fica passando a mão na cabeça do estudante que tem um uso insuficiente do idioma, ou ela fica impondo a qualquer preço um único uso. Mas, ela não sabe como lidar com essa situação.

O problema grave do ensino de língua é a questão de se imaginar que descrevendo o uso, necessariamente, irá se fazer com que o estudante a use melhor. Se eu descrever para você, teoricamente, como é que se nada, isso não garante que você vai aprender a nadar.Isso é semelhante ao que acontece com o ensino de Português. As descrições que a gente possui sobre ele não são confiáveis por dois motivos: um porque sua base científica não é propriamente uma base confiável, quer dizer, o desenvolvimento foi grande nos últimos 20 e 30 anos, mas a gente ainda tem várias categorias frágeis, principalmente naquilo que os alunos não sabem, como classe de palavras e função sintática. Por quê? Porque estes temas são iguais a brinquedos de camelô, só funcionam na mão do vendedor.

São categorias que não se sustentam. Então, o professor já sabe o exemplo e a pergunta que tem que fazer. Não se ensina ninguém a analisar. São apresentados uns paradigmas e diz: olha, a oração substantiva é assim. A pessoa guarda aquele modelo e o compara com outro, tendo que identificar no último o que foi aprendido. Em uma análise não, você olha, para, pensa, estabelece relações e elabora hipóteses.

O ensino de Português não é um exame da língua. Ele é uma descrição que disfarça, no final das contas, uma prescrição. Na verdade, eu não estou descrevendo a língua. Eu estou descrevendo mal algumas categorias insuficientes ou um certo uso da língua, que é o uso culto. E esse uso culto para a Escola é o mesmo questionado por especialistas. Na verdade, esse uso culto ainda é o uso literário lusitano clássico. Quer dizer, não é nem o uso atual brasileiro.


O falante nativo incorpora a língua e suas regras básicas naturalmente, sem que alguém explique a ele como isso acontece. Mesmo que não se diga ao falante nativo quais os paradigmas que norteiam as conjugações verbais, ele descobre como se dá esse processo. Como isso é possível? Pelo uso e pela capacidade que o homem tem de fazer incorporações e selecionar o que pertence ou não a língua.

Exemplo disso acontece quando se pergunta para uma criança se ela já fez xixi. A resposta certamente não será “eu já fez xix”. Pelo contrário, a criança dirá que já fez xixi conjugando corretamente o verbo. E por quê isso acontece? Porque ela sabe que há uma anormalidade naquela forma de pronunciar o verbo. E como ela aprendeu aquilo? Foi natural, sem a ajuda da escola.

Existe uma capacidade que o ser humano desenvolveu de estabelecer e compreender esses códigos da língua. Assim, o ensino peca porque supõe que o melhor caminho a ser seguido é o da descrição. Na verdade, o domínio da língua aumenta na medida em que você está mais exposto a ela. O que é estar exposto a ela? É estar em situações nas quais o uso da língua seja real.”

Na próxima semana, o Olhar Virtual irá continuar nesta questão do português. A diretora da Faculdade de Letras da UFRJ, Maria Cecília de Magalhães Mollica, será a próxima a opinar sobre o assunto.

Foto por: Marcos Fernandes

         

Notícias anteriores:

• 26/07/2005 - Irresponsabilidade tem preço
• 19/07/2005 - É bom, mas nem tanto
• 12/07/2005 - Se esse Rio fosse meu, eu mandava sanear