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olho no olho
Olho no Olho
26.07.2005
Nem certo, nem errado, muito pelo contrário!          
Carlos eduardo Cayres
 

Ao longo dos anos percebe-se que cada vez mais as pessoas estão falando errado. Será que a mídia tem alguma parcela de culpa nessa situação? Programas televisivos em que as falas dos personagens beiram o vocabulário esdrúxulo – como, por exemplo, o “Seu Creysson”, do programa Casseta e Planeta – contribuem para um uso incorreto da Língua Portuguesa? Para discutir o assunto e responder essas perguntas, o Olhar Virtual convidou os professores Mário Eduardo Martelotta e Fernando Santoro. Mario defendeu a idéia de que não existe uso correto ou incorreto da língua, entre outras coisas. Já Fernando afirmou, entre diversos argumentos, que os meios de comunicação buscam refletir e atender a forma mais atual da língua falada.

 
 


 
 

Mário Eduardo Martelotta
Dep. de lingüística / Faculdade de Letras

"De que forma a mídia contribui para o uso incorreto da língua portuguesa? Antes de responder a essa pergunta, é importante registrar uma coisa: não existe uso correto ou incorreto da língua: cientificamente, não há nada em uma forma de expressão que a caracterize como certa ou errada. A lingüística, ciência que estuda a linguagem, observa que todas as línguas naturais apresentam variação (formas alternativas de falar, que coexistem em um mesmo período de tempo) e mudança (surgimento de novas formas de expressão, com o conseqüente desaparecimento de outras antigas).
Por um lado, qualquer língua varia de acordo com a região, a classe social, a idade e o sexo dos falantes, e até mesmo de indivíduo para indivíduo. Diante dessa realidade, surge a inevitável pergunta: qual seria a linguagem “correta”? A da capital ou a do interior, a das classes privilegiadas ou a das classes pobres? Não é necessário muito raciocínio para se chegar à resposta. A linguagem correta é a das capitais, a das classes que detêm o poder, e assim por diante. Isso quer dizer que os critérios utilizados para se eleger a forma padrão de se utilizar uma língua não são de caráter lingüístico, mas de natureza sócio-cultural.
Por outro lado, qualquer língua muda com o tempo. Isso significa que, muitas vezes, o que é certo hoje já foi errado ontem. Hoje nós criticamos pessoas que falam framengo, em lugar de flamengo, bicicreta, em lugar de bicicleta. Mas é importante lembrar que, por exemplo, a atual palavra pranto (choro, lágrimas), pelo menos até o século XVI aparecia nos texto como planto. Essa troca do l pelo r não é mais considerada errada por que se generalizou na língua, entrando na fala culta e na escrita.
É claro que existe um padrão de uso da língua (que não é o correto, mas somente um padrão ou modelo), que é importante, entre outras coisas, no sentido de promover a unificação da língua. Analisando a questão de um ponto de vista sócio-cultural, pode-se dizer que o conhecimento desse padrão significa, para o indivíduo, acesso a melhores empregos, e, portanto, a posições sócio-econômicas mais cômodas. Esse padrão é ensinado em todas as escolas do país e é utilizado nas rádios e nas televisões. E isso traz de volta a questão inicial.
O “Seu Creysson”, do programa Casseta e Planeta, é um, entre vários outros personagens caricaturais, que utilizam a “linguagem errada” em programas de humor. Isso já era visto em Mazzaropi (quem iria comprar a imagem do caipira vivido pelo autor em meados do século passado, falando o mais puro português camoniano?), passou pelo trapalhão vivido por Renato Aragão, por vários personagens de Chico Anísio e chegou aos programas atuais. Mas não se deve esquecer que também existem os programas “sérios”, como os jornais, as entrevistas, entre outros, em que a língua padrão está representada. De modo que não é adequado dizer que esses personagens contribuem para deterioração da nossa língua, já que sua fala reflete a caricatura da fala popular, que é real e tem o seu lugar no cotidiano das pessoas, ao lado das situações em que a fala padrão seria mais adequada.
O problema que eu vejo, por parte da mídia é que os programas informativos, já minimamente intelectualizados, estão cada vez mais raros e os poucos que ainda resistem são apresentados às 6 horas da manhã, à meia-noite, ou em outros horários impossíveis (ou estão na tv a cabo, é claro). Quanto aos programas de auditório que ocupam os horários nobres e que possuem grande audiência, o mínimo que se pode dizer é que chegam ao nível do grotesco. Associando isso à falência do sistema educativo no país, acredito que o Brasil vive um momento complicado, em que, cada vez menos se valoriza a reflexão e a sensibilidade e o poder crítico, o que, cada vez mais, abre espaço para tragédias como a que vem sendo encenada no palco da política nacional."

 

Prof. Fernando Santoro
Dep. de Filosofia / Lab. OUSIA

"Os meios de comunicação em geral buscam refletir o estado mais atual da língua falada, para serem mais eficazes em seu objetivo: a comunicação de informações. A língua falada compreende forças lingüísticas em várias direções, muitas vezes contrárias. Ao mesmo tempo em que é volúvel e seduzida por modismos fugazes como as gírias, é também muito conservadora e pouco tolerante às inovações produzidas pela literatura. Ela tende a refletir assim um mediano senso comum, inclusive uma certa formação medíocre que reflete o grau de escolaridade dos leitores, ouvintes, espectadores. Dependendo do poder de alcance do meio de comunicação, esta tendência mediocrizante tende a se expandir, absorvendo variantes regionais e sociais. O alcance de uma telenovela, por exemplo, é enorme e pode levar uma forma dialetal específica, ou um sotaque (a fala do carioca nas novelas da rede Globo, digamos) a todo o país e mesmo a além mar. O problema, em termos educacionais, não é a de uma “contribuição para o uso incorreto” mas a adoção de certos padrões de correção, como por exemplo, o uso dos possessivos “deles” e “delas” e a interdição do uso de “seu” e suas derivações. Os meios de comunicação, enquanto veículos informacionais, usam e passam uma linguagem de rápida compreensão. O que estimula e vivifica a língua é, por outro lado, o seu uso inteligente e criativo. O uso inteligente requer reflexão, quer dizer, um olhar que se volta sobre si mesmo; nos meios de comunicação isto pode se dar quando a própria informação e o seu veículo são postos em questão. Quando o próprio veículo mostra o quanto a informação transmitida é um recorte movido por uma perspectiva e interesse. Uma iniciativa muito interessante neste sentido é o Observatório da Imprensa, na Internet. O uso criativo, passa por um diálogo com as artes: poesia, cinema, teatro, música etc., não apenas veiculando o que as diversas artes produzem, mas incorporando na linguagem do próprio meio as suas criações."

             
 
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