Warning: include(): http:// wrapper is disabled in the server configuration by allow_url_include=0 in /mnt/unity/olharvirtual.ufrj.br/portal/ant/2005-07-12/05_07_12_olhonoolho.php on line 16

Warning: include(http://www.olharvirtual.ufrj.br/contador/contador.php?cod=olhonoolho&ip=3.22.248.208): failed to open stream: no suitable wrapper could be found in /mnt/unity/olharvirtual.ufrj.br/portal/ant/2005-07-12/05_07_12_olhonoolho.php on line 16

Warning: include(): Failed opening 'http://www.olharvirtual.ufrj.br/contador/contador.php?cod=olhonoolho&ip=3.22.248.208' for inclusion (include_path='.:/usr/share/pear:/usr/share/php') in /mnt/unity/olharvirtual.ufrj.br/portal/ant/2005-07-12/05_07_12_olhonoolho.php on line 16
olho no olho
Olho no Olho
12.07.2005
É preciso desmistificar o déficit da Previdência          
Raphael Ferreira
 

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva estuda novos meios de controle do déficit da Previdência, que hoje está entre R$ 37 bilhões e R$40 bilhões, baseando-se em um pacote de medidas anunciado há dois meses que inclui medidas de combate a fraudes e maior fiscalização na concessão dos benefícios. Desta vez, o governo pretende fixar uma meta de cinco anos para a eliminação total desse déficit.

 
É realmente possível eliminar uma dívida de bilhões de reais em apenas cinco anos, considerando sua carga histórica de fraudes? Se possível, de que maneira? Se não for possível, por que não? A equipe do Olhar Virtual procurou Denise Lobato Gentil e Maria Lúcia Werneck para analisarem o assunto.
 


 
 

Denise Lobato Gentil
Professora do Instituto de Economia

"A opinião pública tem sido influenciada por uma noção negativa de previdência pública, que não corresponde à realidade. Desmistificar esse panorama sombrio que se construiu em torno da Previdência Social não é uma tarefa fácil. Para começar, os números utilizados para avaliar a situação financeira da Previdência são enganosos e alarmistas. Divulga-se que o déficit previdenciário, em 2004, é de R$ 32 bilhões. Entretanto, esse cálculo não leva em consideração todas as receitas destinadas à Previdência, deixando de computar os recursos provenientes da COFINS, do CPMF, da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido e outras receitas. É considerada fonte de receita apenas a obtida com a folha de pagamento, o que é, no mínimo, curioso.
O resultado é um déficit maior que o real. Se for computada a totalidade das fontes de recursos da Previdência, o déficit apurado cairá para R$ 17 bilhões ou 1% do PIB. O governo gastou no mesmo ano de 2004, com o pagamento de juros da dívida, o montante de R$ 128 bilhões ou 7,3% do PIB. Se tivesse reduzido milimetricamente a taxa de juros, teria economizado o suficiente para cobrir o 1% de déficit gerado pela Previdência. Entretanto, o governo prefere cortar gastos com a Previdência a ter que limitar as despesas com juros.
É preciso também advertir o leitor de que é incorreto avaliar a Previdência isolando os números do Regime Geral da Previdência Social dos dados do orçamento da Seguridade Social. Embora muito popular, esta é uma forma limitada de analisar o problema. A Previdência é parte integrante do Sistema de Seguridade Social. Poucos sabem, entretanto, que esse sistema tem uma situação superavitária desde 1999 até 2004, e que recursos são desviados da Previdência para financiar o orçamento fiscal do governo.
Além disso, os grandes programas sociais não devem ser vistos como negócios de uma empresa privada, que têm que dar lucro. É incabível julgar o desempenho desses programas por critérios meramente financeiros, de déficit nulo. O direito aos benefícios é um direito a cidadania. Assim, se a responsabilidade do governo é dar proteção social à população e, no entanto, propõe zerar o déficit, é porque optou por desistir da tarefa que lhe cabe de lutar contra a pobreza, com o objetivo de “acalmar as incertezas do mercado”.
Finalmente, é preciso ressaltar que o déficit previdenciário tem sido fortemente induzido pela performance da economia. Num cenário de crescimento econômico muito baixo, a receita da previdência, que depende do nível de emprego, do patamar dos salários e do nível dos lucros, tende a ser menor, enquanto os gastos do governo se elevam, devido ao agrave no empobrecimento da população. Portanto, a solução para a “crise” da Previdência está associada a uma mudança na política econômica que promova o crescimento econômico.

 

Maria Lúcia Werneck
Professora do Instituto de Economia

"São bem-vindas, sem dúvida, medidas destinadas a combater fraudes e controlar a concessão de benefícios da Previdência Social. Ajudam a manter a saúde financeira e, sobretudo, a credibilidade de uma das mais importantes instituições do país. Não deveriam ser anunciadas, porém, sob um falso argumento: o de que a previdência, porque deficitária, precisa de restrições.

A Previdência Social brasileira é ainda, apesar das tentativas feitas em 1998 e em 2004 para alterar a sua natureza, parte integrante de um sistema de Seguridade Social instituído pela Constituição de 1988. As receitas para o financiamento desse sistema, também estabelecidas constitucionalmente, são suficientes para cobrir não só os gastos previdenciários com os segurados do INSS, como as despesas com saúde e assistência social, as duas outras partes da Seguridade. Vários estudos têm mostrado que o volume arrecadado ano a ano com as contribuições de empregados e empregadores, com a contribuição sobre o lucro líquido das empresas, com a COFINS (contribuição sobre o faturamento das empresas), e outras contribuições (inclusive a CPMF, criada em 1996), ultrapassa em muito o total dos gastos relativos à seguridade.

Dois fatores inscritos na legislação infraconstitucional, porém, promovem a evasão dos recursos da seguridade. O primeiro, vigente desde 1991, é que o órgão arrecadador de várias receitas de seguridade é a Secretaria de Receita, o que equivale a dizer que os recursos arrecadados vão para o Tesouro, que deles faz o que quer. O segundo consiste na atual DRU (Desvinculação das Receitas da União), que já foi Fundo Social de Emergência e Fundo de Estabilização Fiscal, que permite que 20% das contribuições arrecadadas possam ser usadas pelo governo para os mais diversos fins.

Mais uma vez, portanto, a Previdência aparece sob um ângulo distorcido. Ao invés de ser apresentada como instituição a ser fortalecida e ampliada para atender a milhões de brasileiros que ainda estão excluídos de seus benefícios, é apresentada como instituição cujo único problema é um déficit irreal, fruto de manipulação do próprio governo."

             
 
Notícias anteriores:

• 05/07/2005 - Manda quem pode e obedece quem tem juízo
• 28/06/2005 - Qual a atualidade do Leninismo?

• 21/06/2005 - Fama: um dia eu chego lá