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Passados
pouco mais de quinze anos do fim da guerra fria e do conseqüente
conflito ideológico entre Estados Unidos e União Soviética,
o leninismo, uma das correntes marxistas mais atuantes no período,
permanece viva nas discussões acadêmicas no Brasil. Prática
moderna das teorias políticas e sociais de Karl Marx e Friedrich
Engels exercida por Vladimir Ilie Ulianov, mais conhecido como Lênin,
líder da Revolução Bolchevique de 1917, na Rússia,
o leninismo viveu seu apogeu durante o século XX, mas declinou
com a derrota do chamado Socialismo Real, em 1989. Em pleno século
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XXI,
qual a validade e a importância dessa ideologia numa sociedade de
caráter capitalista, que vive o apogeu dos avanços tecnológicos?
O Boletim Olhar Virtual foi conferir com dois Professores da UFRJ, qual
a atualidade do marxismo defendido por Lênin. |
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Professor
Marcelo Braz
Coordenador de graduação da Escola de Serviço
Social da UFRJ
Mestre e Doutorando em Serviço Social pela UFRJ
"O pensamento de Lênin continua atual, apesar
de segregado. Talvez Lênin seja o pensador marxista mais
segregado no mundo acadêmico. Acho que tem pelo menos três
categorias teóricas de Lênin que são muito
atuais e que têm muito haver com a contemporaneidade da
sociedade capitalista.
A primeira delas é o Imperialismo, como fase superior do
capitalismo. Cada vez mais se reafirma as tendências imperialistas
no mundo, embora com faces novas. Essa temática é
extremamente atual; o domínio dos EUA é indiscutível.
A outra diz respeito ao Estado, como instrumento de classe, como
instrumento de domínio de uma classe sobre a outra; de
uma classe proprietária dos meios de produção
sobre uma classe que é proprietária apenas de sua
força de trabalho.
A terceira é análise teórica sobre o processo
revolucionário, principalmente quando diferencia o papel
da organização revolucionária. Não
existe uma outra organização revolucionária,
ainda que em crise no mundo político atual, na degradação
da política que o capitalismo faz, como o partido político.
O partido é a organização revolucionária
capaz de promover uma articulação universal dos
interesses de classe, o único capaz de assumir a vanguarda
do movimento revolucionário.
A discussão da revolução de Lênin centrada
na questão da organização revolucionária
do partido, do tipo comunista; a análise que Lênin
faz do estado com instrumento de dominação de classe;
e a análise da categoria teórica de imperialismo
me parecem suficientes, dentre outras contribuições,
para mostrar a atualidade do pensamento de Lênin.”
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Professor
Evandro Vieira Ouriques
Doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ
Coordenador do Núcleo de Estudos de Comunicação
e Consciência da UFRJ
Organizador do Livro “Diálogo entre as Civilizações”,
da ONU e da UNESCO
"Pensando o Leninismo como uma alternativa ao capitalismo,
como uma solução de baixo pra cima, eu diria que
a sociedade precisaria hoje de uma terceira posição,
que não fosse nem o capitalismo, nem o leninismo.
É próprio do condicionamento humano a sua vontade
de exercer o poder sobre o outro.
A antiga URSS, entre tantas lições, nos trouxe um
aprendizado muito claro: não basta você ser teoricamente
socialista para unir as pessoas. A transformação
precisa ser de dentro para fora.
Corruptos e opressores existem em todas as experiências
políticas que a humanidade teve até hoje. Por isso,
é preciso que haja uma reconstrução do ser
humano a partir dele mesmo. Expurgar os impulsos de opressão
do outro e de si próprio.
Armand Mattelard recentemente citou em seu livro, A história
das teorias da comunicação, que a liberdade
política não pode se resumir ao exercício
da vontade, mas sim começar pelo controle do processo de
formação da vontade.
Por exemplo, nós temos certamente no governo Lula pessoas
que tiveram passado leninista, que tiveram um pé numa prática
leninista, mas que não souberam controlar o processo da
vontade deles. Então, quando chegaram ao poder, se deixaram
contaminar pelo poder e voltaram a reproduzir as mesmas relações
sociais que combatiam.
O problema não está em ser leninista ou capitalista.
A questão é muito mais profunda do que aparenta
ser. Na verdade, o que nós precisamos é da transformação
das pessoas; que controlem a si mesmas e a vontade de oprimir
os outros, em qualquer relacionamento social, seja pessoal, amoroso
ou profissional. Como um professor pode ser leninista se ele se
acha mais importante que um aluno, ou que a sua mulher? Se não
houver uma mudança interior, não adianta.
Observando
vários segmentos da sociedade no nosso grupo de pesquisa,
chegamos à conclusão de que a constante que impede
ou dificulta esses processos de abertura social, é à
vontade de poder. As relações humanas estão
contaminadas pela relação de poder. Existe uma carnificina
psíquica que estrutura as relações sociais
e eliminá-la vai muito além de uma proposta política.
Sem controlarmos o seu processo de formação, nossa
vontade será sempre a mesma. Lamentavelmente, a antiga
URSS mostrou isso. Montada idealmente para se fazer uma justiça
social, terminou de uma forma ditatorial, da mesma maneira do
PT no Brasil.”
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