"A
escalada de desmatamento da floresta Amazônica ocorre devido,
principalmente, a atividades de mineradoras, madeireiras, pecuária
e a agroindústria. Esta última tem crescido de maneira
exponencial na região Amazônica, motivada pelo baixo custo
das terras e da mão de obra e pelo elevado preço internacional
de alguns produtos, como a soja.
Embora muito se tenha falado e escrito sobre as conseqüências
da substituição da floresta nativa por outro tipo de ecossistema
há, ainda, uma enorme carência de informações
científicas básicas e absolutamente indispensáveis
para uma avaliação consistente dos prejuízos ecológicos
e econômicos desta intervenção antrópica.
De concreto, sabe-se que a retirada da vegetação da floresta
Amazônica tem conseqüências em escala global (o clima
da Terra), regionais (o controle de erosão) e locais (desaparecimento
de espécie de importância para a população).
Se o desmatamento que ocorre na Amazônia, a centenas de quilômetros
de distância pode nos afetar, é fácil imaginar a
extensão dos prejuízos que sofrem as populações
locais, como é o caso das comunidades ribeirinhas dos rios, igarapés
e lagos. Estas populações extraem, há séculos,
essências medicinais, o cupuaçu, o açaí e
a castanha, entre outras dezenas de especiarias. Dos rios e igarapés
amazônicos, onde vivem mais de 4500 espécies de peixes
(em todos lagos e rios da Europa vivem cerca de 92 espécies),
retiram uma proteína animal de alta qualidade.
A substituição da floresta por extensas áreas de
plantação de soja (agronegócio), representa uma
ameaça real a toda a região. Na sua fase inicial, esta
intervenção traz, para muitos, a ilusão de “progresso”.
No entanto, é na realidade, o início de um quadro de destruição
dos ecossistemas com sérias conseqüências econômicas
e sociais. A floresta é a primeira vítima e com ela perdem-se
benefícios insubstituíveis e outros ainda a serem identificados.
Os igarapés e rios são assoreados pelo material erodido
e depositados em seus leitos e morrem lentamente, fato perceptível
em várias cidades como Manacapuru, no Amazonas e Belterra Fordilândia,
no Pará.
Estas regiões, como muitas outras que poderão surgir,
são, na prática, regiões ecológica e economicamente
degradadas e praticamente irrecuperáveis, que rapidamente são
abandonadas, sendo que os grandes empresários do agronegócio,
são os primeiros a abandoná-las. Este já é
o cenário de várias cidades do Pará, nas quais
vastas áreas de florestas primárias foram e ainda são
substituídas por plantações de soja. Naquelas cidades,
como Eldorado dos Carajás e Macapá, nas quais a fase inicial
de entusiasmo já passou, a miséria é facilmente
notada através da proliferação de favelas, criminalidade,
prostituição e a escalada dos índices de mortalidade,
especialmente infantil, decorrentes da falta de saneamento básico.
Através da retirada da floresta Amazônica estamos promovendo
a ruptura de um equilíbrio ecológico muito frágil,
mas de extrema eficiência, que a natureza necessitou de milhões
de anos para concluí-lo.
Em síntese, estamos substituindo ecossistemas dos mais ricos
e atualmente mais cobiçados e valorizados da Terra por outros
mais frágeis, não sustentáveis. Um procedimento,
cujos benefícios, na maioria das vezes, não se reverte
para a população que vive na região, nem tampouco
para a população brasileira. Há necessidade, em
caráter de urgência, da implementação de
políticas públicas que visem o controle do uso dos recursos
dos royalties gerados pela exploração dos recursos minerais
e sobre a aplicação das leis já existentes que
regulam o uso das florestas. Estas ações são estratégicas
para se assegurar o mínimo de sustentabilidade para a Região
Amazônica."