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Giselle Bundchen é famosa. O Ronaldinho é famoso. A Wanessa
Camargo também é famosa. Até o Fernandinho Beira-mar
é famoso. Porque só eu que não consigo ser. “Mãe,
um dia vou alcançar a fama, nem que seja por 15 minutos?”.
Essa obsessão pela notoriedade pública é algo que
vem rondando a nossa sociedade já há um bom tempo. Visando
discutir o assunto, o Olhar Virtual convidou o antropólogo Marco
Antônio da Silva Mello, e o psicanalista Fábio Lacombe.
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Fábio
Lacombe
Psicanalista
"A questão da fama é atravessada por toda
a história do homem. Ele, de alguma maneira, sempre a buscou,
esteja ela com nome de glória, honra, mas sempre a almejou.
O que nós vemos atualmente, em termos dessa busca pela
fama, é que está mais fácil se alcançar
em comparação a tempos anteriores. Ela assumiu uma
característica muito própria de que aparecer na
mídia é ser famoso. Não é preciso
mas a realização de um feito relevante. Basta agora
aparecer, ter sua imagem projetada, e pronto.
A questão da imagem, então, está ligada ao
narcisismo, ao mito de narciso, e isso é mais complexo
do que se pensa. A relação de narciso com o seu
reflexo procura mostrar todo o suporte que a imagem representa,
em função da unidade que comporta. Nessa experiência
de entrar em contato com a prórpia imagem, entra-se em
contato também com o “eu”.
Na verdade nosso “eu” está dividido em duas
partes: eu ideal e ideal de eu. A teoria freudiana mostra como
há possibilidade de nós nos identificarmos não
só através do grupo do eu, mas também pela
dimensão do chamado “ideal do eu” — aquilo
que aspiramos ser. A identificação acontece quando
objeto se coloca no lugar do “ideal do eu”. Então,
é como se dimensão do eu capturasse o mundo que
está fora. Exatamente por essa distância entre o
“eu” e o externo, é que somos tão obcecados
pela perfeição.
Portanto, quando de alguma maneira o sujeito se coloca em contato
com alguém famoso, imediatamente faz a identificação
com essa figura, que por está ali, se torna uma representante
dessa aspiração à perfeição.
Neste momento existe uma espécie de conjunção,
de jogo em que vamos buscar ter contato com essa imagem. Tenho
impressão de que o sujeito famoso não é buscado
na sua essência e sim na sua imagem, e isso traz uma grande
complexidade, pois, como essa operação de identificação
é limitável, terá um momento em que o sujeito
quererá mais e o objeto de desejo será incapaz de
fornecer. Logo surgirá uma sensação de frustração,
em que o fã verá sua tão ameijada perfeição,
negada - exemplo disso é o comportamento dos fãs
agressivos, que reagem muitas vezes de forma violenta quando são
renegados pelos seus ídolos."
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Marco
Antônio da Silva Mello
Antropólogo
Próximo ao fechamento desta edição, em
consulta ao professor Marco Antônio, fomos informados que
problemas técnicos no seu computador impediram a remessa
de sua colaboração ao Olhar Virtual.
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