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24.05.2005
Tríade da Mulher Atleta (TMA)
 
Luciana Campos
             

A busca por um corpo perfeito, fundamentado na maioria das vezes na ditadura da magreza, está levando muitas pessoas, principalmente mulheres e atletas jovens, a desenvolverem graves doenças, como bulimia e anorexia.

Com o objetivo de descobrir se as jovens atletas apresentam tais doenças, algum tipo de disfunção menstrual ou alterações na imagem corporal, a professora Fátima Palha de Oliveira, do departamento de Biociência da Atividade Física, da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ, iniciou em 2002, uma pesquisa, Implicações fisiológicas do Treinamento Físico para mulheres atletas, com 12 estudantes da UFRJ praticantes das chamadas modalidades de riscos: corrida, ginástica artística, nado sincronizado, futsal e remo.

As atletas foram divididas da seguinte forma: 6 atletas em desportos coletivos, 3 de desportos individuais e 3 de lutas.Elas possuíam idades entre 20 e 22 anos e o tempo de treinamento delas era de 4,6 anos, sendo 13,8 o total de horas semanais que elas costumavam treinar. Um grupo composto por 32 adolescentes não-atletas passou pela mesma avaliação das estudantes esportistas de maneira a formar um grupo de controle. Ao final do estudo, fez-se uma comparação entre os resultados obtidos com este grupo e os resultados do grupo das atletas.

O enfoque do projeto é a chamada tríade da mulher atleta, cujos sintomas são: amenorréia (disfunção menstrual), osteoporose e transtornos alimentares. As disfunções menstruais estão ligadas à parte alimentar da esportista. Se a atleta apresenta uma alimentação inadequada, ela terá toda a sua estrutura hormonal desequilibrada, e ocorrência de suspensões na produção de estrógeno. A diminuição da produção deste hormônio inviabiliza a menstruação, pois a quantidade liberada de estrógeno é insuficiente para que a menstruação aconteça.

A restrição alimentar desencadeia a amenorréia, a atleta fica três meses consecutivos sem menstruar, podendo ocorrer uma perda de massa óssea que posteriormente resultará em osteoporose.

As atletas responderam a um questionário pelo qual foi possível fazer um levantamento de informações sobre o ciclo menstrual de cada uma delas e as características dos treinamentos a que são submetidas.

A pesquisa fez uso de instrumentos de auto-aplicação nas suas versões em português. Foram eles: Eating Attitudes Test ( EAT-26), utilizado para avaliar atitudes e comportamentos relacionados à alimentação e ao controle de peso, Bulimic Investigatory Test Edimburgh ( BITE), para verificar a existência de comportamento sugestivos de bulimia nervosa e o Body Shape Questionaire (BSQ), que mede o grau de insatisfação com a imagem corporal.

Segundo Talita Adão Perini, pesquisadora responsável do projeto e bolsista de iniciação científica da FAPERJ, “o objetivo principal desta pesquisa é saber se existe a tríade da mulher atleta nas modalidades esportistas avaliadas e, diagnosticando algum indício de comportamento inadequado, encaminhá-las aos profissionais especializados”.

Falta de estrutura nos clubes cariocas

A professora Fátima chamou a atenção para a falta de estrutura no atendimento às atletas nos clubes cariocas. Segundo ela, em alguns deles as esportistas não contam com apoio nutricional, fundamental para o bom rendimento no esporte. “Os clubes alegam limitações financeiras para não contratarem nutricionistas e psicólogos para as atletas”, completa Fátima.


Resultados

Segundo Fátima, 36% das atletas de ginástica rítmica desportiva que participaram da pesquisa apresentaram sinais de comportamentos inadequados, considerados precursores de um problema alimentar mais grave.

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Através do quadro foi possível avaliar a menor freqüência de resultados positivos obtidos pelo grupo de atletas estudantes de Educação Física, se comparado aos resultados dos demais grupos e das modalidades consideradas de “risco”, que costumam valorizar a estética corporal, associando-a erroneamente a manutenção de um reduzido percentual de gordura (%G) ao desempenho atlético.

Segundo Talita, todas as atletas das diferentes modalidades que obtiveram resultados positivos foram encaminhadas a profissionais especializados (nutricionista e psicólogos). Ressalta-se a contribuição da pesquisa para a manutenção da saúde das atletas a partir dos prognósticos negativos. As equipes passaram a ter acompanhamento nutricional e melhoraram seu desempenho físico.

Para Fátima, o que se busca com este estudo é ir até a comunidade e prestar serviços para as atletas. É a pesquisa prática, aplicada. “É o que estas meninas estão precisando, sendo a maioria delas as representantes brasileiras nos próximos jogos pan-americanos. São elas que irão para lá”, diz a professora.

Além de Talita, o estudo contou com a colaboração dos também bolsistas da FAPERJ Glauber Lameira de Oliveira, Juliana dos Santos Ornellas e Patrícia dos Santos Vigário.

Faixa etária e o psicológico dos atletas

Segundo a professora Fátima, a faixa etária do atleta está ligada à modalidade esportiva que ele pratica. “Um corredor de fundo, por exemplo, pode correr até pouco mais de 40 anos, por ser esta uma atividade em que há condições de se desenvolver a parte aeróbica do indivíduo. Porém, à parte de habilidade específica, como acontece na ginástica artística e de força, tem um limite fisiológico, chegando a uma idade em que não se consegue mais desenvolvê-la”, explica.

A questão psicológica no esporte é muito importante. Na natação ela é um dos diferenciais. “O nadador começa muito cedo e termina ainda jovem sua carreira. Isso acontece por um esgotamento da parte psicológica e por ser este um esporte bastante exaustivo e solitário”, afirma ela, que não deixa de ressaltar a excelência das grandes escolas de educação física do país, formando excelentes profissionais, superando o problema da orientação inadequada. Não havendo mais improvisadores como técnicos, principalmente na fase inicial da formação do atleta.

Valorização da Educação física

A Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ, por um longo tempo, foi à única instituição superior pública que oferecia formação nesta área de conhecimento. Posteriormente, foram abertas outras instituições importantes na formação de um pensamento crítico e na qualificação profissional. E foi essa massa crítica que, segundo Fátima, aprimorou a orientação dada às atletas expostas à pressões sociais e midiáticas por um corpo bonito e perfeito, levando-as muitas vezes a desenvolverem comportamentos inadequados como os já descritos.

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