UFRJ
avança no estudo da cólera
A
cólera atinge anualmente cerca de 150 mil pessoas no mundo
inteiro. Concentra-se principalmente nos países de Terceiro
Mundo e na África tem-se registrado ultimamente, a maior
parte das ocorrências. A doença, que não tem
um controle exato e época certa para proliferar, ainda não
pode ser erradicada.
A cólera chegou efetivamente no Brasil, em forma de epidemia,
no ano de 1991. A UFRJ já desenvolvia um trabalho de pesquisa
com bactérias, e foi nesse momento que percebeu-se a necessidade
de um conhecimento mais profundo sobre a doença.
A professora Ana Maria Coelho, do Instituto de Biologia da UFRJ,
explicou as etapas deste estudo, um dos mais avançados do
mundo. Além do Instituto de Biologia, tais pesquisas contam
com o envolvimento da Fiocruz e das áreas de Bioquímica
do Centro de Tecnologia e do Centro de Ciência da Saúde,
da UFRJ.
O primeiro estudo foi o de caracterização, usando
técnicas mais simples, mas que possibilitaram a definição
da linhagem responsável pela pandemia mundial, a chamada
Al Tor. Depois disso, identificaram outras linhagens e realizaram
estudos sobre genética, organismo e construção
de mutantes.
Recentemente, foi formada uma rede no Rio de Janeiro para estudar
proteínas, financiada pela Faperj (Fundação
Estadual de Financiamento à Ciência). Ela engloba a
UFRJ e outras instituições. Nesta rede existem quatro
projetos, e um deles é o do víbrio cólera,
que envolve também o Projeto Genoma. O genoma dessa bactéria
já foi seqüenciado, o que permite a identificação
das proteínas.
As técnicas utilizadas são muito caras, e apesar de
ser um estudo de ponta, a UFRJ dispõe de apenas um aparelho
de seqüenciamento, o mais básico de todos, instalado
na Biofísica – “no momento estamos usando outros
aparelhos que permitem a seqüenciamento das proteínas,
mas que estão em Campinas. O custo total é muito alto,
por isso estamos iniciando uma rede nacional de estudos, para compartilhar
o uso dos equipamentos, com diversas instituições
e laboratórios”, explica a professora Ana Coelho.
São mais ou menos quatro mil proteínas, mas só
as mais abundantes, cerca de 10% do total, são vistas. Isso
porque a quantidade da mesma molécula presente na célula
varia muito. Algumas podem ser mais raras e outras mais abundantes.
Elas são quebradas em “pedacinhos”, identificadas
e separadas por duas propriedades diferentes: o tamanho e o pH.
Apesar do tratamento para a cólera ser eficaz através
de uma reidratação rápida, a doença
se alastra em pouco tempo. Entende-se a necessidade da elaboração
de uma vacina eficiente, com uma duração maior, que
evitasse a contaminação. Mas antes, a identificação
da função de cada proteína selecionada deve
ser feita.
Ainda não se sabe ao certo como se inicia e termina uma epidemia.
A velocidade de propagação da doença é
muito grande e o contágio pode se dar de uma pessoa para
outra, porém, na maioria das vezes, é uma contaminação
ambiental, que ganha maior proporção em locais com
condições sanitárias e higiênicas ruins.
No momento, existem poucos registros de casos da cólera no
Brasil. Eles se concentram mais no Nordeste, mas isso é muito
variável, já que o víbrio está presente
em todo o ambiente aquático: são os chamados isolados
ambientais, que podem ter contato com uma linhagem epidêmica
e a partir daí, começar uma epidemia.
Quando a linhagem passa para o organismo humano, ela fica mais patogênica.
É imprescindível uma reidratação, que
dependendo do caso pode ser via venal. O uso do antibiótico
é restrito, na tentativa de abreviação da doença,
mas não é muito recomendável, por não
ser tão eficaz.
Lavar bem os alimentos e cuidar da água que consumimos, são
tentativas de prevenção. Lugares com condições
precárias de higiene, péssimas condições
sanitárias, com grande quantidade de pessoas migrando e não
se alimentando bem, são os mais propícios para a contaminação.
“A cólera é perigosa e pode matar. Estamos na
luta por um trabalho de qualidade, que pode trazer benefícios
para muitas pessoas, mas que precisa de mais financiamento, já
que os nossos recursos ainda são escassos e as pesquisas
têm um custo alto”.– enfatiza Ana Coelho, sobre
a importância das pesquisas que a UFRJ vem realizando.
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