Ponto de Vista

 
03.08.2004  
   

UFRJ avança no estudo da cólera

A cólera atinge anualmente cerca de 150 mil pessoas no mundo inteiro. Concentra-se principalmente nos países de Terceiro Mundo e na África tem-se registrado ultimamente, a maior parte das ocorrências. A doença, que não tem um controle exato e época certa para proliferar, ainda não pode ser erradicada.
A cólera chegou efetivamente no Brasil, em forma de epidemia, no ano de 1991. A UFRJ já desenvolvia um trabalho de pesquisa com bactérias, e foi nesse momento que percebeu-se a necessidade de um conhecimento mais profundo sobre a doença.
A professora Ana Maria Coelho, do Instituto de Biologia da UFRJ, explicou as etapas deste estudo, um dos mais avançados do mundo. Além do Instituto de Biologia, tais pesquisas contam com o envolvimento da Fiocruz e das áreas de Bioquímica do Centro de Tecnologia e do Centro de Ciência da Saúde, da UFRJ.
O primeiro estudo foi o de caracterização, usando técnicas mais simples, mas que possibilitaram a definição da linhagem responsável pela pandemia mundial, a chamada Al Tor. Depois disso, identificaram outras linhagens e realizaram estudos sobre genética, organismo e construção de mutantes.
Recentemente, foi formada uma rede no Rio de Janeiro para estudar proteínas, financiada pela Faperj (Fundação Estadual de Financiamento à Ciência). Ela engloba a UFRJ e outras instituições. Nesta rede existem quatro projetos, e um deles é o do víbrio cólera, que envolve também o Projeto Genoma. O genoma dessa bactéria já foi seqüenciado, o que permite a identificação das proteínas.
As técnicas utilizadas são muito caras, e apesar de ser um estudo de ponta, a UFRJ dispõe de apenas um aparelho de seqüenciamento, o mais básico de todos, instalado na Biofísica – “no momento estamos usando outros aparelhos que permitem a seqüenciamento das proteínas, mas que estão em Campinas. O custo total é muito alto, por isso estamos iniciando uma rede nacional de estudos, para compartilhar o uso dos equipamentos, com diversas instituições e laboratórios”, explica a professora Ana Coelho.
São mais ou menos quatro mil proteínas, mas só as mais abundantes, cerca de 10% do total, são vistas. Isso porque a quantidade da mesma molécula presente na célula varia muito. Algumas podem ser mais raras e outras mais abundantes. Elas são quebradas em “pedacinhos”, identificadas e separadas por duas propriedades diferentes: o tamanho e o pH.
Apesar do tratamento para a cólera ser eficaz através de uma reidratação rápida, a doença se alastra em pouco tempo. Entende-se a necessidade da elaboração de uma vacina eficiente, com uma duração maior, que evitasse a contaminação. Mas antes, a identificação da função de cada proteína selecionada deve ser feita.
Ainda não se sabe ao certo como se inicia e termina uma epidemia. A velocidade de propagação da doença é muito grande e o contágio pode se dar de uma pessoa para outra, porém, na maioria das vezes, é uma contaminação ambiental, que ganha maior proporção em locais com condições sanitárias e higiênicas ruins.
No momento, existem poucos registros de casos da cólera no Brasil. Eles se concentram mais no Nordeste, mas isso é muito variável, já que o víbrio está presente em todo o ambiente aquático: são os chamados isolados ambientais, que podem ter contato com uma linhagem epidêmica e a partir daí, começar uma epidemia.


Quando a linhagem passa para o organismo humano, ela fica mais patogênica. É imprescindível uma reidratação, que dependendo do caso pode ser via venal. O uso do antibiótico é restrito, na tentativa de abreviação da doença, mas não é muito recomendável, por não ser tão eficaz.
Lavar bem os alimentos e cuidar da água que consumimos, são tentativas de prevenção. Lugares com condições precárias de higiene, péssimas condições sanitárias, com grande quantidade de pessoas migrando e não se alimentando bem, são os mais propícios para a contaminação.
“A cólera é perigosa e pode matar. Estamos na luta por um trabalho de qualidade, que pode trazer benefícios para muitas pessoas, mas que precisa de mais financiamento, já que os nossos recursos ainda são escassos e as pesquisas têm um custo alto”.– enfatiza Ana Coelho, sobre a importância das pesquisas que a UFRJ vem realizando.

 

 

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