Olho no Olho

 
27.07.2004  
   

IDH: uma forma razoável de avaliação do desenvolvimento social?

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) se baseia em indicadores como os de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (esperança de vida ao nascer), renda (PIB per capita) e outros indicadores vinculados a questões sociais, ambientais e de infra-estrutura. O Índice varia de zero – característica de países que apresentam nenhum desenvolvimento humano – a um – total desenvolvimento humano.

Os países que apresentam IDH até 0,499 são considerados possuidores de um baixo nível de desenvolvimento humano. Aqueles que se inserem entre 0,5 e 0,799 têm nível médio de desenvolvimento humano. Já aqueles que se enquadram em Índices superiores a 0,8 podem se considerar a níveis altos de desenvolvimento humano.

Uma questão levantada diante desses valores, no entanto, é se eles significariam dados reais nas sociedades analisadas. Tantos índices numéricos representariam uma maneira razoável para se entender e se buscar soluções para os problemas daquelas sociedades que apresentassem IDH de, no máximo, 0,5?

Para discussão e análise do que está por trás da realidade desse índice, convidamos o professor e economista Marcelo Paixão e o professor e sociólogo Paulo Bahia.

   
   
 

Marcelo Paixão
Professor de Economia do Trabalho do Instituto de Economia da UFRJ e membro do Grupo de Economia do Trabalho e Estudos Sociais - GETES

“O IDH é um indicador. Ele não passa de um indicador. Serve para assinalar a qualidade de vida, sim, como tantos outros, mas deve ser utilizado em conjunto com outros indicadores para medir o estágio de qualidade de vida das populações. Há críticas de que esse indicador releva alguns aspectos e exclui outros, mas a questão central é saber que não se pode utilizar um único indicador como instrumento de análise da realidade. Eles não vão apresentar a natureza do analisado. Eles não vão revelar a verdade de nada. No entanto, são válidos para que haja diálogo, debates, discussões sobre as questões apresentadas por eles. É uma forma válida porque permite ao público que debates possam ser melhor objetivados. Temos que saber, em primeiro lugar, o que o IDH contém. Porque, nesse sentido, é importante sabermos que tipo de informação esse índice incorpora. Ele já foi utilizado para se medir a qualidade de vida de bairros do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais e de Recife. Têm surgido várias propostas de indicadores sintéticos para medir a qualidade de vida. Você pode ter, além do IDH – que é o mais conhecido –, o próprio Relatório de Desenvolvimento Humano. Ainda temos o IDH agregado aos gêneros, além de outros, como um desenvolvido pelo meu colega João Saboya, atrelado ao mercado de trabalho”.

 

Paulo Bahia
Professor de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ e pesquisador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana

"Para o professor Paulo Bahia, o IDH é um instrumento poderoso para analisar o desenvolvimento de um país. Ele enfrenta a mediocridade e a burrice crônica dos economistas. Ultrapassa as limitações estatísticas de renda per capita e outros índices, porque ele introduziu na metodologia, a partir da década de 70, componentes da área social e componentes difusos da qualidade de vida.
As discrepâncias mostradas em relatórios da ONU, entre o desenvolvimento humano de negros e brancos no Brasil, não são distorções da pesquisa estatística, mas, afirma Bahia “um retrato da sociedade brasileira”, que é “elitista, racista, discricionária, que odeia pretos, pardos, pobres, índios, nordestinos, e todos aqueles que não pertencem à elite. Uma elite que é muito restrita. Uma elite que é carioca, que mora em Copacabana, Ipanema, Leblon, São Conrado e Barra da Tijuca. Fora dali, não existe Brasil para essas pessoas”. Em sua visão, estas pessoas controlam as instâncias discursivas, como as universidades, centros de pesquisas e os meios culturais. Bahia afirma que “elas falam de um Brasil que só existe para elas. Elas desconhecem os numerosos e vastos Brasis que existem aqui”.
Nas palavras do pesquisador, o IDH põe o rei a nu. Evidencia que o Brasil não é um país justo, cordial, que tenha um povo solidário. Expõe um país, que a elite carioca insiste em esconder e maquiar”.

 
 
 

 

 

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