IDH:
uma forma razoável de avaliação do desenvolvimento
social?
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) se baseia em indicadores
como os de educação (alfabetização e
taxa de matrícula), longevidade (esperança de vida
ao nascer), renda (PIB per capita) e outros indicadores vinculados
a questões sociais, ambientais e de infra-estrutura. O Índice
varia de zero – característica de países que
apresentam nenhum desenvolvimento humano – a um – total
desenvolvimento humano.
Os
países que apresentam IDH até 0,499 são considerados
possuidores de um baixo nível de desenvolvimento humano.
Aqueles que se inserem entre 0,5 e 0,799 têm nível
médio de desenvolvimento humano. Já aqueles que se
enquadram em Índices superiores a 0,8 podem se considerar
a níveis altos de desenvolvimento humano.
Uma
questão levantada diante desses valores, no entanto, é
se eles significariam dados reais nas sociedades analisadas. Tantos
índices numéricos representariam uma maneira razoável
para se entender e se buscar soluções para os problemas
daquelas sociedades que apresentassem IDH de, no máximo,
0,5?
Para
discussão e análise do que está por trás
da realidade desse índice, convidamos o professor e economista
Marcelo Paixão e o professor e sociólogo Paulo Bahia.
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Marcelo
Paixão
Professor de Economia do Trabalho
do Instituto de Economia da UFRJ e membro do Grupo
de Economia do Trabalho e Estudos Sociais - GETES
“O
IDH é um indicador. Ele não passa de
um indicador. Serve para assinalar a qualidade de
vida, sim, como tantos outros, mas deve ser utilizado
em conjunto com outros indicadores para medir o estágio
de qualidade de vida das populações.
Há críticas de que esse indicador releva
alguns aspectos e exclui outros, mas a questão
central é saber que não se pode utilizar
um único indicador como instrumento de análise
da realidade. Eles não vão apresentar
a natureza do analisado. Eles não vão
revelar a verdade de nada. No entanto, são
válidos para que haja diálogo, debates,
discussões sobre as questões apresentadas
por eles. É uma forma válida porque
permite ao público que debates possam ser melhor
objetivados. Temos que saber, em primeiro lugar, o
que o IDH contém. Porque, nesse sentido, é
importante sabermos que tipo de informação
esse índice incorpora. Ele já foi utilizado
para se medir a qualidade de vida de bairros do Rio
de Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais e
de Recife. Têm surgido várias propostas
de indicadores sintéticos para medir a qualidade
de vida. Você pode ter, além do IDH –
que é o mais conhecido –, o próprio
Relatório de Desenvolvimento Humano. Ainda
temos o IDH agregado aos gêneros, além
de outros, como um desenvolvido pelo meu colega João
Saboya, atrelado ao mercado de trabalho”.
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Paulo
Bahia
Professor de Sociologia do Instituto
de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ e pesquisador
do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e
Violência Urbana
"Para
o professor Paulo Bahia, o IDH é um instrumento
poderoso para analisar o desenvolvimento de um país.
Ele enfrenta a mediocridade e a burrice crônica
dos economistas. Ultrapassa as limitações
estatísticas de renda per capita e outros índices,
porque ele introduziu na metodologia, a partir da década
de 70, componentes da área social e componentes
difusos da qualidade de vida.
As discrepâncias mostradas em relatórios
da ONU, entre o desenvolvimento humano de negros e brancos
no Brasil, não são distorções
da pesquisa estatística, mas, afirma Bahia “um
retrato da sociedade brasileira”, que é
“elitista, racista, discricionária, que
odeia pretos, pardos, pobres, índios, nordestinos,
e todos aqueles que não pertencem à elite.
Uma elite que é muito restrita. Uma elite que
é carioca, que mora em Copacabana, Ipanema, Leblon,
São Conrado e Barra da Tijuca. Fora dali, não
existe Brasil para essas pessoas”. Em sua visão,
estas pessoas controlam as instâncias discursivas,
como as universidades, centros de pesquisas e os meios
culturais. Bahia afirma que “elas falam de um
Brasil que só existe para elas. Elas desconhecem
os numerosos e vastos Brasis que existem aqui”.
Nas palavras do pesquisador, o IDH põe o rei
a nu. Evidencia que o Brasil não é um
país justo, cordial, que tenha um povo solidário.
Expõe um país, que a elite carioca insiste
em esconder e maquiar”. |
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