Revelados
outros lados da música brasileira
Com
direito a tambores e cânticos de candomblé, acarajé
e a presença da Mãe Meninazinha d´Oxum, o Museu
Nacional — com o apoio do Laboratório de Pesquisas
em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento (LACED), da Fundação
Universitária José Bonifácio e do Memorial
Iyá Davina — lançou, no último mês
de junho, o primeiro volume da coleção Documentos
Sonoros. O CD, intitulado "Ilê Omolu Oxum” —
projeto dos etnomusicólogos, alunos de Pós-Graduação
em Antropologia, Gustavo Freire Pacheco e Edmundo Mendes Pereira
—, traz cantigas e toques para os orixás e representa
a concretização de uma idéia que nasceu há
mais de três anos.
O
propósito deu-se a partir da existência, no acervo
de Etnologia do Museu, de gravações originais em cilindros
de cera de cantos das tribos Pareci e Nambikwara, feitas por Roquette-Pinto
em expedição à região de Rondônia,
em 1912. Este material serviu de inspiração a compositores
notórios como Villa-Lobos e Lorenzo Fernandes. Como o Museu
não detém o equipamento necessário para se
ouvir o material de Roquette-Pinto, os dois alunos propuseram um
projeto de restauração e gravação em
formato de CD desse material. Além disso, sugeriram novas
gravações de cantos tradicionais das tribos Ticuna,
que ficam no Alto Rio Solimões, e do terreiro Ilê Omolu
Oxum, uma das casas mais tradicionais do candomblé ketu no
Rio de Janeiro, instalado em São João de Meriti, em
1968. “Daí surgiu a idéia de se fazer uma coleção
que reunisse essas duas frentes: trabalhar com material de arquivo,
gravações importantes que estão não
só no Museu Nacional, mas em outras instituições
e que as pessoas nem sabem que existem e, por outro lado, trabalhar
com material original que sirva como veículo para a produção
científica do pessoal que está trabalhando aqui, agora”,
diz Gustavo Pacheco.
O
projeto foi selecionado, entre 500 inscritos, e aprovado pela Petrobrás
no início de 2002. O financiamento foi no valor de 150 mil
reais, que seria para a execução dos três primeiros
volumes da coleção: o já finalizado “Ilê
Omolu Oxum” sobre cânticos de candomblé, o "Magüta
Arü Wiyaegü" que trará cantigas originais
das tribos Ticuna e o “Rondônia — 1912”,
com o material de Roquette-Pinto. Os dois últimos estão
em fase de execução e têm data de lançamento
prevista para dezembro de 2004 ou janeiro de 2005. A idéia
é que cada volume conte com 2 mil exemplares: metade será
destinada à venda pelos grupos registrados, outros 300 para
a Petrobrás, mais 300 para instituições nacionais
e internacionais e 400 para venda avulsa*, cuja renda obtida será
revertida para o próprio projeto.
O
antropólogo e chefe do LACED, João Pacheco de Oliveira
Filho, atenta para o papel político do Museu Magüta,
criado pelos índios Ticuna em parceria com o Museu Nacional,
ao lembrar que esta instituição foi a responsável
pela demarcação das terras das mais de 140 tribos
Ticuna existentes na região dos Solimões, além
de representar uma das principais atrações da região.
"Uma outra dimensão política importante do projeto
é a nossa vontade de estimular o acesso das pessoas a outras
formas musicais, a outras culturas", explica Gustavo, acrescentando
que cada volume será acompanhado de um encarte explicativo
de 30 páginas, que vai refletir o envolvimento de quase 4
anos de pesquisa.
*
Informações sobre a venda do CD “Ilê Omolu
Oxum” podem ser obtidas através do e-mail: ricofrei@uol.com.br.
Últimas
Matérias
13.07.2004
Parceria
entre UFRJ e MST continua
06.07.2004
Muito
mais que aparos de grama
29.06.2004
UFRJ
é palco de homenagem a Oscar Niemeyer |