Preservar
a qualquer custo...
Um
dos impasses dos profissionais da construção civil
e da sociedade como um todo é a questão de imóveis
de valor histórico, artístico e arquitetônico.
Eles ocupam, muitas vezes, largos espaços cuja importância
e valor são inestimáveis. A expansão urbana
força arquitetos, engenheiros, técnicos e outros a
se decidirem sobre a manutenção dos chamados patrimônios
(não só aqueles assim declarados por órgãos
do governo responsáveis por sua proteção) ou
sua demolição, usando seus terrenos para a construção
de prédios mais modernos, usuais e compatíveis com
as necessidades diárias de uma grande cidade. O IPHAN, Instituto
de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
foi criado em 1937, no governo Getúlio Vargas, e hoje faz
parte do Ministério da Cultura. O Instituto age com a autonomia
orçamentária – financeira em todo o território
nacional. É o órgão do Governo Federal que
assume as funções de revitalização dos
monumentos, sítios e bens móveis do país. Ainda
há instâncias estaduais e municipais que tratam do
assunto. Convidamos, para falar do tema, o arquiteto e professor
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Olinio Coelho, ex-membro
de instâncias estaduais e municipais que tratam de preservação
de patrimônio cultural e uma aluna do mesmo curso, Suzana
Viso para dar um panorama de seu possível futuro profissional
e se posicionar sobre o tema.
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Olinio
Coelho
Professor da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo
“O problema da conservação do
patrimônio cultural passa pela integração
entre passado e presente”, afirma o professor.
Segundo ele, as prefeituras não controlam a
expansão urbana de forma a proteger o patrimônio,
não adequando processos legislativos, como
o Plano Diretor, a necessidades específicas
do espaço. O problema passa, também,
pela ambiência, que é a forma como o
patrimônio interfere na integridade estética
do conjunto, como se dá esta relação
entre moderno e tradicional.
“Na FAU, já foi criado um curso de preservação
como eletiva há cerca de 10 anos, e o MEC passou
a exigi-la como cadeira obrigatória há
algum tempo atrás”. Além disso,
a unidade também conta com um curso de mestrado
e doutorado na mesma área; o que atesta que
este é um assunto realmente delicado com o
que a Universidade vem se preocupado nos últimos
anos.
Olinio se sensibiliza ao afirmar que uma de suas preocupações
é “o desconhecimento dos dirigentes e
da população do valor do patrimônio
cultural”. Segundo o professor, que trabalha
com preservação também na Universidade,
a verdadeira conservação do patrimônio
deve ser dada por duas vias: a apresentação,
por meio de divulgação governamental
ou privada, do bem cultural ao cidadão (avaliado
como consumidor e usuário da cultura pelo professor)
e a sua imediata, natural e espontânea reação
de proteção do patrimônio, já
que “o que a pessoa não conhece, ela
não ama”, pensamento aristotélico
lembrado pelo professor.
Ele discorda das intenções da prefeitura
e de outros governos de tombar sítios históricos
inteiros, pois, para ele, cada prédio tem uma
especificidade, é um indivíduo com suas
necessidades e histórias. Seus projetos de
preservação incluem não apenas
a restauração, mas também a conservação
do imóvel, caso contrário, o prédio
se deteriora algum tempo depois, chegando ao mesmo
nível de antes, sendo considerado, assim, um
trabalho aparentemente inútil.
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Suzana
Viso
Aluna da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo
A
aluna, que cursa o sétimo período da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo, faz iniciação
científica sobre conforto ambiental no PROURB,
Programa de Pós-graduação em Urbanismo
da FAU. Ela diz ser uma “apaixonada por tudo o
que é tradicional, histórico e belo”,
declarando que viveria numa cidade colonial se tivesse
oportunidade.
Sendo perguntada sobre a possibilidade de manutenção
de prédios e sítios históricos
em grandes cidades, ela respondeu que “alguns
estados de deterioração são irreversíveis,
mas quando houver condições, deve-se fazer
tudo o que é possível para recuperar o
bem”.
Suzana não é a favor da construção
de prédios altos e de arquitetura muito moderna
integrados a prédios históricos, pois
eles podem causar desconforto estético e ambiental,
“a eficiência energética diminui
e há o surgimento de microclimas”. Ela
fica em dúvida quanto à existência
de uma real harmonia entre o antigo e o contemporâneo,
mas acha que o valor histórico e cultural é
ainda mais relevante que o valor econômico (já
que os sítios e prédios históricos
e muitos momentos estão localizados em áreas
extremamente valorizadas, cujo metro quadrado de solo
urbano é caríssimo) quando se trata de
construções.
“Quem sabe no final do curso de Arquitetura eu
me decida”, falando sobre o impasse entre viabilidade
econômica e conservação histórica,
mas ainda acha que “vale a pena a manutenção
dos espaços”.
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