Olho no Olho

 
20.07.2004  
   

Preservar a qualquer custo...

Um dos impasses dos profissionais da construção civil e da sociedade como um todo é a questão de imóveis de valor histórico, artístico e arquitetônico. Eles ocupam, muitas vezes, largos espaços cuja importância e valor são inestimáveis. A expansão urbana força arquitetos, engenheiros, técnicos e outros a se decidirem sobre a manutenção dos chamados patrimônios (não só aqueles assim declarados por órgãos do governo responsáveis por sua proteção) ou sua demolição, usando seus terrenos para a construção de prédios mais modernos, usuais e compatíveis com as necessidades diárias de uma grande cidade. O IPHAN, Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, foi criado em 1937, no governo Getúlio Vargas, e hoje faz parte do Ministério da Cultura. O Instituto age com a autonomia orçamentária – financeira em todo o território nacional. É o órgão do Governo Federal que assume as funções de revitalização dos monumentos, sítios e bens móveis do país. Ainda há instâncias estaduais e municipais que tratam do assunto. Convidamos, para falar do tema, o arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Olinio Coelho, ex-membro de instâncias estaduais e municipais que tratam de preservação de patrimônio cultural e uma aluna do mesmo curso, Suzana Viso para dar um panorama de seu possível futuro profissional e se posicionar sobre o tema.

   
   

Olinio Coelho
Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

“O problema da conservação do patrimônio cultural passa pela integração entre passado e presente”, afirma o professor. Segundo ele, as prefeituras não controlam a expansão urbana de forma a proteger o patrimônio, não adequando processos legislativos, como o Plano Diretor, a necessidades específicas do espaço. O problema passa, também, pela ambiência, que é a forma como o patrimônio interfere na integridade estética do conjunto, como se dá esta relação entre moderno e tradicional.
“Na FAU, já foi criado um curso de preservação como eletiva há cerca de 10 anos, e o MEC passou a exigi-la como cadeira obrigatória há algum tempo atrás”. Além disso, a unidade também conta com um curso de mestrado e doutorado na mesma área; o que atesta que este é um assunto realmente delicado com o que a Universidade vem se preocupado nos últimos anos.
Olinio se sensibiliza ao afirmar que uma de suas preocupações é “o desconhecimento dos dirigentes e da população do valor do patrimônio cultural”. Segundo o professor, que trabalha com preservação também na Universidade, a verdadeira conservação do patrimônio deve ser dada por duas vias: a apresentação, por meio de divulgação governamental ou privada, do bem cultural ao cidadão (avaliado como consumidor e usuário da cultura pelo professor) e a sua imediata, natural e espontânea reação de proteção do patrimônio, já que “o que a pessoa não conhece, ela não ama”, pensamento aristotélico lembrado pelo professor.
Ele discorda das intenções da prefeitura e de outros governos de tombar sítios históricos inteiros, pois, para ele, cada prédio tem uma especificidade, é um indivíduo com suas necessidades e histórias. Seus projetos de preservação incluem não apenas a restauração, mas também a conservação do imóvel, caso contrário, o prédio se deteriora algum tempo depois, chegando ao mesmo nível de antes, sendo considerado, assim, um trabalho aparentemente inútil.

 

Suzana Viso
Aluna da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

A aluna, que cursa o sétimo período da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, faz iniciação científica sobre conforto ambiental no PROURB, Programa de Pós-graduação em Urbanismo da FAU. Ela diz ser uma “apaixonada por tudo o que é tradicional, histórico e belo”, declarando que viveria numa cidade colonial se tivesse oportunidade.
Sendo perguntada sobre a possibilidade de manutenção de prédios e sítios históricos em grandes cidades, ela respondeu que “alguns estados de deterioração são irreversíveis, mas quando houver condições, deve-se fazer tudo o que é possível para recuperar o bem”.
Suzana não é a favor da construção de prédios altos e de arquitetura muito moderna integrados a prédios históricos, pois eles podem causar desconforto estético e ambiental, “a eficiência energética diminui e há o surgimento de microclimas”. Ela fica em dúvida quanto à existência de uma real harmonia entre o antigo e o contemporâneo, mas acha que o valor histórico e cultural é ainda mais relevante que o valor econômico (já que os sítios e prédios históricos e muitos momentos estão localizados em áreas extremamente valorizadas, cujo metro quadrado de solo urbano é caríssimo) quando se trata de construções.
“Quem sabe no final do curso de Arquitetura eu me decida”, falando sobre o impasse entre viabilidade econômica e conservação histórica, mas ainda acha que “vale a pena a manutenção dos espaços”.


 
 
 

 

 

Últimas Matérias
13.07.2004  Feto: ser humano ou não?
06.07.2004  Popular ou populista?
29.06.2004  Novas vagas, greve e plano de carreira