De Olho na Mídia

 
13.07.2004  
   

Brasil conhece quebra cabeça do vírus

O Brasil já é capaz de montar “o quebra-cabeças” do principal vírus da Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) no país, o HIV tipo 1. Pode inclusive, detectar e especificar com maior precisão as variantes virais ou subtipos que estão circulando entre os infectados pela doença. Esta será uma das principais apresentações, entre 25 experiências e pesquisas, que o Brasil levará à 15ª Conferência Internacional sobre Aids, na Tailândia, que começou neste domingo.

A identificação dos vírus da AIDS no Brasil foi possível a partir do trabalho de seqüenciamento genético completo do vírus, desenvolvido em laboratórios da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A experiência será apresentada na Tailândia pelo infectologista Ricardo Diaz. A identificação dos vírus é importante para orientar a escolha de medicamentos e de políticas públicas no controle epidemiológico e também para auxiliar na obtenção da vacina antiretroviral, que, no Brasil, já está em fase de testes, afirma um dos autores do trabalho, Mário Gianini, professor adjunto do Departamento de Infectologia e da Disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitórias da Unifesp.

Segundo Gianini, a visualização detalhada dos genes é feita por meio do princípio de biologia molecular, denominado PCR (sigla em inglês Polymerase Chain Reaction que, em português significa Reação em Cadeia pela Polimerase), uma reação enzimática. Cópias de fragmentos do vírus são ampliadas e analisadas em progressões geométricas que dão margem suficiente de acertos na identificação da prevalência ou do tipo de infecção constatada entre os doentes.

No Brasil, a maioria dos doentes está contaminada por subtipos de retrovírus da variante B. A preocupação dos pesquisadores, entretanto, é com o aumento de casos de outros subtipos, como o C, detectados mais ao sul do país, como observa a bióloga Maria Cecília Araripe Sucupira, do Laboratório de Retrovirologia da Unifesp.

Maria Cecília cita dados de um estudo realizado em uma área de incidência elevada, na cidade de Santos (SP), onde foi verificado aumento do número de pacientes com presença no organismo de cepas do vírus resistentes a medicamentos. Entre os fatores que agravam as condições epidemiológicas, está o fato de que nem sempre os contaminados tomam os remédios de forma correta, o que provoca o surgimento de vírus resistentes aos remédios. O empobrecimento da população é outra causa do surgimento de novos infectados, com crescimento, sobretudo, na região Nordeste do país. Além disso, o Brasil passou a registrar maior número de mulheres afetadas pelo mal.

Para o chefe do Serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Hospital Clemente Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luiz Antônio Alves de Lima, a eficácia do programa governamental brasileiro pode ser vista pelos resultados: o número esperado de doentes caiu de l, 2 milhão para 660 mil, com um total de 310 mil notificados.

Vacina
As pesquisas no Brasil para obtenção de uma vacina preventiva contra a Aids estão ainda em fase de testes de segurança. Os pesquisadores precisam saber se o produto não causa efeitos adversos. Para isso, vêm sendo selecionados, desde o início de junho, voluntários saudáveis, na faixa etária de 18 a 50 anos.

De acordo com José Valdez Madruga, um dos coordenadores da pesquisa integrada à rede mundial, os efeitos têm sido apenas um pouco de dor no local de aplicação e febre baixa. Madruga considera a vacina a única forma eficaz de controlar a epidemia mundial, que cresce a um ritmo de 14 mil novos diários. Mesmo considerando que a obtenção ainda está em fase embrionária, Valdez Madruga acredita que a vacina estará disponível nos próximos anos.

Correio Web (site) - Online
Editoria Brasil
Distrito Federal, 11 de julho de 2004

 

 

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