Ponto de Vista

 
06.07.2004  
   

Biodiesel pode mudar a matriz energética brasileira

O professor Luciano Bastos, coordenador executivo do IVIG, Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais, é um dos responsáveis pelo projeto de biodisel, desenvolvido pela UFRJ há cinco anos. Ele dá a sua opinião sobre a importância da adição do biodisel ao diesel tradicional. As pesquisas na Universidade produziram amostras biodiesel com mais de 20 tipos de insumos (óleos vegetais novos e usados, gorduras animais, resíduos industriais e esgoto sanitário). O projeto conta com parcerias de alguns laboratórios da COPPE, da Escola de Química e do Instituto de Química, além da PETROBRAS, de outras empresas e do poder público, como a COMLURB, que já vem realizando testes em alguns dos seus veículos.
Minha opinião é que o Brasil está consertando um erro histórico, já que há mais de 25 anos domina a tecnologia, ainda que a Europa já a utilize há mais de 10 anos.
As pesquisas começaram simultaneamente às do PROÁLCOOL, e os resultados foram satisfatórios. Mas o contra-choque do petróleo, em 1986, que reduziu os preços dos combustíveis fósseis, desestimulou o aproveitamento do biodiesel. Neste momento, os incentivos para a inclusão social poderiam ter sido aplicados, mas somente o álcool conseguiu manter-se no mercado, ainda que tenha sido responsável pelo desabastecimento do final da década. Isto não aconteceria com o biodiesel, uma vez que os motores não precisam ser adaptados.
Outra questão a ser avaliada é o fato do óleo diesel ser o combustível que sustenta o PIB, haja vista que os ônibus que conduzem os trabalhadores e os caminhões que transportam a produção consomem óleo diesel. Isto justifica, inclusive, a menor oneração fiscal sobre este combustível. Enquanto isto, o álcool transporta veículos de passeio, os quais poderiam ter sido relegados a segundo plano sem causar danos ao governo.
Nossa dependência do óleo diesel sempre foi maior que a da gasolina, e a substituição da gasolina por álcool, apesar de saudável para substituir importações e gerar novos mercados para exportação, não reduziu as importações de petróleo para ser refinado aqui, já que continuamos a demandar óleo diesel. Atualmente o Brasil importa 40% do óleo diesel que consome. Destes, 25% são refinados no país
O contra-ponto disto é a exportação do excedente de gasolina a preços inferiores aos praticados no mercado internacional, inclusive daqueles pagos pelo mercado interno, configurando que o Brasil subsidia o consumo de gasolina no exterior, principalmente nos EUA.
Quanto aos benefícios sociais do biodiesel, o principal é que o governo está sinalizando para o incentivo às culturas com maior intensidade de mão-de-obra demandada, a qual pode ser de baixa qualificação profissional e vinculada a programas de agricultura familiar. Isto representará significativa dinamização na economia nacional.
O biodiesel ainda tem três outras vantagens expressivas: reduz a poluição ambiental em níveis locais, regionais e globais, fortalece o desenvolvimento industrial, uma vez que o país detém todo o conhecimento para produzir os equipamentos necessários para as usinas de beneficiamento, e possibilita a reversão do fluxo internacional de capitais. Para tanto, o Brasil, maior país em terras agricultáveis do mundo, precisa escolher qual papel representar no mercado internacional de combustíveis, pois o reflorestamento da área desmatada na borda da Floresta Amazônica com dendê permitiria que produzíssemos, em biodiesel, 30% do consumo mundial de óleo diesel, gerando 10 milhões de empregos.
Assim, entendo que a medida de garantir consumo de biodiesel misturado ao óleo diesel em percentuais crescentes a partir de 2005, iniciando em 2% até atingir 5% em 2010, segundo o relatório do Grupo Interministerial divulgado em janeiro, é uma excelente oportunidade de substituir importações, gerar emprego e renda no campo, incentivar a produção nacional de bens e equipamentos e de receber investimentos decorrentes da redução da poluição global.
Mas esta iniciativa pode (e deve) ser desdobrada em exportação e crescimento exponencial dos benefícios de toda a cadeia da industria nacional dos biocombustíveis, uma vez que o mercado internacional está dobrando a cada dois anos.
No afã desta significativa possibilidade real, é preciso atentar para que o interesse das indústrias internacionais de usinas de biodiesel não inviabilize o mercado interno.

 

 

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