Biodiesel
pode mudar a matriz energética brasileira
O
professor Luciano Bastos, coordenador executivo do IVIG, Instituto
Virtual Internacional de Mudanças Globais, é um dos
responsáveis pelo projeto de biodisel, desenvolvido pela
UFRJ há cinco anos. Ele dá a sua opinião sobre
a importância da adição do biodisel ao diesel
tradicional. As pesquisas na Universidade produziram amostras biodiesel
com mais de 20 tipos de insumos (óleos vegetais novos e usados,
gorduras animais, resíduos industriais e esgoto sanitário).
O projeto conta com parcerias de alguns laboratórios da COPPE,
da Escola de Química e do Instituto de Química, além
da PETROBRAS, de outras empresas e do poder público, como
a COMLURB, que já vem realizando testes em alguns dos seus
veículos.
Minha opinião é que o Brasil está consertando
um erro histórico, já que há mais de 25 anos
domina a tecnologia, ainda que a Europa já a utilize há
mais de 10 anos.
As pesquisas começaram simultaneamente às do PROÁLCOOL,
e os resultados foram satisfatórios. Mas o contra-choque
do petróleo, em 1986, que reduziu os preços dos combustíveis
fósseis, desestimulou o aproveitamento do biodiesel. Neste
momento, os incentivos para a inclusão social poderiam ter
sido aplicados, mas somente o álcool conseguiu manter-se
no mercado, ainda que tenha sido responsável pelo desabastecimento
do final da década. Isto não aconteceria com o biodiesel,
uma vez que os motores não precisam ser adaptados.
Outra questão a ser avaliada é o fato do óleo
diesel ser o combustível que sustenta o PIB, haja vista que
os ônibus que conduzem os trabalhadores e os caminhões
que transportam a produção consomem óleo diesel.
Isto justifica, inclusive, a menor oneração fiscal
sobre este combustível. Enquanto isto, o álcool transporta
veículos de passeio, os quais poderiam ter sido relegados
a segundo plano sem causar danos ao governo.
Nossa dependência do óleo diesel sempre foi maior que
a da gasolina, e a substituição da gasolina por álcool,
apesar de saudável para substituir importações
e gerar novos mercados para exportação, não
reduziu as importações de petróleo para ser
refinado aqui, já que continuamos a demandar óleo
diesel. Atualmente o Brasil importa 40% do óleo diesel que
consome. Destes, 25% são refinados no país
O contra-ponto disto é a exportação do excedente
de gasolina a preços inferiores aos praticados no mercado
internacional, inclusive daqueles pagos pelo mercado interno, configurando
que o Brasil subsidia o consumo de gasolina no exterior, principalmente
nos EUA.
Quanto aos benefícios sociais do biodiesel, o principal é
que o governo está sinalizando para o incentivo às
culturas com maior intensidade de mão-de-obra demandada,
a qual pode ser de baixa qualificação profissional
e vinculada a programas de agricultura familiar. Isto representará
significativa dinamização na economia nacional.
O biodiesel ainda tem três outras vantagens expressivas: reduz
a poluição ambiental em níveis locais, regionais
e globais, fortalece o desenvolvimento industrial, uma vez que o
país detém todo o conhecimento para produzir os equipamentos
necessários para as usinas de beneficiamento, e possibilita
a reversão do fluxo internacional de capitais. Para tanto,
o Brasil, maior país em terras agricultáveis do mundo,
precisa escolher qual papel representar no mercado internacional
de combustíveis, pois o reflorestamento da área desmatada
na borda da Floresta Amazônica com dendê permitiria
que produzíssemos, em biodiesel, 30% do consumo mundial de
óleo diesel, gerando 10 milhões de empregos.
Assim, entendo que a medida de garantir consumo de biodiesel misturado
ao óleo diesel em percentuais crescentes a partir de 2005,
iniciando em 2% até atingir 5% em 2010, segundo o relatório
do Grupo Interministerial divulgado em janeiro, é uma excelente
oportunidade de substituir importações, gerar emprego
e renda no campo, incentivar a produção nacional de
bens e equipamentos e de receber investimentos decorrentes da redução
da poluição global.
Mas esta iniciativa pode (e deve) ser desdobrada em exportação
e crescimento exponencial dos benefícios de toda a cadeia
da industria nacional dos biocombustíveis, uma vez que o
mercado internacional está dobrando a cada dois anos.
No afã desta significativa possibilidade real, é preciso
atentar para que o interesse das indústrias internacionais
de usinas de biodiesel não inviabilize o mercado interno.
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