Olho no Olho

 
06.07.2004  
   

Popular ou populista?

Seguindo a linha dos restaurantes populares, o governo do Estado do Rio de Janeiro criou a Farmácia popular que vende medicamentos e materiais farmacêuticos a R$ 1. A medida atende aos idosos acima de 60 anos com prescrições médicas da rede pública. São oito as farmácias em funcionamento com previsão de implementação de mais seis, divididas entre as cidades do Rio, São Gonçalo, Volta Redonda e Friburgo. O projeto, que garante uma economia de R$ 45 aos idosos, não faz parte de uma política integrada de saúde e se caracteriza como iniciativa isolada do governo, fato criticado por ser considerado assistencialista. Para melhor análise do assunto, convidamos o professor Nélson Souza e Silva da Faculdade de Medicina da UFRJ e Márcia Passos, que leciona na Faculdade de Farmácia, também da UFRJ.

   
       
 

Nélson Souza e Silva
Prof. de Cardiologia da Faculdade de Medicina e diretor do Centro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro

"Essa política das farmácias a um real não resolve o problema da Saúde Pública no Estado. Primeiro porque o dinheiro utilizado para a compra desses medicamentos é público, mesmo que oferecido à população a um real, o que acontece de fato é que o paciente paga duas vezes pelo remédio que utiliza. Outro problema é o lobby das indústrias farmacêuticas na venda dos seus produtos para instituições do governo. Não há controle dos preços dos medicamentos, muito menos da eficácia deles no controle de doenças. É necessário uma pressão do governo para o barateamento dos remédios e não uma política que ao meu ver é populista. A saída é promovermos políticas públicas sérias na área da saúde com o objetivo de incentivar e consolidar uma indústria farmacêutica nacional, com preços acessíveis ao consumidor, além da cota para distribuição gratuita. O trabalho dos genéricos, nesse ponto, foi positivo porque ajudou a área farmacêutica, ainda que continuemos dependentes dos insumos estrangeiros. O trabalho é longo e não pode ser fruto de uma política eleitoreira".

 

Márcia Passos
Prof. da Faculdade de Farmácia e responsável pelo Centro Regional de Informação da UFRJ
.

“Existe uma legislação sanitária em que há uma Relação Nacional de Medicamentos Essenciais, em que estão discriminados os remédios que devem ser distribuídos gratuitamente pelas secretarias municipais de saúde; não vejo a necessidade de cobrança por essas drogas. O município deve se credenciar e conseguir sua leva de medicamentos. Sabemos que esses órgãos públicos carecem de recursos na distribuição dos remédios, mas isso não é motivo para cobrança. É necessário um abastecimento dos almoxarifados, além do fortalecimento dos laboratórios para negociação dessas remessas a menor custo. Temos recursos previstos em lei para assegurar o direito à medicação do cidadão, porém às vezes eles não funcionam. Temos, por exemplo, uma agência nacional que controla os preços junto dos laboratórios. Precisamos estar atentos às políticas públicas para não nos deixarmos envolver por medidas populistas”.

 
 
 
 

 

 

Últimas Matérias
29.06.2004  Novas vagas, greve e plano de carreira
22.06.2004  Novo teste de vacina contra o HIV
08.06.2004  Com projeto e projeção