Ponto de Vista

 
29.06.2004  
   

Atividades de pesquisa e tratamento da tuberculose

O IDT, Instituto de Doenças do Tórax, vai receber uma grande contribuição para o cumprimento de suas metas acadêmicas. A diretoria do BNDES aprovou doação de um milhão e seiscentos mil reais para as atividades de pesquisa em tuberculose do Instituto. A verba possibilitará a alocação do Programa Acadêmico de Tuberculose e todas as suas atividades no sexto andar do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), onde serão construídas áreas administrativas do Programa de Controle de Tuberculose Hospitalar (PCTH) e do Centro de Pesquisa em Tuberculose (CPT), com a unidade de pesquisa clínica e diversos laboratórios.
O professor adjunto da Faculdade de Medicina, diretor adjunto de Pesquisa do IDT e coordenador do Programa Acadêmico de Tuberculose, Afrânio Lineu Kritski esclarece que “muitos dos chamados hospitais universitários, em função de falta de estrutura e déficits orçamentários e fiscais, têm no máximo uma boa assistência médica, mas não têm conseguido cumprir uma meta acadêmica”. Ele destaca a pesquisa e a produção de conhecimento na área da saúde como importante meta acadêmica de um hospital universitário. “Tal meta engloba atendimento aos pacientes, diagnóstico de doenças, tratamentos especializados e também a prática do ensino para alunos da graduação e pós-graduação, mestrado e doutorado”.
“Dentro da estratégia de capacitar o IDT para cumprir sua missão, foi elaborada uma reformulação do regimento interno, a partir da qual a Instituição mudou o seu olhar, se diferenciando de vários hospitais do Brasil, instituindo programas acadêmicos voltados para áreas específicas, como tuberculose, asma, oncopneumologia e transplante de pulmão. O programa acadêmico pode ser comparado a um trem com vários vagões: um vagão de assistência, que diagnostica a doença; um vagão que trata o doente; um outro que auxilia a família e outro que trata do doente internado. A idéia é acoplar mais vagões a esses já existentes, voltados para treinamento em serviço, ensino multidisciplinar e ainda os vagões de pesquisas. Enquanto se presta assistência à sociedade, também se ensine e produza conhecimento”.
A Tuberculose, até a década de 70, era considerada controlada em quase todos os países. Na época, existiam novos medicamentos e estudos controlados em que os doentes eram curados 95% das vezes. Achava-se, portanto, que a tuberculose estaria controlada nos próximos anos, quando ela não estava. A tuberculose continuava sendo problema sério nos países pobres, até por ser uma doença bastante ligada a fatores de falta de saneamento e de políticas públicas de saúde. De acordo com o prof. Afrânio, a década de 80 foi marcada por um empobrecimento mundial e um aumento brutal do número de pessoas nas grandes metrópoles, o que levou à precariedade das condições de moradia e ao declínio do funcionamento do sistema público de saúde em grande parte dos países. “Todo este quadro piorou com o surgimento da AIDS, que fez com que a tuberculose explodisse no final dos anos 80 e continuasse aumentando no mundo todo de forma grave. No Brasil, no início da década de 90, representantes do governo não perceberam que a tuberculose estava aumentando, principalmente nos grandes centros urbanos”.
Na metade dos anos 80, os casos de tuberculose estavam em torno de 80 por cada 100 mil habitantes. Hoje, há em torno de 120 casos da doença por 100 mil habitantes. Aproximadamente, há entre 9 e 10 mil casos de tuberculose no município e em torno de 16 mil no Estado do Rio de Janeiro. No Brasil, esse número varia de 90 a 100 mil casos. O professor explica que mesmo que o bacilo da tuberculose seja igual ao da década de 70, atualmente o hospedeiro, o ser humano, modificou-se. “Agora existem mais pessoas imunodeprimidas, que são os diabéticos, os doentes renais, os pacientes com lupus, com câncer ou AIDS, por exemplo. A imunodepressão os torna mais vulneráveis quando expostos ao bacilo da tuberculose no ar. Diante disto, temos cada vez mais pacientes tuberculosos que são internados devido a outras doenças e os hospitais gerais não têm estrutura para diagnosticar e nem programas específicos para o tratamento da tuberculose com profissionais bem treinados. É esse quadro que procuramos reverter no Hospital Universitário, implantando programas de tuberculose em nível hospitalar”.
A verba repassada pelo BNDES será essencial para melhorar toda a estratégia do Programa Acadêmico de tuberculose do IDT. “Desde 1998 implantamos um programa que, ao mesmo tempo em que o doente é atendido no Hospital, ele é cadastrado e sua família também passa a ser acompanhada e assistida. Quando o paciente não vem, nós cobramos da família e vice-e-versa, criando-se um vínculo entre os pacientes e os profissionais do programa, o que contribui para os bons resultados. Além disso, ao mesmo tempo são realizados vários projetos de pesquisa em disciplinas como medicina, enfermagem, biologia e ciências sociais. Pretendemos ter uma estrutura que possibilite um trabalho transdisciplinar”.
Prof. Afrânio ainda ressalta que o Programa Acadêmico possui três blocos: o programa de tuberculose assistencial, a unidade de pesquisa e seus laboratórios e a pós-graduação de ciências pneumológicas, que coordena as atividades de mestrado e doutorado. “Um Programa Acadêmico precisa ter atividades assistenciais, de ensino e pesquisa trabalhando em conjunto”.

 

 

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