Olho no Olho

 
22.06.2004  
   

Novo Teste de Vacina contra o HIV

O laboratório Merck desenvolveu uma droga que pretende ser a nova vacina contra a AIDS. O projeto de testes é financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA e contará com a participação de 48 voluntários no Brasil, sendo que a metade vive no Rio de Janeiro. O Laboratório de Pesquisa em AIDS do Hospital Clementino Fraga Filho da UFRJ, coordenado pelo professor Mauro Schechter, está recrutando pessoas que querem participar dessa empreitada através do Projeto Praça XI. A primeira fase de testes pretende identificar os efeitos colaterais da medicação.
Em entrevista ao Olhar Virtual, Shechter explica como funciona o processo de testes e as dificuldades a serem superadas pela ciência. Já Sandra Telles, conselheira do Centro de Testagem e Aconselhamento do Hospital Escola São Francisco de Assis (CTA/HESFA) esclarece como é a reação das pessoas que descobrem estar infectadas pelo HIV e qual o impacto dos testes da vacina sobre elas:

   
       
 

Sandra Telles
Assistente social, conselheira do CTA/HESFA

“A reação varia muito de pes-soa para pes-soa. Primeiro, tentam adminis-trar o impacto da notícia com maturidade. Nós esclarece-mos que é possível con-trolar a situação com o tratamento adequado e elas se acalmam. Mas há o segundo estágio, o impacto sobre o cotidiano. O soropositivo é obrigado a mudar seus costumes e seus relacionamentos, por exem-plo. Nessa fase, algumas pessoas conseguem se apegar a elementos que as permite enfrentar o problema de frente, assim como qualquer pessoa afetada por uma doença grave. Por outro lado, existem aquelas que não conseguem se adaptar ao novo estilo de vida e ao próprio tratamento. São, portanto, dois impactos; o imediato e o diluído, que se revela no dia-a-dia. Em relação aos testes de vacinas, devemos considerar que é um dado recente. Há muito o que caminhar, mas é uma perspectiva nova. Para o soropositivo representa a esperança de que no futuro seus parentes e amigos terão mais chances de evitar a doença. Alguns têm a falsa esperança de que possam ser beneficiados pelo surgimento de uma vacina, mas explicamos que a vacina tem a função de previnir e não de combater a doença.”

 

Mauro Schechter
Coord. do Laboratório de Pesquisa em AIDS da UFRJ

“Produzir qualquer droga é um processo longo, complicado e caro. Gasta-se entre 500 milhões a 1 bilhão de dólares na produção de uma vacina. Além disso, é preciso definir com precisão a eficácia da droga, porque qualquer efeito colateral não previsto pode significar sua retirada do mercado. Ou seja, um bilhão de dólares investido em ‘nada’. E essa eficácia depende do número de amostragem. Por exemplo, o Brasil adotou uma vacina para combater a desnutrição infantil. Em dois meses surgiram dois casos de morte, por conta de uma reação adversa. A probabilidade de isso acontecer é de um para cem mil. Resultado: a droga saiu do mercado. No caso do HIV existem outros agravantes. A grande dificuldade de se obter sucesso nessa pesquisa é que nós não conhecemos a parte do vírus a ser combatida – até porque se soubéssemos, não seria preciso teste algum. Essa é a quarta vacina testada no Brasil. Das que já foram testadas, uma já foi descartada, pois é ineficaz. As outras estão em acompanhamento. Esse novo teste durará pelo menos cinco anos. A vacina deve ser administrada em voluntários não infectados pelo HIV. Ele será acom-panhado periodicamente. Quem quiser ser voluntário, deve procurar o Projeto Praça Onze. Infelizmente, não tem outro jeito. É um processo de tentativa e erro. Todas as vacinas foram descobertas dessa forma. Contra o HIV já foram testadas mais de 20, mas até encontrarmos a vacina definitiva vai demorar um pouco.”

 
 
 

 

 

Últimas Matérias
08.06.2004  Com projeto e projeção
01.06.2004  A relação entre estagiários e empresas
25.05.2004  Imagens repulsivas em cigarros