A
relação entre estagiários e empresas
Não há dúvidas de que o estágio é
complementar ao ensino e fundamental para o estudante desenvolver
suas aptidões no contato com a parte prática de sua
área de estudo. Por outro lado, muitas empresas servem-se
do trabalho do estagiário de forma inadequada, exigindo mais
do que devem e assim, prejudicam sua vida acadêmica, pois
o tratam como funcionário comum, porém menos oneroso.
A Lei Federal não disciplina carga horária máxima
para o estágio, mas explicita, entre outras coisas, que ele
não pode prejudicar o desempenho acadêmico. Fica a
cargo da Instituição de Ensino a responsabilidade
de estabelecer a carga horária, no caso da UFRJ, 4h diárias.
Dois professores de cursos que dependem muito da parte prática
para o aprendizado foram convidados para opinar sobre o assunto;
o Coordenador de Estágio e do Escritório Modelo da
Faculdade de Direito, Prof Roberto Monteiro Litrento e a Coordenadora
da Central de Estágio e Orientação Profissional
da FACC (Faculdade de Administração e Ciências
Contábeis), Profª Mª Tereza Coelho Coutinho.
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Prof
Roberto Monteiro Litrento
§ Coordenador de estágio
e do Escritório Modelo da Faculdade de Direito
O
Escritório de Prática Forense, ou Escritório
Modelo, tanto da UFRJ quanto de outras universidades,
tem como objetivo orientar estudantes em suas atividades
do dia-a-dia, fazendo com que lidem com casos concretos,
casos reais. É uma possibilidade de sair da
dimensão da sala de aula e pôr em prática
os conhecimentos adquiridos com o ensino teórico.
Prof Roberto destaca que também há o
objetivo de fazer com que o aluno, ao desenvolver
um contato direto com o trabalho, possa avaliar se
possui realmente aptidão para advocacia e,
além disso, escolher melhor uma área
de especialização profissional.
Quando o aluno procura essa experiência prática
fora da universidade, deve procurar estágios
sérios. “No caso do Direito, os escritórios
podem ser conveniados à Ordem dos Advogados
ou mesmo à própria Universidade. Esses
escritórios também têm a atividade
de aferir se o estágio está sendo aproveitado.
Existem muitas empresas sérias, conveniadas,
que geralmente respeitam a carga horária de
quatro horas diárias do estagiário,
sem prejudicar seus estudos”, explica Prof Roberto.
Por outro lado, ele também acrescenta que existem
empresas que agem de modo antiético, explorando
a mão-de-obra do estagiário. “Essa
exploração é perniciosa e deveria
ser combatida. Muitos estagiários estão
trabalhando sem o amparo que a CLT garante ao trabalhador,
servindo como mão de obra barata. Entretanto,
muitas vezes o estudante sujeita-se a buscar as formas
irregulares de estágio pela remuneração
oferecida, pois tem necessidade de um dinheiro a mais
para custear seus gastos e ajudar a família”.
Todo estudante precisa ter, obrigatoriamente, uma
carga horária mínima de experiência
prática em sua área, para se graduar.
No caso da Faculdade de Direito, o estudante deve
cumprir um plantão semanal de no mínimo
duas horas durante quatro períodos, tanto no
próprio Escritório Modelo quanto em
uma empresa conveniada.
“Entre estagiário e empresa deve haver
uma relação de troca, para que ambos
saiam ganhando. As empresas ganham, principalmente,
ao receber estudantes interessados, empenhados em
se aprimorar e até, quem sabe, vestir a camisa
da própria empresa. O aluno, com certeza, adquire
muita experiência como estagiário, principalmente
se o profissional ao qual ele estiver subordinado
atua como orientador de suas atividades. Muitas vezes
o estagiário é aproveitado para os quadros
da própria empresa, sendo efetivado como um
profissional que foi orientado, desde o início,
dentro daqueles padrões”.
Prof Roberto lamenta que haja empresas somente interessadas
no estagiário como mão-de-obra barata,
mas não como um investimento. Nesse caso, quem
ganha mais é a empresa, pois deixa de pagar
o que deveria, segundo a CLT, a um empregado. São
os direitos que um trabalhador com carteira assinada
tem, e o estagiário não.
Na opinião do professor, “o estagiário
está buscando aprendizado, mas também
auxilia as empresas no dia-a-dia. Eles não
servem apenas para ´empurrar papel´, como
se costuma dizer”. Ele acha lamentável
quando, sob uma aparência de um contrato de
estágio se esconde, na verdade, uma prestação
contínua de trabalho. Ao não assinar
carteira, a empresa dribla o ônus que se tem
com um funcionário regular.
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Profª
Mª Tereza Coelho Coutinho
Coordenadora da Central de Estágio
e Orientação Profissional da FACC
A
Central de Estágio e Orien-tação
Profissional da FACC (Facul-dade de Adminis-tração
e Ciências Contábeis) funcio-na de segunda
à sexta, de 12h às 18h, divulgando ofertas
de estágio relativos à Administração
e Ciências Contábeis e, eventualmente,
à Econo-mia e Psicologia. A Central está
em contato direto com diversas empresas e orienta alunos
quanto ao mercado de trabalho e à elaboração
de currículos, entre outras atividades.
A Coordenadora e Professora Mª Tereza Coelho Coutinho
vê vários problemas na relação
estagiá-rio/empresa atualmente. “Infelizmente,
nos últimos tempos, várias empresas têm
nos aborrecido”.
Ela enxerga um lado perverso no fato de empresas contratarem
os estagiá-rios com o claro objetivo de aproveita-los
como funcionários, tirando bene-fícios
econômicos disso, pois não precisam, por
exemplo, pagar o décimo terceiro salário
e as férias. “As empresas buscam bons alunos,
mas não para atuarem como estagiários,
e sim como funcionários, trabalhando mais do
que a carga horária mínima recomendada
de quatro horas diárias. Muitos chegam a trabalhar
por período integral de oito horas e até
10h ou 12h diárias. Conseqüentemente, o
Coefi-ciente de Rendimento (CR) dos alunos acaba diminuindo
e eles são preju-dicados em sua formação
acadêmi-ca”. Porém, de acordo com
a professora, um dos fatores que mais pesa no fato do
estudante buscar esse tipo de trabalho é a remuneração
oferecida, que, no caso da Admi-nistração
e Ciências Contábeis é alta.
Um aspecto negativo destacado pela Profª Tereza
é o baixo índice de alunos que se formam
e são efetivados. “Quando esperam ter sua
situação regulamentada como funcionários,
eles são dispensados para dar lugar à
contratação de novos estagiários”.
O convênio estabelecido entre empresas e Universidades
tem um valor jurídico e disciplina a carga horária
mínima de 4h diárias, o que não
é respeitado na maioria dos contratos. “Entre
meus alunos, eu sinto que alguns estão tomando
consciência de que não é interessante
trabalhar oito, dez horas diárias, porém,
infelizmente, não temos como fiscalizar isso”.
Profª Tereza ainda destaca que “a demanda
para nossos alunos é grande e bastante variada,
dentro dela há oportunidades muito boas de estágios
interessantes e desafiadores e de empresas que investem
bem nos alunos”. Ela conclui que “o estágio
é muito importante, principalmente se o aluno
tem boas possibilidades de crescimento a partir dele.
Minha única crítica é em relação
às empresas que vêem os alunos como funcionários
e não como estagiários, enquanto que,
sendo pagos como estagiários, quem ganha mais
é a empresa”.
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