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Sebastião
Amoedo
O
hábito tabagista talvez seja a mais estigmatizada
das opções humanas, superando, por sua
maior visibilidade, até mesmo as questões
de sexua-lidade. Tendo como parceiros limítrofes
o álcool e as drogas, ambos altamente glamouri-zados
pela classe média mundial, o tabaco passou a
ser uma espécie de transferência psicótica,
exercendo função exorcizária dos
males, ainda que representando apenas um deles, ou seja
“não combato nem o álcool nem as
drogas, mas censuro o cigarro”, decisão
cômoda e cínica. De uma certa forma os
poderes constituídos dão a sua contribuição
para exacerbar tal aversão, exigindo a veiculação
de imagens antitabagistas .
O cigarro é a resposta a um estímulo,
um prazer, uma opção individual, que ninguém,
nem mesmo aqueles mais próximos e mais amados,
têm o poder de reverter. O cerne dessa questão
pode ainda ser encontrada em nossos valores fundamentais,
de direito individual de escolha, concebidos pela filosofia
cristã medieval ao legar à comunidade
humana o “livre arbítrio”. Ora o
fumante exerce seu direito de opção, tão
pétreo, quanto o direito de ir vir e seus correlatos
constitucionais.
Sim eu também sei: e o direito de quem não
quer fumar? Criamos tal questionamento uma vez que o
cigarro, dentre os hábitos de risco citados –
álcool e drogas – seja o mais invasivo,
pela fumaça, ao acompanhante. O excesso de álcool
pode, no máximo, manifestar-se pela halitose
ou o mau comportamento e, o das drogas, pelo último.
Mas geralmente esses dois apenas nocauteiam o usuário
sem maiores conseqüências. Vai daí
serem socialmente mais aceitos.
Se algum poder público quer de fato exercer uma
função educacional, que tal mudar o discurso?
Primeiramente respeitar quem deseja fumar. Em segundo
lugar orientar a fazê-lo num comportamento politicamente
correto.
Assim sendo que tal mudar as fotografias ridículas
por algo mais produtivo do tipo:
Você tem o direito de fumar, mas não o
de incomodar; só fume em lugares abertos; se
fumar, não beije.
Por último, é sempre bom lembrar que,
se o poder público concentrasse energia para
combater o mercado paralelo de cigarros “piratas”,
que chegam ao mercado sem qualquer controle de qualidade,
obteria uma arrecadação tributária
suficiente para alfabetizar mais de 13 milhões
de pessoas, construir 33 mil creches ou 130 mil ambulatórios.
Fumar, portanto, é um direito inalienável,
desde que não incomode ninguém.
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