UFRJ
discute sistema de cotas étnicas
A reserva de vagas para negros e índios nas universidades
públicas divide opiniões no meio acadêmico.
A UFRJ não é favorável a que se faça
distinção étnica, mas sócio-econômica.
Atualmente, alunos das escolas públicas e privadas competem
por vagas nas instituições de ensino superior sob
os mesmos critérios. Este ano, as regras para o vestibular
devem mudar. O presidente Lula enviou ao Congresso Nacional projeto
de lei que determina a reserva de vagas para alunos que tenham cursado
todo o ensino médio na rede pública.
O professor do Instituto de Química e coordenador do Jovens
Talentos 2, programa de inclusão social do governo estadual,
Cláudio Lopes, elogiou o reitor Aloísio Teixeira,
que propôs ao CEG a reserva de 20% das vagas da UFRJ para
estudantes de escolas públicas, e o presidente Lula pelo
projeto de lei que deverá ser analisado no Senado, ainda
este ano. Contudo, diz que as medidas precisam ser mais discutidas.
Já o professor Luis Antônio Cunha, da Faculdade de
Educação da UFRJ, diz que a reserva de vagas para
negros e índios é um equívoco, por considerá-la
um artifício racista para combater o racismo. O Olhar Virtual
da UFRJ revela a opinião de ambos:
|
|
|
|
|
|
|
|
Luiz
Antônio Cunha
Professor da Faculdade de Educação
“A
adoção de cotas raciais é mais
um ca-pítulo do pro-cesso de americanização
do Brasil. Essa proposta tem na so-ciedade brasi-leira
uma repercussão populista, sendo considerada
uma proposta democrática e, portanto, acrítica.
A UFRJ deve discutir essa questão – e
eu sei que vai. Quero estar presente, assistindo e
participando de uma maneira ativa. O ingresso de alunos
pelo sistema de cotas levanta duas questões:
como são valorizados os negros/pardos? A princípio,
por seu “desvalor”. Há uma inferiorização
do indivíduo definida pela cor da pele. Além
disso, conclui-se que o ensino público está
definitivamente irrecuperável. E, por isso,
esse mecanismo compen-satório se faz necessário,
porque seria a única forma de garantir a igualdade
de oportunidade. São duas observações
que merecem uma reflexão mais ampla e séria.
Os EUA adotaram há alguns anos a reserva de
vagas nas universidades para negros. Mas é
preciso entender que preconceito no Brasil é
dife-rente do praticado pelos norte-americanos. A
primeira diferença é que aqui, os negros
são discri-minados por sua aparência.
Nos EUA, o preconceito é contra a ascensão
social. Outra é que o preconceito é
condenado por nossas leis. Diz-se que as cotas étnicas
– não vou nem falar da confusão
negros/pardos – são para negros, pardos,
ou para quem se acha negro, mas essas, na realidade,
procuram utilizar um instrumento racista contra o
racismo. Nesse momento, esse mecanismo é utilizado
para dar chance de ingresso à universidade
brasileira pública. E o que defendo é
que as universidades públicas devem ter alunos
de todos as origens sociais, étnicas, políticas,
ideológicas e culturais, sem discriminação.”
|
|
|
|
|
Cláudio
Lopes
Coord. do programa da inclusão
social Jovens Talentos e professor do Departamento de
Química da UFRJ
“Um
dos maiores exemplos da desi-gualdade social no Brasil
é o exame de vesti-bular. Uma pes-soa que vem
da rede pública, sem base não pode competir
com quem estudou em escola particular, com todo apoio
possível. Essa questão é complicada,
pois as pessoas já estão acostumadas e
já traçaram atribuições
de mérito. Dizem: “tem que melhorar o ensino
médio como um todo”. Todo mundo sabe disso.
Mas, para que isso aconteça, é preciso
esperar uns 38 anos. O negro brasileiro veio para o
Brasil, construiu o país, permanece fora e ainda
querem que eles esperem mais 38 anos?! Outros prevêem;
“o nível da universidade cairá”.
No programa Jovens Talentos 2, que coordeno, o nível
não caiu e nem subiu. O fato é que se
essas pessoas entram na universidade, aumenta a base
de sustentação econômica, desenvolve
a economia. Por exemplo, hoje, exporta-se minério
de ferro no estado bruto. Com mão-de-obra qualificada
disponível, é possível agregar
valor nesses produtos. Vender café em grão,
mas também cafeína elaborada, como componente
de estimulantes, por exemplo. Na UFRJ, querem reservar
vagas para estudantes de escolas públicas. Acredito
que é preciso considerar, prioritariamente, a
condição sócio-econômica.
Defendo cotas para negros, índios, deficientes
físicos e alunos da rede pública, sendo
considerado como fator principal o corte econômico.
Quando inserem alunos dos CAPs, Pedro II, ou da Federal
de Química, não alcançam as classes
D e E, apenas a classe média. No Jovens Talentos
2, o aluno precisa comprovar que tem renda per capita
de 300 reais. Mas é preciso criar uma política
séria para manutenção desses alunos
(criação de restaurantes populares, ou
bandejões, bolsas, disciplinas instrumentais,
etc). O Brasil precisa mudar, e a universidade é
o lugar propício para o início desse avanço.”
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|