De Olho na Mídia

 
04.05.2004  
   

Erro quase encerra carreira de neneca

Um erro de avaliação médica na jogadora Alessandra, a Neneca, de 16 anos, ocasionou sua desconvocação da seleção brasileira infanto-juvenil feminina de vôlei e, por pouco, não findou a carreira daquela que despontou como promessa na modalidade. O laudo emitido pela Confederação Brasileira de Vôlei afirmou que a atleta é portadora do traço falciforme, que poderia levá-la à morte súbita, mas a característica não provoca doença conhecida por “anemia falciforme”, capaz de privar um indivíduo de praticar esportes profissionalmente.
O desconhecimento sobre as diferenças entre os indivíduos portadores da anemia e o traço falciforme tem levado vários especialistas a tratar o quadro igualmente. No laudo da CBV, o hematologista Wolmar Alcântara Pulcheri escreveu que “há até casos de morte súbita em portadores de traços falciforme submetidos a esforços físicos extenuantes”. O presidente da Câmara Técnica de Anemia Falciforme da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Ivo, contestou enfaticamente às informações do laudo da CBV e salientou que ele “não é verdadeiro”.
“Existe na realidade um mito sobre o traço falciforme. Até hoje recebo pacientes com traço encaminhados por outros médicos como se fossem portadores da doença”, disse Ivo, frisando que não há possibilidade de pessoas desenvolverem a anemia a partir do traço ou deixarem de exercer qualquer tipo de atividade física.
“O laudo da CBV apresenta os sintomas característicos de uma pessoa que tem anemia. E traço é completamente diferente de anemia. Quem tem traço falcêmico no sangue é perfeitamente normal.” Neneca começou a jogar vôlei no Tijuca Tênis Club aos 11 anos. Seu técnico, Júlio Kunz, destacou sua qualidade de saltadora e ofensiva, apesar de sua estatura mediana, 1,73m.
De família humilde, nasceu no morro da Mineira, uma favela no centro do Rio, dominada pelo tráfico de drogas, onde os tiroteios são constantes, e vive com sua mãe, que é diarista, uma tia-avó e duas irmãs.
“Pensei em abandonar a carreira, mas quando cheguei ao Rio e soube que não era grave como me disseram virei logo a página”, contou a oposta Neneca, que foi convocada pela primeira vez este ano.

Michel Castellar – O Estado de S. Paulo
Rio de Janeiro, 30 de abril de 2004

 

 

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