Ponto de Vista

 
20.04.2004  
   

Planejamento urbano

O planejamento urbano é um fator importante para a análise do crescimento do crime organizado no Rio de Janeiro. O professor Carlos Vainer, Diretor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR), fala sobre o assunto ao abordar o conflito entre os modelos de planejamento existentes e os malefícios da adoção do modelo que ele chama de “planejamento competitivo”, cuja conseqüência é a marginalização de grande parte da população carioca, promovendo o aumento da criminalidade.

“Na verdade, existem hoje vários modelos de planejamento. O dominante pensa a cidade quase como uma empresa que concorre no mercado global com outras ‘empresas’. Através de marketing, a cidade oferece uma série de fatores para atrair os capitais, faz a guerra fiscal, por exemplo. Esse planejamento, que recebe muitas vezes o nome de ‘planejamento estratégico’, eu chamo de ‘planejamento competitivo’. Este modelo coloca a cidade a serviço do capital externo e dos turistas. Na verdade, o foco principal é tornar a cidade um lugar atrativo para os de fora, sejam os capitais, sejam os eventos, como o Panamericano ou as Olimpíadas. Esse planejamento segue o modelo neoliberal de planejamento, que vê a cidade como uma empresa competitiva, submetendo-a a regras e normas que acabam aprofundando a desigualdade. Eu costumo dizer que se uma cidade é vista como uma empresa, ela não é uma cidade democrática, pois a idéia de ‘marca’ é incompatível com cidade plural, ao focar uma imagem no que considera atraente, em detrimento da diversidade oferecida pela realidade sócio-cultural. Existe ainda um outro modelo de planejamento que disputa a hegemonia nas cidades. É o planejamento participativo, que ao meu ver é o mais democrático. Este, em vez de excluir, de colocar a cidade a serviço do mercado, inclui, por intermédio de um processo de construção da cidadania, na qual a própria população decide os destinos da sua cidade. Em vez de entregar a cidade nas mãos do homem de marketing, o planejamento fica a cargo de seus cidadãos. Se nós entendermos o planejamento urbano como um instrumento que permite criar um espaço público, coletivo, onde a cidadania pode ser democraticamente discutida, o planejamento passa a ser um instrumento de combate à violência. Pode, pelo menos, impedir que seja proposto como solução o urbanismo policial, onde você transforma as favelas, que já são espaços marginalizados, em verdadeiros ‘guetos murados’.”

 

 

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