Olho no Olho

 
20.04.2004  
   

MST e Governo Lula, delicada relação

O processo de reforma agrária segue em passos lentos no Brasil. O Movimento dos Sem-Terra, principal representante da luta popular no campo, neste mês de abril, invadiu uma fazenda produtiva ao Sul da Bahia. A atitude foi intensamente criticada pela imprensa nacional. Como partido governista, o PT encontra-se em uma situação complicada, pois sempre demonstrou apoio ao MST, mas não pode declarar legítima a invasão de áreas produtivas, porque esse tipo de ocupação contraria as regras legais do processo de redistribuição de terras.
O mês de abril traz à memória da população e, principalmente, dos militantes do MST, o confronto ocorrido entre trabalhadores rurais e a força policial, em El Dourado dos Carajás. Outra diferença entre o atual governo e o passado, em que Fernando Henrique presidiu o país por oito anos, é a forma de contenção das invasões no campo. A repressão, por meio da violência, se fez mais presente na gestão liderada pelo PSDB.
O professor da Escola de Serviço Social, Marcelo Braz, e o Superintendente do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ, Hélio de Mattos Alves, em entrevista ao Olhar Virtual, opinaram sobre a intensificação das invasões e a postura do governo em relação ao MST.

   
   
 
Marcelo Braz
Professor da Escola de Serviço Social

“É preciso distinguir dois aspectos para responder a pergunta. O primeiro refere-se à questão da autonomia do MST, e de qualquer outro movimento social, frente ao governo federal. Faz parte de relações políticas democráticas a demarcação de fronteiras que separam e distinguem movimentos sociais e governos, mesmo em casos de afinidades entre eles. O segundo aspecto diz respeito a posição do governo. O número de assentados no novo governo é vergonhosamente inferior, proporcio-nalmente, ao governo do"desmonte da nação’ – referindo-se à gestão de FHC - cuja política de reforma agrária foi, além de pífia do ponto de vista de assentamentos, marcada pela repressão policial e pela violência dos grupos armados do latifúndio. Assim, penso que o MST cumpre de maneira exemplar seu papel histórico, qual seja: organiza os trabalhadores rurais sem terra que, de maneira politicamente autônoma ao governo, pressiona-o a cumprir seus deveres e promessas quase esquecidas”.
 

Hélio de Mattos
Superintendente do CCS

“Lula foi eleito pela maioria da população brasileira, que espera grandes mudanças. Não podemos deixar de levar em conta a herança maldita que o governo de Fernando Henrique deixou. O governo FHC teve oito anos para fazer a reforma agrária, sendo que o governo Lula, em um ano, também não fez grandes avanços. Mas também temos que entender as grandes dificuldades que enfrenta. Entendo a pressão do MST como um instrumento para cobrar do governo maior agilidade nas desocupações. É importante para que a luta da reforma agrária seja vitoriosa, o apoio de amplos setores da sociedade. Não vejo com carinho a invasão de terras produtivas. As mudanças que queremos no governo Lula serão conseguidas com grandes manifestações populares de rua para pressionar as mudanças no governo.”

 
 
 
 

 

 

Últimas Matérias
13.04.2004  National culture ou cultura nacional?
06.04.2004  Os dois extremos
30.03.2004  UFRJ se prepara para greve