MST
e Governo Lula, delicada relação
O
processo de reforma agrária segue em passos lentos no Brasil.
O Movimento dos Sem-Terra, principal representante da luta popular
no campo, neste mês de abril, invadiu uma fazenda produtiva
ao Sul da Bahia. A atitude foi intensamente criticada pela imprensa
nacional. Como partido governista, o PT encontra-se em uma situação
complicada, pois sempre demonstrou apoio ao MST, mas não
pode declarar legítima a invasão de áreas produtivas,
porque esse tipo de ocupação contraria as regras legais
do processo de redistribuição de terras.
O mês de abril traz à memória da população
e, principalmente, dos militantes do MST, o confronto ocorrido entre
trabalhadores rurais e a força policial, em El Dourado dos
Carajás. Outra diferença entre o atual governo e o
passado, em que Fernando Henrique presidiu o país por oito
anos, é a forma de contenção das invasões
no campo. A repressão, por meio da violência, se fez
mais presente na gestão liderada pelo PSDB.
O professor da Escola de Serviço Social, Marcelo Braz, e
o Superintendente do Centro de Ciências da Saúde da
UFRJ, Hélio de Mattos Alves, em entrevista ao Olhar Virtual,
opinaram sobre a intensificação das invasões
e a postura do governo em relação ao MST.
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Marcelo
Braz
Professor da Escola de Serviço
Social
“É preciso distinguir dois aspectos para
responder a pergunta. O primeiro refere-se à
questão da autonomia do MST, e de qualquer outro
movimento social, frente ao governo federal. Faz parte
de relações políticas democráticas
a demarcação de fronteiras que separam
e distinguem movimentos sociais e governos, mesmo em
casos de afinidades entre eles. O segundo aspecto diz
respeito a posição do governo. O número
de assentados no novo governo é vergonhosamente
inferior, proporcio-nalmente, ao governo do"desmonte
da nação’ – referindo-se à
gestão de FHC - cuja política de reforma
agrária foi, além de pífia do ponto
de vista de assentamentos, marcada pela repressão
policial e pela violência dos grupos armados do
latifúndio. Assim, penso que o MST cumpre de
maneira exemplar seu papel histórico, qual seja:
organiza os trabalhadores rurais sem terra que, de maneira
politicamente autônoma ao governo, pressiona-o
a cumprir seus deveres e promessas quase esquecidas”. |
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Hélio
de Mattos
Superintendente do CCS
“Lula
foi eleito pela maioria da população brasileira,
que espera grandes mudanças. Não podemos
deixar de levar em conta a herança maldita que
o governo de Fernando Henrique deixou. O governo FHC
teve oito anos para fazer a reforma agrária,
sendo que o governo Lula, em um ano, também não
fez grandes avanços. Mas também temos
que entender as grandes dificuldades que enfrenta. Entendo
a pressão do MST como um instrumento para cobrar
do governo maior agilidade nas desocupações.
É importante para que a luta da reforma agrária
seja vitoriosa, o apoio de amplos setores da sociedade.
Não vejo com carinho a invasão de terras
produtivas. As mudanças que queremos no governo
Lula serão conseguidas com grandes manifestações
populares de rua para pressionar as mudanças
no governo.” |
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