Olho no Olho

 
13.04.2004  
   

National Culture ou Cultura Nacional?

Um dos pré-requisitos para se inserir no contexto da globalização e conseguir uma boa vaga no mercado de trabalho é conhecer alguma língua estrangeira, principalmente o inglês. A sociedade capitalista discrimina de forma pouco sutil os que não tiveram acesso ao ensino de outro idioma que, na maioria das vezes, é pago. Um curso de inglês de preço razoável pode custar cerca de R$120 ao mês, correspondente à metade do salário mínimo. O Olhar Virtual convidou dois professores para falar sobre esse assunto.

   
   
 
Prof° Marco Antônio Mello
Chefe do Departamento de Antropologia Cultural do IFCS/UFRJ

“A idéia de alguém ter oportunidade de ser um poliglota sempre se impôs. Na história da Europa Medieval, falavam-se vários dialetos, inclusive o neolatim, que ocupou na época, o mesmo lugar que o inglês ocupa nos dias de hoje. O inglês é a língua do comércio internacional, das relações internacionais, tanto que é muito utilizada por cientistas e empresários.”
Segundo o Professor Mello, o Brasil sempre teve um espírito de “macaquiação” da cultura européia continental. “No início do século XX, até a década de 30, falava-se muito o francês no Brasil. Boêmios e intelectuais se reuniam em locais propícios para a difusão dessa língua. O francês era falado inclusive em prostíbulos. Os próprios anúncios de jornal da época eram, majoritariamente, franceses. Transitar de uma língua para outra não significa destruir sua própria cultura. A adoção de uma língua estrangeira é uma forma de enga-jamento conversacional transfron-teiriço”.
“Começar a fazer essa mudança (por exemplo, ao invés de se falar ‘mouse’, falar rato) é um absurdo”. Para Marco Antônio, não há nada de pernicioso na língua estrangeira; ela é algo paralelo à cultura nacional. Ele acredita que deveríamos aprender no mínimo três línguas e que estas deveriam ser ensinadas nas escolas, assim como a Língua Portuguesa.
 

Professora Aurora Neiva
Depto de Letras Anglo-Germânicas, Setor de Inglês e do Programa Interdisciplinar de Lingüística Aplicada, Faculdade de Letras/UFRJ

“Não há como atuar nos diversos setores da sociedade se você não tiver acesso à tecnologia. Infelizmente nossa língua nativa não é a da divulgação científica. Desde o Império Britânico o inglês é esta língua e, depois da consolidação dos Estados Unidos como potência militar e econômica, isso se perpetuou ainda mais. Isso não vem só de um determinado país, mas de todo o mundo. Quem tem o poder é quem tem o conhecimento. A informação divulgada no mundo se dá em inglês por todos os meios.
À medida que o brasileiro se alia aos seus vizinhos, o espanhol também passa a ser de grande importância pelas oportunidades que este idioma abre. Mas, aprender uma língua estrangeira não significa ser dominado pela sua respectiva cultura. Há quem diga que quem fala um outro idioma deve se aculturar, mas ele deve ser usado como instrumento. O fato de dominar a língua passa a significar domínio social, mas é muito pouco da língua oral que precisamos para crescer como nação. Falar a língua estrangeira corretamente, segundo muitos vêem, é uma atitude, uma mentalidade de povo colonizado. A proposta de aprender uma língua estrangeira é válida para ser usada como instrumento, não para fins de subserviência. A língua é uma das manifestações mais genuínas do ser humano, e é a partir dela que nos constituímos como sujeitos e definimos nossa identidade”.

 
 
 

 

 

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