Ponto de Vista

 
06.04.2004  
   

Até que ponto a UFRJ está em condições de receber alunos deficientes?

Diante das inúmeras dificuldades encontradas por alunos, funcionários e professores portadores de deficiência em transitar pelos vários prédios que compõem a Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Ponto de Vista questiona essas condições e traz uma entrevista com a professora da FAU e coordenadora do Núcleo Pró-Acesso da UFRJ, Regina Cohen, para discutir sobre o problema.
O trabalho realizado por Regina Cohen e Cristiane Duarte é voltado para pesquisas que buscam meios de ampliar e melhorar os acessos dentro da instituição para pessoas com deficiência que estudam ou trabalham nela. “Infelizmente, apesar do caráter inédito e do sucesso da criação de um Núcleo dedicado à inclusão e à acessibilidade de alunos com deficiência, nossa Universidade não está preparada para receber este grupo de alunos, professores ou funcionários em seus espaços de ensino e pesquisa. Quando iniciamos nosso trabalho em 1999, tínhamos em mente propostas para tornar a UFRJ um exemplo em termos de acessibilidade no Brasil. Além da pesquisa e do levantamento das barreiras, pretendíamos implementar o ‘Projeto UFRJ 2000’ que consistia em um conjunto de medidas que fizessem de nossa Universidade a primeira a se dedicar ao assunto, assumindo uma postura pioneira em nosso país”, afirma Regina.
O Núcleo Pró-Acesso, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ (FAU) está vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura (PROARQ) da FAU/UFRJ e vem se dedicando a um trabalho de conscientização e planejamento de espaços voltados para as necessidades de pessoas portadoras de deficiência, além de buscar a integração sócio-espacial destas pessoas e a conscientização também de alunos, pesquisadores e profissionais sobre a importância de um desenho universal que venha a eliminar todo tipo de barreira à acessibilidade.
Quanto aos problemas encontrados dentro da UFRJ, Regina Cohen registra que a ausência de sanitários adaptados para “cadeirantes”, de pisos de alerta para cegos, elevadores sem teclas em braille e sonorizadores que avisam o andar, dentre outros são alguns dos problemas. Entretanto, deixa claro que a pior barreira está na burocracia dentro da instituição e até o preconceito existente no meio acadêmico. “Isso nos chocou, pois acreditávamos que, num meio onde se busca a excelência na produção do conhecimento, as mentes deveriam ser mais abertas e deveria haver uma mentalidade que procurasse atenuar as diferenças... triste ilusão! As minorias continuam a ser segregadas socialmente no âmbito da comunidade acadêmica”, lamenta a professora.
Casos como da Faculdade de Letras, que tem o seu único elevador parado há mais de seis meses, estão esquecidos ou são colocados em últimos pontos na chamada “lista de prioridades” das obras de melhorias físicas da Universidade, o que entristece a coordenadora que previa um sucesso maior no que diz respeito a prática dos resultados de suas pesquisas dentro da instituição. “O estudo e a implementação de soluções que se pretendiam pioneiras têm sido ultrapassadas por outras universidades brasileiras, fazendo com que a UFRJ perca o “bonde” da história, ao deixar, inclusive, de seguir a legislação do Ministério de Educação”, completa Regina Cohen.

 

 

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