Olho no Olho

 
23.03.2004  
   

Uso de embriões para fins terapêuticos: sim ou não?

A clonagem para fins terapêuticos representa grande fonte de esperanças para o tratamento de doenças ainda sem cura. Mas as pesquisas com embriões humanos para esses fins envolvem intermináveis discussões éticas, pois a utilização das células-tronco embrionárias, células que podem se transformar em qualquer tecido humano, implica na morte do embrião. Além disso, ainda existe a questão do destino dado aos embriões preservados e não utilizados pelas clínicas de fertilização. O Dr. Radovan Borojevic, do Departamento de Histologia e Embriologia da UFRJ, e o estudante de medicina da UFRJ Paulo Lima, diretor da ONG Juventude pela Vida, expõem suas opiniões sobre essas questões.

 
 

Dr. Radovan Borojevic
Diretor do programa avançado de Biologia
Celular Aplicada à Medicina da UFRJ

Na opinião do Dr. Radovan Borojevic, a clonagem de embriões hu-manos para fins terapêuti-cos pode ser um avanço. “Toda a comu-nidade científica é contrária à clona-gem humana para fins de reprodu-ção, de geração de novos seres humanos, nós também. No entanto, a clonagem terapêutica é uma possibilidade a ser conside-rada. Ainda é necessário uma pesquisa extremamente longa e complexa para se avaliar os riscos que isso envolve, porque não temos con-dições de avaliar o perigo que essas células podem trazer para o paciente. Contudo, trata-se de uma proposta bastante interessante.”
Quanto ao uso do concepto, o embrião em sua concepção, para pesquisas, o Dr. Radovan é cate-górico em afirmar que oficialmente é fato que a vida começa na fecun-dação e sua destruição seria um atentado, uma vez que o concepto tem o direito à proteção como todos os seres humanos. Porém, o Dr. Radovan lembra das clínicas de fertilização, que acabam por destruir os conceptos que não serão uti-lizados. “É grande o número de conceptos congelados. Eles são conservados, mas depois são descartados, pois o custo para sua manutenção é bastante alto. Deste modo, estes conceptos, ao invés de serem destruídos, podem ser utilizados para fins terapêuticos. Até porque só serão seres humanos se implantados.”

 

Paulo Lima
Estudante de Medicina da UFRJ e Diretor da ONG Juventude pela Vida

Paulo Lima é to-talmente contra a pesquisa com célu-las-tronco embrioná-rias. Para ele, já e-xiste um ser humano desde o momento da fecundação, e por isso a destruição do embrião configura uma forma de assassinato.
"Toda pesquisa com embriões humanos é por si imoral. Porque nenhum fim justifica o meio ilícito. E o meio é ilícito, porque o embrião em sua concepção já é uma vida humana. Então, nada justifica matar uma vida humana para tentar salvar outras. Foi isso que, na verdade, o nazismo fez: experiências que matavam seres humanos pelo bem da ciência."
Paulo não aceita o argumento daqueles que afirmam que o lixo é a única alternativa para os embriões congelados nas clínicas de fertilização, e que por isso, o melhor seria utilizá-los para as pesquisas.
"Toda essa investida da mídia em relação aos embriões já congelados visa a criação de uma grande indústria, porque esses embriões, que geram um gasto tremendo para as clínicas de fecundação artificial, poderiam se traduzir em ganhos através da venda de material para experiências genéticas."

 
 

 

 

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