Olho no Olho

 
16.03.2004  
   

O tratamento da dependência química no PROJAD

O novo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), que será lançado no Instituto de Psiquiatria da UFRJ dia 19 de março, tem como título “Neurociências: consumo e dependência a substâncias psicoativas” e apresenta avanços científicos nesse campo. O relatório aborda, entre outras coisas, as bases neurobiológicas e biocomportamentais do desenvolvimento de dependência de substâncias e as bases genéticas das diferenças individuais de vulnerabilidade, sem deixar de ressaltar os fatores psicológicos e sociais que também devem ser levados em consideração na abordagem do assunto.
Os coordenadores do PROJAD (Programa de Estudos e Assistência ao Uso Indevido de Drogas), o psiquiatra Marcelo Santos Cruz e a psicóloga Salete Ferreira opinam sobre o assunto.

 
 

Dr. Marcelo S. Cruz
Psiquiatra

“O relatório da OMS traz um aspecto muito im-portante para a diminuição do es-tigma, de uma idéia que existe de que a dependência da droga é um problema de caráter e de falta de força de vontade.
“O relatório traz isso a partir dos dados dos avanços no campo das neurociências e da genética, reforçando a idéia de que a dependência das drogas tem um substrato biológico. Existem muitas evidências, hoje em dia, que mostram que há alterações bio-lógicas e algum grau de predisposição genética para o estabelecimento de dependência. O que é preciso ter cuidado é para não ficar restrito a isso. Não é um problema de caráter, é um problema de saúde e não é só um problema biológico. É um problema que tem, na verdade, esses aspectos biológicos, mas tem também os aspectos psicológicos, a história de vida da pessoa e uma questão cultural e social.
“O relatório da OMS ratifica bastante o aspecto biológico do compor-tamento, porém, não deixa de incluir, principalmente na parte das conclusões, a necessidade de se levar em consideração os aspectos psicológicos e sociais. Para Dr. Marcelo, esses dois aspectos podem caminhar lado a lado na busca pelos melhores meios de tratamento da dependência”.

 

Salete Ferreira
Psicóloga

Acredito que a relevância maior do Relatório da Organi-zação Mundial de Saúde é o fato de ele ser representativo de uma interface neces-sária entre o campo da Psiquiatria Biológica e o campo da Saúde Mental, que pensa os usuários de drogas e a assistência dispensada a eles, de forma ampla, no tocante ao rompimento dos laços sociais e a possibilidade de reinserção desses indivíduos na sociedade. O Relatório contribui, em termos de política pública, para avanços na farmacologia, na desconstrução do mito da abstinência e nas avaliações de formas e intensidade de usos. O campo da Psiquiatria procura estar em sintonia com a Farmacologia e com a Saúde Mental.
O PROJAD tem uma abordagem que procura respeitar toda a dimensão psico-social, tenta oferecer leituras diversas sobre a questão dos tratamentos multidisciplinares, partin-do dos vários campos teóricos. A abstinência não deve ser a meta do tratamento. Você deve tratar o paciente que não consegue ficar abstinente, mas que está tendo sucesso na diminuição da intensidade do uso, das formas de uso, minimizando o prejuízo social. É importante que se possa trabalhar desconstruindo o mito da abstinência como a única meta do tratamento e, também oferecer abordagens psíquico-analíticas, compor-tamentais e de tratamento em grupo. O tratamento não se restringe à internação, muitas vezes esta não é necessária.

 

 

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