O
tratamento da dependência química no PROJAD
O novo relatório da Organização Mundial de
Saúde (OMS), que será lançado no Instituto
de Psiquiatria da UFRJ dia 19 de março, tem como título
“Neurociências: consumo e dependência a substâncias
psicoativas” e apresenta avanços científicos
nesse campo. O relatório aborda, entre outras coisas, as
bases neurobiológicas e biocomportamentais do desenvolvimento
de dependência de substâncias e as bases genéticas
das diferenças individuais de vulnerabilidade, sem deixar
de ressaltar os fatores psicológicos e sociais que também
devem ser levados em consideração na abordagem do
assunto.
Os coordenadores do PROJAD (Programa de Estudos e Assistência
ao Uso Indevido de Drogas), o psiquiatra Marcelo Santos Cruz e a
psicóloga Salete Ferreira opinam sobre o assunto.
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Dr.
Marcelo S. Cruz
Psiquiatra
“O
relatório da OMS traz um aspecto muito im-portante
para a diminuição do es-tigma, de uma idéia
que existe de que a dependência da droga é
um problema de caráter e de falta de força
de vontade.
“O relatório traz isso a partir dos dados dos
avanços no campo das neurociências e da genética,
reforçando a idéia de que a dependência
das drogas tem um substrato biológico. Existem muitas
evidências, hoje em dia, que mostram que há
alterações bio-lógicas e algum grau
de predisposição genética para o estabelecimento
de dependência. O que é preciso ter cuidado
é para não ficar restrito a isso. Não
é um problema de caráter, é um problema
de saúde e não é só um problema
biológico. É um problema que tem, na verdade,
esses aspectos biológicos, mas tem também
os aspectos psicológicos, a história de vida
da pessoa e uma questão cultural e social.
“O relatório da OMS ratifica bastante o aspecto
biológico do compor-tamento, porém, não
deixa de incluir, principalmente na parte das conclusões,
a necessidade de se levar em consideração
os aspectos psicológicos e sociais. Para Dr. Marcelo,
esses dois aspectos podem caminhar lado a lado na busca
pelos melhores meios de tratamento da dependência”.
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Salete
Ferreira
Psicóloga
Acredito
que a relevância maior do Relatório da Organi-zação
Mundial de Saúde é o fato de ele ser representativo
de uma interface neces-sária entre o campo da Psiquiatria
Biológica e o campo da Saúde Mental, que
pensa os usuários de drogas e a assistência
dispensada a eles, de forma ampla, no tocante ao rompimento
dos laços sociais e a possibilidade de reinserção
desses indivíduos na sociedade. O Relatório
contribui, em termos de política pública,
para avanços na farmacologia, na desconstrução
do mito da abstinência e nas avaliações
de formas e intensidade de usos. O campo da Psiquiatria
procura estar em sintonia com a Farmacologia e com a Saúde
Mental.
O PROJAD tem uma abordagem que procura respeitar toda
a dimensão psico-social, tenta oferecer leituras
diversas sobre a questão dos tratamentos multidisciplinares,
partin-do dos vários campos teóricos. A
abstinência não deve ser a meta do tratamento.
Você deve tratar o paciente que não consegue
ficar abstinente, mas que está tendo sucesso na
diminuição da intensidade do uso, das formas
de uso, minimizando o prejuízo social. É
importante que se possa trabalhar desconstruindo o mito
da abstinência como a única meta do tratamento
e, também oferecer abordagens psíquico-analíticas,
compor-tamentais e de tratamento em grupo. O tratamento
não se restringe à internação,
muitas vezes esta não é necessária.
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